Invasores

Ertha

– Não acha que anda silencioso demais? – um dos estagiários perguntou em uma das verificações das colônias em Ceres.

Realmente tudo anda silencioso, nenhuma das mensagens enviadas nos últimos meses foi respondida, nenhum sinal de vida...

– Acha que estão mortos? Ou só esqueceram que tem famílias preocupadas nesse mundinho decadente? — Familiares fazem perguntas cada vez mais agressivas.

Cada idiota que entrou na missão de colonização tinha consciência do que poderia acontecer, mandar profissionais e pessoas comuns, transportar sementes, alimento, armas, até mesmo representantes governamentais, tudo aquilo custou mais do que qualquer um imagina.

Não seria a primeira vez que algo deu errado.

Seria mais uma para a conta extensa de "erro eminente", seguiríamos para o próximo pedaço de terra e levaríamos o que sobrou, com mais uma tropa de desesperados que queria fugir da poluição, tudo por um sonho impossível. Dinheiro que poderia ajudar o planeta sendo implantado em projetos suicidas. Mas quem sou eu no processo para reclamar de algo? Recebo meus salários para revisar pautas de reuniões, ouvir pessoas reclamando e acalmar qualquer maluco que ameace atravessar as portas sem autorização.

A pessoa autorizada a ter informações confidenciais, e sorrir mentiras para o público, que orgulho nacional, que brilhante estrela no desenvolvimento cientifi....

– Helena, precisamos de uma transcrição oficial na reunião de hoje, pode me acompanhar?

Claro, você é a próxima vítima, sempre obedeço aos próximos cadáveres.

A reunião era sobre Euryanthe 527, o novo protótipo de vida terrena, metade deserto a outra rocha, com alguns pontos de água vermelha, uma passagem só de ida para um diorama do inferno.

– Podemos começar então – Santiago o chefe da missão tinha chegado com quase uma hora de atraso – Tive alguns problemas no caminho.

As pessoas na longa mesa olharam para mim.

– Vou transcrever a reunião – Não fui convidada oficialmente – seguindo o protocolo de segurança, processo padrão não se lembram?

Algumas cabeças concordaram enquanto eu me sentava na cadeira ao fundo, precisava de descrições completas, usar todo o sistema de leitura para descobrir se algum dos envolvidos se sentia desconfortável. O protocolo de segurança além de garantir que os responsáveis pelos erros sejam punidos severamente, também evita escolhas estupidas – não que colocar 500 pessoas numa nave para colonizar um monte de areia foi a ideia mais inteligente do mundo – mas em teoria o protocolo assegura decisões unanimes, obrigando os que discordarem a exporem suas opiniões até a completa persuasão.

Isso pode levar horas e horas, então deixo a inteligência artificial encher páginas e páginas de descrição enquanto libero o acesso aos arquivos da missão, preocupante é a palavra que descreve todas as teorias que envolvem Euryanthe.

– As pessoas escolhidas foram selecionadas de forma criteriosa, precisamos de civis capacitados psicológica e fisicamente para construir um planeta, e também de profissionais que possam desenvolver estudos do sistema ambiental, e garantir que nossos amigos continuem pacíficos...

Todos começaram a questionar Santiago, nenhum dos velhos teve a capacidade de abrir um arquivo e ler até o final, aposto que se tivessem imagens dos Pyramus eles teriam prestado mais atenção.

– Uma espécie que se assemelha aos repteis e se alimenta de raízes e sementes – sorriu nervoso – Eles foram ao encontro dos nossos primeiros colonizadores, ofereceram uma estadia pacifica em troca de parte do terreno habitável, tivemos conferencias com o comandante deles, e acompanharemos a convivência entre humanos e outros seres todos os dias pelo sistema de segurança instalado no centro da colônia.