Minha cabeça latejava.
Como seria uma ressaca? Estaria eu vivendo o que nunca experimentei? Eu lembro de ter bebido um antitérmico, 2 analgésicos, um comprimido para alergia e uma garrafa de 600ml de coca-cola. Então foi isso, é assim? Seja o que fosse eram 6:45, o sol teimava em não nascer, mas a luz e o som do despertador me perturbavam.
Apertei rapidamente no botão que desligaria aquele som, nunca um ruído foi tão ensurdecedor e um piscar de luzes doeu tanto meus olhos. Me espreguicei. O cansaço me tomava por completo e eu sabia que, sem todos aqueles remédios eu não teria conseguido dormir, foi uma noite e tanto depois do total desprezo da Júlia e um forte mal estar, mas talvez pela carência, tristeza ou a própria febre súbita, que o destino teve compaixão de mim diante de tantas maldições e me levou à farmácia, com uma atendente educada, receptiva e que sabia o que curaria pelo menos a maioria dos meus danos físicos.
Meu cachorro pulava repetidas vezes na tentativa de lamber meu rosto, mas a cama era alta demais para um filhote de 8 meses. Fazia frio e eu sabia que o expediente seria mais longo e preguiçoso, como sempre era em dias assim. O orvalho cobria as janelas, então a melhor opção era um banho quente.
Quente e demorado, só para ver se levava todo o estrago da noite anterior e me permitiria começar um novo dia diferente.
Liguei o adaptador do banheiro ao meu celular, mas as músicas não estavam de acordo ao bom dia que eu planejava me esforçar a ter, então dei uma rápida pesquisada para não correr o risco de ser derrotado por uma música na hora errada.
Nickelback, Nirvana, Coldplay, Sam Smith, Ed Sheeran... Meu aleatório não estava para brincadeira. Cadê aqueles meus sertanejos superação, volta por cima, desprezo total? Marília Mendonça sete da manhã não era o tipo de música para início de dia.
"Ok, preciso rever meu gosto musical pra ontem!"
Escolhi o álbum recente de Muse e me senti mais leve. Algo novo, bom e sem nenhum vestígio sequer de lembranças. Começo com Something Human e era o tipo de música que eu precisava ouvir naquela fase. Um recomeço, o pontapé inicial para a mudança. Dou play, ligo o chuveiro e espero a água fria esquentar para adentrar totalmente no box.
(Dê play em Something Human - Muse)
My circuits have blown
(Meus circuitos foram queimados)I know it's self imposed
(Eu sei que é auto imposto)And all I have shared, and all I have loved
(E tudo que eu compartilhei e tudo que eu amei)Is all I'll ever own
(É tudo que eu sempre terei)But something has changed
(Mas algo mudou)I feel so alive
(Me sinto tão vivo)My life just blew up, I'd give it all up
(Minha vida acabou de explodir, eu desistiria de tudo)I'll depressurize
(Irei despressurizar)Aperto os olhos e fico debaixo do jato de água por longos minutos. Algo realmente mudou na minha vida. Tudo se encaminhava para coisas bem melhores mas eu não tinha a mínima estrutura para realmente lidar bem como aquilo. Só que diferente da música e do que Matthew Belamy cantava, eu não me sentia tão vivo assim. Na verdade, a cena da despedida só se repetia na minha mente e, dia após dia um pedaço de mim que vibrava a vida, acabava morrendo.
Desperto da reflexão quando a música para por conta do celular tocando.
- Quem liga uma hora dessas, meu? - Aperto para atender. - Alô.
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RomanceEla queria o mundo. Ele queria todas. E por mais difícil que possa parecer, encontraram-se. Mas parece que o destino não colaborou muito. Um clichê real demais para ser escrito em uma estação só.