Recomeço (parte 2)

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"Um dia isso tudo aqui ainda será seu, sabia?"

"Eu mal posso esperar e mandar que todos os funcionários lhe chamem de 'senhora' e assistir a sua aclamação diante de todos!"

"Será que estampariam sua foto na capa do jornal como uma das donas da Strategic Company e com o meu sobrenome?"

Aquelas lembranças com o Guilherme vagam pela minha cabeça. As nossas conversas, as minha risadas pelas suas ideias absurdas e até aquele gostinho de "poder" diante do seu pensamento que eu realmente reinaria aquela empresa, que meu nome seria doce por toda cidade enquanto eu passearia em carro italiano conversível. Era engraçado, eu me divertia com a possível ascensão e mais ainda por estar com quem eu tanto amava e admirava, um futuro curto planejado nas madrugadas onde eu dormia em seu colo e acordava na cama; nos finais de semana com massagem nos pés e assistindo "Dr. House"; as tardes que ele me empurrava no balanço e brincava que eu poderia ser até prefeita da cidade, se eu quisesse.

Não era o fato de eu estar no poder e sim de quem me colocara lá! O Guilherme tinha sede de sucesso, de ser reconhecido e ser sempre bem quisto: alguém de bom coração que ajuda o próximo, não quer o mal de ninguém e faz o possível e o impossível para que todos estejam vidrados no homem com as melhores ações que já conheceram.

Cláudio tinha se levantado para atender um telefonema. Mesmo que tivesse ignorado uma porção de vezes porque eu havia chamado a sua atenção por tentar enrolar-me com inúmeros telefonemas, o celular que já tinha um toque curto, ele desligava as chamadas antes mesmo de tocar. Meus pensamentos vagavam no que eu já havia vivido sem ter notado o monstro que estava ao meu lado e naquela família.
Levantei o olhar e vejo Cláudio, que estava de costas cada vez mais afastado, falando alto, gesticulando bastante, com o cenho franzido e me dei conta de que ele não voltaria tão cedo.

Pego meu óculos no bolso externo e procuro uma caneta na bolsa. Após vasculhar bastante, achei e testei na minha mão. Puxei do porta-guardanapo um lenço de papel e montei um esquema com uma possível "árvore genealógica". Risco tudo e amasso o papel, talvez eu estivesse enlouquecendo. Parece um pouco de maluquice, qualquer um que me visse montar um esquema da possível família de outra pessoa pensaria que eu realmente não estava sã ou que eu pertencia ao FBI; só que nenhuma das duas estaria correta.

Olho para o vazio e decido continuar com o meu plano, não seria de todo mal: ajudaria um amigo e eliminaria aquela pulga atrás da minha orelha. Vejo o papel embolado diante de mim e, por teimosia, desamasso e uso o outro lado. O pai do Cláudio traiu sua esposa por anos com uma amante, mas a única forma deles serem primos seria se a amante fosse a cunhada. A questão é que ela não conseguiria manter essa gravidez com tamanha discrição, a família veria e saberia, a não ser que ela dissesse que o filho era do próprio marido. Mas, mesmo se tudo fosse assim... Cláudio e Guilherme seriam irmãos, não primos!

Mas, conjecturando, e se o pai do Cláudio não fosse realmente seu pai biológico?

Minha caneta falha, sacudo bastante e testo mais uma vez em minha mão paraque funcione, mas não dá certo. Faço rabiscos aleatórios para que pegue, mas nada.

 Faço rabiscos aleatórios para que pegue, mas nada

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