Questão de tempo

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Guilherme point of view

4:54
Se eu tivesse ao menos cochilado teria sido por volta de uns 5 ou 10 minutos. Também não largava meu celular, na esperança de receber uma ligação pedindo ajuda ou desculpas, não deixava de tomar café expresso 0 açúcar e correr na esteira do andar de baixo. Mais uma vez amanhecido, a insônia me perturbava há 2 dias consecutivos e as olheiras estavam em um nível que eu já cogitava usar aquelas coisas de mulher, que disfarçava muito bem, por sinal.

Depois de ontem quando eu falei com Cláudio, minha cabeça criava armadilhas, onde eu cairia em todas elas, quer fosse na possibilidade deles estarem tentando um relacionamento, quer fosse em como a Júlia estava bem em não estarmos mais juntos, como ela superou fácil; apesar de eu ter plena consciência de que a minha vida não deve girar em torno dela, que eu deveria seguir facilmente assim como ela havia feito, quanto mais o tempo passava, mais meus sentimentos aumentavam, tanto o amor, como o ciúme pelo que vi, o ódio de Cláudio, por ter dividido minha casa e vida muitas vezes com ele e raiva de mim mesmo, por tê-la deixado ir.

Levanto da cama e pego uma bermuda, cato um tênis embaixo da mesinha e calço, não vou me permitir tornar esse momento mais doloroso do que já é.

Desço as escadas rapidamente, ligo a luz da cozinha e pego uma squeeze na geladeira, é provável demorar hoje.
Ao chegar na esteira me deparo com a zona que eu deixei aquele cômodo, com tantos papéis, toalha em cima do aparelho, camisas usadas no chão e até a TV na parede ligada. A ausência da Ana Júlia estava me enlouquecendo, arisco dizer que até adoecendo, também. Nunca que minha casa esteve essa bagunça desorientada, assim como a minha cabeça.

Me pus a correr com a playlist do Vinícius que é bem pior que um aleatório, mas estava muito pilhado para ainda ir atrás de outra coisa na televisão, então me submeto àquilo. Meu corpo clamava por suor, como se realmente suar levasse as tristezas, dúvidas, raivas, decepções, saudade e eu notei que correr acabou sendo minha válvula de escape; adquiri um vício pior que álcool. Aumento os passos na corrida, que tornam-se extremamente mais rápidos, enquanto mexo no instagram pelo celular e, realmente, parece que me jogaram praga: Só vejo story de casal, meu feed repleto de declarações e fotos melodramáticas, mas essa me pegou na curva. De tão desacreditado, transmiti para a TV.

(Dê play em "Moça do Caixa" - Raffa Torres)

Cláudio F. Castro
@cfcastro

Se eu falar que não foi suborno ela vestir a segunda pele do CR7 e sorrir, todo mundo acredita? Kkkk a mina é LINDA POR DEMAIS!!!!! (depois apago pra não ter briga com o "ídolo" @a-juliasilvac)

fernandol95 e outras pessoas

109 comentários

Aperto repetidas vezes para acelerar a esteira e começo a correr em desespero, jurando que os movimentos rápidos promoveriam esquecimento e aquela imagem seria apagada da minha memória o quanto antes.
Golpe baixo, baixíssimo! Primeiro leva minha ex para comprar bebida, leva para sua casa tarde da noite, coloca roupa dele nela, tira foto e publica?? Cara, eu não consigo mais raciocinar; seja pela grande quantidade de perda de líquido, falta de glicose ou sódio, as imagens começam a borrar, manchas escuras surgem e, por mais que eu queira alcançar a squeeze posta no suporte da própria máquina, ela parece longe demais para mim, então o ar dos pulmões começa a esgotar e sinto que o do quarto também.

Silêncio.

~

Não sei quanto tempo passou até eu estar acordado com extrema dor, com um galo, um corte no supercílio, um arranhão na bochecha, a boca com gosto de sangue e alguns roxos espalhados pelo corpo, como o do meu joelho direito, que é imenso, o latejar parece não ter fim e o corte tão grande, fundo o suficiente para que eu sentisse como se uma faca tivesse caído sobre ele e fazendo o sangue escorrer; apoio para levantar não é tão simples como parece, já que cair por cima do braço foi uma péssima ideia.
Também não sei que horas são, se é possível que tenha ficado horas desmaiado ou acabei sendo vencido pelo cansaço, mas meu despertador já tocava, e mesmo com dificuldade forço para ficar em pé. Levanto da esteira cambaleando sem sentir meu braço direito e sem entender nada sobre o porquê de estar deitado no aparelho em movimento, o alarme me irritava ao ponto de piorar minha dor de cabeça, mas eu não consigo andar mais rápido que isso.
Desligo o alarme, a esteira e em passos lentos a televisão, também. Já são 5:30 e sabendo bem que eu não volto a correr tão cedo hoje, vou arrastando pelas escadas à procura de um banho, assim eu pelo menos faria um curativo, uma bolsa d'água, pomada, anti-inflamatório ou sei lá o que, para o que houve.

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