— Bem, creio que não deva descartar essa possibilidade.— Certo. Vamos supor, então, que eu aceite seu conselho e me case logo, providenciando, assim, a madrasta para Clara…
— Não disse que você deva pensar apenas em sua filha, menino. Fitou-o, séria. É evidente que deve considerar a si mesmo.
— Oh! Quanta generosidade! Que bom que minha opinião ainda vale alguma coisa…
— Não seja mal-educado, Márcio! Camila recolocando o tricô na cestinha em que sempre o trazia. Bem, a campainha do jantar já tocou, e acho que não poderemos continuar esta discussão enquanto comemos.
"Porque o mordomo ouviria tudo", pensou Márcio, um tanto aliviado.
— No entanto, quero que me prometa que vai pensar no que falamos. Camila aceitou o braço que o neto lhe oferecia como apoio.
— Tem minha promessa, vovó. Vou considerar essa idéia com carinho, está bem?
Camila olhou-o nos olhos, percebendo que havia certa ironia naquelas palavras.
— Voltaremos a falar sobre isso, Márcio porto.
Márcio percebeu, sem esforço, que ainda não estaria livre daquele tormento.
Já se aproximava das três horas, e os alunos que estavam presentes ao salão de conferências começavam a mostrar os primeiros sinais de impaciência. Então, no meio do desenvolvimento de uma ideia, o professor pareceu dar-se conta do adiantado da hora.
— Avaliação na semana que vem. Fechou seus livros, que estavam sobre a mesa. Depois do feriado de Ação de Graças.
Os estudantes começaram a se precipitar para a saída, num burburinho familiar a todos. Pérola Mantovani, porém, permaneceu em seu lugar, no canto esquerdo da sala, terminando suas anotações e esperando que a maior parte dos colegas se retirasse. Não gostava de multidões e sabia que, dentro de dois ou três minutos, poderia sair com tranquilidade.
No corredor, uma garota morena esperava por ela, trazendo os livros abraçados junto ao peito. Passou a caminhar ao lado de Pérola e quis saber:
— Tem tempo para tomar um café comigo? Pérola meneou a cabeça.
— Precisarei entrar no serviço daqui à uma hora, Jade. Venha até minha casa comigo, se quiser, e então conversaremos enquanto me troco.
— Está bem, eu vou.
— O que houve Jade? Está com problemas com seu namorado de novo?
— Erico é sempre um grosseirão, você sabe. Mas isso não é novidade. Não posso acreditar que tenha arranjado esse outro emprego, pérola.
— Por que não? Sou esforçada, e, dentro de um mês, estarei livre. Talvez, até, receba um aumento.
— Sei. E mais uma daquelas horríveis máquinas que cheiram a graxa.
— Bem, alguém tem de lidar com as partes engraxadas dos carros, queridinha, ou seu lindo automóvel vermelho não seria seu meio de transporte, mas sim um mero peso de papel.
Jade procurava acelerar os passos para acompanhar a amiga.
— Mas por que esse alguém tem de ser você? Acho que, mesmo que ficasse com as mãos mergulhadas em água e sabão por um ano, não conseguiria tirar essas manchas da pele. Não posso acreditar que ainda não tenha se demitido!
— Meu salário é bom, e o horário de trabalho é compatível com minhas aulas. Além do mais, o que eu iria fazer se não trabalhasse lá? Ser garçonete? Sinto muito, mas prefiro o cheiro de graxa ao de gordura de cozinha. Isso para não falar dos fregueses engraçadinhos…
Mesmo com o comentário, Pérola não pôde evitar a comparação entre os clientes atirados e os trabalhadores da linha de produção. E Jade pareceu ter lido sua mente:
— Os homens ainda a estão perturbando?
— Há ocasiões em que sim. Pérola tirou da bolsa as chaves do apartamento que ocupava, num porão no lado antigo daquele bairro.
— E por que ainda não os denunciou a seus chefes? Jade seguia pérola escada abaixo.
— Isso não adiantaria nada. Seria vista como encrenqueira, e não é o que quero. Pelo menos enquanto estiver cumprindo meu período de experiência. E depois, as coisas que eles me falam ou fazem não são tão agressivas assim, do contrário os supervisores já teriam percebido.
— Pois acho que deveria ir logo à diretoria e denunciá-los, pepe.
— Claro. Deveria chegar ao escritório de Márcio Porto e anunciar que ele tem um grupo de machistas revoltados em sua linha de produção. Tenho certeza de que Porto me promoveria no mesmo instante em vice-presidente da firma e me colocaria como responsável pelo treinamento para sensibilidade de funcionários.
Perola girou a maçaneta. O local parecia estar pior do que nunca, com as roupas de Maria, a amiga com quem dividia as despesas, espalhadas por todos os cantos.Maite olhou ao redor.
— Maria anda saindo com algum policial? Devo dizer que isto aqui parece ter sido revistado numa batida daquelas!
Perola sorriu de leve.
— Não sei nem se fico aborrecida. Os trajes estão espalhados sobre os móveis, mas acho que Maria, pelo menos, tem mais bom gosto para se vestir do que o senhorio para a mobília…
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COISAS DO UNIVERSO (ADAPTAÇÃO)
RomanceSinopse: Ele era um pai solteiro... Ela, a mulher ideal! Márcio porto não tinha problemas em gerenciar um negócio de sucesso, mas, como um bom pai solteiro com uma adorável filhinha de quinze meses de idade, realmente encontrava problemas em lidar...