Pérola olhou para as correções que o homem fizera e, quando ele se afastou, puxou um banquinho alto, para que pudesse visualizar melhor as partes internas. Se ia ter de bancar a babá daquela coisa enorme, pelo menos queria estar confortável para fazê-lo. Um outro rapaz chamou-a e observou:
— Eu também gostaria de poder fazer isso sentado.
Pérola ergueu a cabeça para vê-lo. Quem estava ali não era o funcionário que sempre gostava de tecer comentários desagradáveis. Devia ter sido substituído por aquele que lhe falava agora. Sentiu-se aliviada, embora soubesse que aquele deveria ser um arranjo temporário e que o outro iria estar de volta na noite seguinte.
Apesar do aviso do outro funcionário, a máquina funcionou em perfeitas condições na primeira metade do turno. Pérola colocava as peças necessárias ao alcance das engrenagens de maneira repetitiva, mecânica, pois sua atenção estava longe, não se afastara da palestra à qual estivera presente naquela tarde e na avaliação que faria na semana seguinte.
Faltavam poucos minutos para seu intervalo de descanso quando o maquinário começou a apresentar os problemas que o operário descrevera. Assim, pérola diminuiu seu ritmo, tentando controlar seus movimentos. Em seguida, levantou o visor do capacete para ver melhor o que se passava.
Estava abrindo a parte superior de uma das engrenagens quando o colega do lado sugeriu que coordenassem seus horários de intervalo para poderem ir até seu carro e lá terem uma atividade muito mais agradável do que a que estavam tendo naquele momento…
Pérola ficou tão surpresa e chocada com a objetividade com que ele descreveu o que pretendia que não pôde evitar voltar-se para encará-lo. Naqueles poucos segundos, as fagulhas de metal incandescente produzidas dentro do motor vieram em sua direção, atingindo a parte lateral de seu pescoço.
Perola sentiu o calor muito antes da dor. Com a mão ainda envolta pelas grossas luvas de proteção tocou o local ferido, sentindo a pontada de dor se espalhar por seu corpo, numa intensidade cada vez maior.
O supervisor aproximou-se em alguns segundos…Mantovani! chamou-a, entre contrariado e aflito. íamos completar um mês sem nenhum ferimento na seção, e agora você acaba de estragar tudo!
O responsável por tudo aquilo voltou-se de novo, agora fingindo uma bondade extrema:
— Foi bom eu ter acabado de perguntar sobre sua família, Mantovani. Se não tivesse se voltado para mim, aquele pedaço de metal teria atingido seu rosto em cheio!
Diante da dor que sentia e daquela hipocrisia toda, pérola nada conseguiu dizer.
— E por que abriu seu protetor, afinal? — o supervisor continuava a assediala.
Por trás de pérola veio uma voz grossa, que os fez se voltar:
— Senhores, é melhor tratarmos primeiro do machucado para depois averiguarmos as causas do ocorrido.
Perola já vira Márcio porto antes, uma vez que ele andava pela linha de produção com frequência, embora quase nunca naquele período. Entretanto, jamais estivera assim tão próxima dele.
Notava agora que Márcio era bem mais alto do que lhe parecera antes. Ou talvez fosse o paletó que usava e que o fazia parecer maior e ter ombros tão largos. Era estranho, mas os olhos dele mostravam uma força como a do aço que ela manuseava todos os dias, embora não parecessem tão frios. Sua expressão era severa, apesar de não se poder negar que havia amabilidade nela.
Foi então que pérola percebeu algo muito estranho: o cheiro de óleo naquele ambiente era tão forte que sabia que jamais conseguiria sentir outro odor enquanto estivesse ali dentro. Contudo, mesmo a alguns passos de distância de Márcio, era-lhe possível sentir o perfume que ele usava.
— É melhor ir até a enfermaria agora mesmo, sem perda de tempo. Precisa tratar dessa queimadura. Na verdade, eu mesmo irei até lá com você.
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COISAS DO UNIVERSO (ADAPTAÇÃO)
RomanceSinopse: Ele era um pai solteiro... Ela, a mulher ideal! Márcio porto não tinha problemas em gerenciar um negócio de sucesso, mas, como um bom pai solteiro com uma adorável filhinha de quinze meses de idade, realmente encontrava problemas em lidar...