cap.5

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Pérola gostaria de ter dito que iria sozinha, que não precisava ser levada como alguma espécie de pacote ou encomenda, mas algo a fez calar-se e aceitar com mansidão a companhia do dono da empresa.

Assim que se afastaram das máquinas e o barulho forte foi ficando para trás, pérola retirou os protetores eletrônicos. A ala comercial aparecia diante deles, seu silêncio era tamanho que parecia machucar os tímpanos tanto quanto o ruído infernal de até então.

— Nem mesmo sei onde fica a enfermaria  pérola comentou, sentindo-se um pouco tonta.

— Se essa é sua maneira de me falar que não está acostumada a se ferir no serviço, não precisa se importar em esclarecer nada.  Márcio esboçou um meio sorriso.  Se isso fosse um hábito seu, eu decerto já saberia.

— Não, não é nada disso!  apressou-se a explicar.  o que quero dizer é que a única vez em que estive neste setor da porto foi no dia em que me contrataram.

— E quando foi isso?

— Há dois meses.


Pérola imaginava se, tal qual ela, seu patrão estaria imaginando que ainda faltava um mês de experiência a ser completado. Desse modo, talvez ponderasse que operários que não se dão bem com as máquinas ou que se ferem muito têm grandes chances de serem demitidos nesse ínterim. Sentia-se péssima. Não só quebrara o recorde da seção quanto a acidentes de trabalho como o fizera diante do dono da empresa! Não contente, acabara de demonstrar o quanto era inexperiente.

Uma senhora vestida de branco saiu de uma porta ao final do corredor.

— O supervisor interfonou, avisando que estavam a caminho, sr.  Vamos dar uma olhada nesse ferimento.  Observando a queimadura de perto, a senhora pôde constatar melhor sua gravidade.  Segundo grau… Bem, não é muito grande, mas precisa ser muito bem tratada. Vai doer bastante durante algumas semanas, e talvez deixe uma cicatriz. Entre, querida. Limparei a área e cuidarei disso bem depressa para que não piore.

Ao entrar na enfermaria, a ligeira tontura de pérola piorou, fazendo-a cambalear. Márcio logo a amparou, ajudando-a a aprumar-se.

— Esses sapatos pesados também não colaboram muito, não é?

pérola  queria sorrir, mas estava sentindo muita dor.

— Desculpe-me, não sei como me senti tão fraca de repente. Quanto aos sapatos… não me importo de usá-los. Acredite em mim quando digo que posso operar as máquinas, sr. Porto…

Ele percebia o medo que pérola tinha de ser demitida. Recostou-se a um dos armários e comentou, com a maior naturalidade:

— Achei que iria falar disso.

A enfermeira aproximou-se, interrompendo-o por alguns instantes.

— Vou colocar um antiinflamatório e um medicamento contra bactérias. Doerá um pouco.

A dor aguda que a encheu fez pérola chorar. Márcio porto abriu um dos armários e espiou dentro dele. Se ele estava agindo assim para deixá-la mais à vontade enquanto chorava, ela agradecia pela gentileza.

— Ainda tem antiácidos por aqui, Nadine?

— Na gaveta da direita, sr.  informou, sem deixar de cuidar de pérola com agilidade.

Márcio achou as pastilhas e colocou três delas na palma da mão.

— Sinto muito se estou fazendo seu estômago revirar, senhor.

— No que se refere a minha azia, senhorita, posso garantir que não é páreo para minha avó. A propósito, como é seu nome?

Mais uma vez, pérola se culpava por chamar a atenção dele sobre si mesma.

— Mantovani ….“Pronto! Agora Márcio Porto nunca mais esquecerá meu nome…"

— Poderia me contar o que, exatamente, aconteceu na produção, Pérola?  pediu ele, soando mais incisivo do que tencionara.

Pérola procurou explicar da melhor forma possível o que vira de errado no motor. Enquanto isso, Nadine terminava seu serviço impecável, colocando uma atadura sobre o machucado. Depois, pôs alguns analgésicos num envelope e entregou-o a pérola, dizendo-lhe que deveria voltar à enfermaria dali a dois ou três dias para que ela averiguasse o progresso da cura.

Pérola agradeceu, pegou seus protetores de ouvido, suas luvas e levantou-se, esforçando-se por manter o equilíbrio que a dor forte quase lhe tirara minutos atrás. Afinal, fora apenas vítima de uma queimadura pequena, e precisava voltar ao serviço.

Márcio porto acompanhou-a pelo corredor, mais uma vez. Pérola não o fitava. Por fim, achou melhor dizer algo:

— Foi muito gentil ter ficado comigo, sr. Porto. Obrigada.

COISAS DO UNIVERSO (ADAPTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora