— Sabe de uma coisa? Não entendo você. Trabalha num lugar horrível, estuda como uma louca, mora num buraco…
— jade, por favor…
— Mas é verdade! E detesto pensar que se esforça tanto para ter… isto!
Pérola notava que a indignação de Jade era verdadeira. Mesmo porque havia lágrimas aparecendo aos montes em seus olhos.
— É bom para o espírito que nos mantenhamos sempre ocupados, Jade. E depois, é este o preço que tenho de pagar por não ter feito a faculdade na época certa. Ganhei algum dinheiro ao parar de estudar para trabalhar… mas foi um erro, mesmo assim. Pérola ofereceu a ela uma caixa de lenços de papel.
— Talvez papai pudesse lhe emprestar algum…
— Nem ouse pedir a ele, jade! Mesmo que possa me fazer um empréstimo, seu pai nada tem a ver com minha situação. não vou pedir nada a ninguém, a não ser que tenha alguma boa garantia para oferecer em troca. Olhe, querida, sei que tocou no assunto porque se importa mesmo comigo, mas ficar lembrando meus problemas não fará com que eles desapareçam, sabe? Apenas acabo me sentindo mais triste, e não quero ter autopiedade.
— Você jamais seria capaz de sentir tal coisa. Jase fitou pérola cheia de admiração.
— Que bom que ainda não dá para perceber! Pérola brincou, tentando aliviar o clima que pairava sobre ambas.
Foi até seu minúsculo dormitório, onde colocou a calça velha de brim e a camisa xadrez que costumava usar. Removeu a maquiagem, que, embora leve, iria desaparecer no calor da fábrica, e depois prendeu os cabelos num rabo-de-cavalo no alto da cabeça, pois temia que eles pudessem ficar presos nas engrenagens.
Então, olhando-se no espelho, tentou afastar da memória o que a conversa com jade fizera ressurgir. Não era como se estivesse sendo forçada a viver daquela maneira. Preferira sacrificar seu padrão de vida e estar empregada num local do qual não gostava porque precisava pagar dívidas que contraíra no passado.
Dentro de mais dois anos estaria formada e muito mais qualificada para arranjar um emprego melhor em seu campo de atividade. No entanto, precisava de dinheiro também para os estudos, e tinha consciência de que a situação estava cada vez mais complicada. Era necessário economizar muito agora para poder pagar os últimos estágios da faculdade, que eram os mais caros. Isso significava que teria de continuar lidando com as máquinas da Porto Products por, pelo menos, mais dois anos.
Vinte e quatro meses de barulho ensurdecedor, de graxa e de serviço duro. Vinte e quatro meses ao lado de rapazes que não estavam acostumados a ter mulheres como colegas e que eram, muitas vezes, bastante mal-educados. Seria preciso, até lá, continuar chegando em casa quase à meia-noite, tendo de lidar com os afazeres domésticos inadiáveis e dormindo muito pouco. Esse período iria durar uma eternidade, estava certa disso. Respirou fundo, ainda mirando seu reflexo, e procurou sorrir. Precisava viver dia após dia, com calma e perseverança. E tudo passaria.
A
Porto Products era muito bem iluminada e barulhenta demais, uma vez que, mesmo durante as trocas de turnos, o maquinário permanecia ligado. Ao passar pela fábrica em direção a seu supervisor, pérola já tinha colocado os protetores auditivos eletrônicos, que não eram muito confortáveis, mas que diminuíam sobremaneira os ruídos que tanto mal causavam à saúde, enquanto permitiam que a voz humana fosse ouvida com clareza. Pérola, porém, não gostava muito daquela invenção tecnológica. Seria melhor se usasse os tradicionais, que deixariam no vazio as vozes de seus colegas. Pelo menos de alguns deles, os quais não queria escutar.Chegou a seu posto com um minuto de antecedência, e o homem que operara a máquina no turno do dia deu um passo para o lado, afastando-se.
— Ela está meio maluca hoje, Mantovani advertiu ele. Fiz alguns ajustes, mas continuou atirando os rebites, ao contrário de soltá-los no encaixe correto. Até pensei que, talvez, o aço que estamos usando não seja dos melhores e que o problema não esteja, de fato, na máquina
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COISAS DO UNIVERSO (ADAPTAÇÃO)
عاطفيةSinopse: Ele era um pai solteiro... Ela, a mulher ideal! Márcio porto não tinha problemas em gerenciar um negócio de sucesso, mas, como um bom pai solteiro com uma adorável filhinha de quinze meses de idade, realmente encontrava problemas em lidar...