cap.9

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Márcio retornou trazendo duas canecas fumegantes, nas quais se podia ver o logotipo da empresa.

— Bem, vou explicar melhor minha pergunta, senhorita. Ele tornou a sentar-se.  Direi o começo de tudo: há pouco mais de um ano, minha mulher sofreu um acidente com seu carro, numa rua coberta de gelo, e faleceu. Nossa filhinha, Clara, tinha menos de dois meses quando tudo aconteceu. Clara agora é muito bem cuidada, Além disso, minha avó mudou-se para nossa casa para administrá-la melhor.

Márcio fez uma pequena pausa para beber um gole.

— Na verdade, senhorita, esse está sendo o maior problema. Vovó está convencida de que devo me casar outra vez para que Clara volte a ter uma família. E ela é bastante insistente quanto a isso…

Pérola encarou-o por alguns segundos antes de dizer o que achava

— Sr. Porto, quer mesmo que eu acredite que, com uma empresa deste tamanho e com tanto poder de decisão quanto o que demonstra ter aqui, não consegue dizer a sua avó para que ela cuide da própria vida e o deixe cuidar da sua?

— Ora, mas eu já a fiz entender isso! Porém, vovó é muito persistente. A última ocasião em que falamos sobre o assunto foi há três semanas, mais ou menos. E, desde então, não acho que minha residência seja um lugar muito… digamos… seguro para que eu possa ficar em paz. Será que me entende?

— Sua avó ficou zangada?

— Não. Longe disso. Vovó está determinada e acabou fazendo de minha casa um centro de reuniões sociais. E o interessante desses eventos é que ela apenas convida suas amigas solteiras, com menos de trinta anos e bastante atraentes. Se resolvo ir para lá mais cedo, para brincar por alguns minutos com minha filha, acabo encontrando alguma dessas amiguinhas de minha avó e sou obrigado a ficar em sua companhia.


— É por isso que esteve aqui até tão tarde ontem?

— Isso mesmo. Voltei para casa cedo, mas vi que havia uma moça loira conversando com vovó. Então, girei nos calcanhares de novo, antes que me vissem.

Então, as palavras de Márcio na véspera começaram a fazer sentido. Pérola compreendia o problema dele.

— Como vê, estou numa situação bastante delicada, senhorita. Não posso entrar em meu próprio lar sem ser oferecido numa bandeja a uma mulher que mal conheço. No entanto, desejo muito partilhar momentos que são preciosos com minha filhinha.

— Já pensou em mandar sua avó embora e dizer-lhe que receba suas amigas longe de suas vistas?

Márcio riu, mas não com muito humor.

— Você, de fato, não a conhece, Pérola. O que preciso fazer é dar-lhe aquilo que tanto quer.

— Acho que não estou entendendo. Vai se casar para evitar que sua avó continue tramando para que se case?

— Não. Vou apresentar a vovó a jovem que escolhi para ser a futura madrasta de Clara.

— Continuo confusa.

— Você é perfeita para o papel. Minha avó vai odiá-la.

Pérola fitou-o, muito séria.

— Porque sou muito diferente das outras que ela costuma escolher?

— Exato. Na verdade, vovó vai ficar horrorizada.

Pérola quase conseguia visualizar a velhinha enfurecida por Márcio ter encontrado alguém que fugia a seus padrões.

— E então, depois de algum tempo de farsa, você desmanchará o noivado.

— Acertou de novo, senhorita. E vovó vai ficar tão aliviada, que…

_se sentirá animada a recomeçar a luta. Não vejo como pode imaginar que vá conseguir alguma coisa com essa fantasia, sr. Porto.

— Não, ela não vai recomeçar tudo de novo, porque, assim que perceber até onde sou capaz de ir, não mais se atreverá a me pressionar.

— Está me dizendo que contará a ela que tudo não passou de uma trama?

— É evidente que não! Vovó tem de acreditar que tudo foi real, ou toda a operação não valerá de nada. Isso significa, é claro, que deverá ser você a romper o compromisso.

— Sei, sei. Vou deixá-lo com o coração partido… E isso lhe daria algum tempo, certo?

Márcio ergueu as sobrancelhas, numa expressão de apoio a tais afirmações.

Pérola pensava. Afinal, ele não lhe pedira que criticasse seu plano, apenas que o ajudasse a levá-lo a cabo. Cruzou os braços, imaginando o que o futuro lhe guardava.

— E o que vou ganhar com isso, sr. Porto? Porque, se me disser que meu emprego estará em jogo caso aceite ou não, eu…

Márcio pareceu chocado diante de tal possibilidade.

— Imagine! Isso seria assédio sexual!

— Ah! Que bom saber que alguém nesta firma, enfim, entende o que esse termo significa!  desabafou, quase sem sentir.  Desse modo, o está me oferecendo, sr?

— O que tem em mente? — ele rebateu. Márcio terminou seu café com calma, colocou a caneca sobre a mesa de centro e disse, fria Dinheiro, é claro.

De repente, os olhos dele se tornaram cinzentos como uma tarde de inverno. Afinal, o que esperava, perguntou-se perola, um tanto divertida. Sentia que Márcio acha que ela não era capaz de  frequentar ambientes mais sofisticados. Por que não poderia ser também interesseira?

— E há de ser bastante. Encarou-o, desafiadora, citando uma cifra bastante alta, que o fez engolir em seco e comentar apenas:

— É, sem dúvida, mais do que imaginei.

Pérola não se sentia nem um pouco à vontade com aquela situação, mas a proposta que lhe fora feita não parecia muito honesta, tampouco. Por que não pedir que lhe pagasse bem pelo papel que teria de representar? Márcio porto era muito rico, podia se dar ao luxo de ser generoso

COISAS DO UNIVERSO (ADAPTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora