Tremor (Prólogo parte 2)

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O despertador em meu pulso toca, são cinco da manhã. Abro os olhos, olhando o janelão lá fora.

É estranho, ás vezes espero encontrar aquelas imagens, porque costumo ter sonhos. Não são diários, ou semanais, são como eventos importantes, quase raros. O laboratório diz que é normal, são reflexos de ser um Pintor, ainda carrego boa parte das características ancestrais por conta disso. Pelo menos uma parte maior que os demais.

Coloco os pés para fora da cama, no tapete cinza, me levantando de vez e indo ao banheiro. Em minutos me lavo, me troco, e começo a comer. Certamente a luz deveria atravessar as janelas e aquecer o quarto, mas não é tão útil assim, já que o cômodo possui um climatizador automático.

No Olho as coisas existem por terem alguma utilidade, não para trazer o que chamavam de sensações. Existem porque precisam existir. Tudo é assim, pensando bem.

Vejo a estante, já li todos aqueles livros, e ainda nem é meio de época. Preciso de livros novos, acabo lendo um por dia, enquanto estou no apartamento. Nunca demorei uma hora para banhar, me trocar e comer, além do que, hoje não estou com fome, de novo. Não tenho muito com o que me ocupar. Não tenho uma Televisão.

O muro branco é que vejo da janela, além das árvores de médio porte, padrão em todo o território. Em breve será necessário monitorar o muro, os tremores ás vezes causam problemas.

É o Dia Quatro. Amanhã vou estar disposto o suficiente? Preciso carregar os tijolos. Ás vezes penso demais e fico cansado. Então os pensamentos saem um pouco de órbita.

Tudo possui uma linha, organização, cronograma. E é perfeito assim. Mas me sinto cansado, deveria dormir mais? Não posso, de qualquer forma. São quinze para as seis. O tom cinza claro indica o início do dia. É hora de ir trabalhar. Contagem Um. Minha porta. Meu crachá já está aceso em meu peito. Contagem Dois, a saída do prédio.

_Bom dia.

_Como vai? _É Sunhe. Ela ajuda na limpeza dos ambientes.

_Vou bem. _A resposta automática surge coordenando minha língua para se fazer existir. Eu repito todos os dias, então não preciso pensar para responder. A Espécie é bem educada, porque só assim conseguimos ouvir o Olho e entrar em sintonia, ainda assim mantendo distância do espaço pessoal do outro. Linha reta, curvas perfeitas até chegar ao meu destino. Sem tropeços, esbarrões jamais acontecem. Ordem absoluta.

Porque é natural agora.

Seguro um bocejo, ao chegar ao prédio onde trabalho. Qualquer sinal anormal como esse poderia ser razão para me enviar á checagem. Onde eu seria diagnosticado, medicado até melhorar.

Contagem Três. Pessoas de preto não têm cor, elas não orbitam na mesma linha. Estão deixando seus trabalhos agora. Ninguém pergunta, ninguém comenta. Porque não há com quem comentar.

_Bom dia, Taehyung.

_Bom dia Jungkook.

Entro na sala, observando a tela antes de ligar.

_Dormiu bem? _franzi o cenho ao ouvir essa pergunta. Não era típica. Na realidade, eu nunca tinha ouvido algo assim, falado com essas palavras. Por mais curtas que fosse, era diferente das perguntas generalizadas e respostas mais generalizadas ainda. Há previsão de tremores.

A Espécie não é como os robôs. Não têm nada programado, verdadeiramente, porque ainda assim, é formada por Homo sapiens. Mas certas coisas funcionam como se fossem. A pergunta não é essa.

_Vou bem. _respondo, momentaneamente confuso. Ligo a tela, mas a pergunta dele ainda me incomoda. Talvez ele esteja com problemas no trato respiratório, o tom não me pareceu o de sempre.

NÓS | Jikook [CONCLUÍDA] (BETANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora