Capítulo Único

276 29 8
                                    

Lágrimas.

Muitas lágrimas escorriam por seu rosto enquanto continuava ali sentando em sua cadeira de madeira, apenas observando todos aqueles alunos e até mesmo o professor saírem da sala, como se nada fora do normal estivesse acontecendo, como se não estivesse com a droga de uma caneta atravessando a sua mão, sujando não apenas seu caderno, mas também sua própria roupa – o machucado recém adquirido estava sangrando além da conta.

A pessoa sentada a sua frente apenas ria, como se toda a sua dor não passasse de um entretenimento barato, como se suas lágrimas apenas deixassem a cena ainda mais divertida em sua mente problemática. Poderia já estar familiarizado com aquele tipo de comportamento de seus colegas de classe, mas jamais se acostumaria com as brincadeiras sem graça que sofria.

Limpou as próprias lágrimas com a manga de seu casaco da mão não machucada, antes de finalmente tirar aquela maldita caneta de sua mão direita, em um único puxão – arfando devido a dor que aquele movimento causara –, logo devolvendo a mesma para o dono que ainda o encarava com um sorriso maldoso no rosto.

- Até mesmo seu sangue tem esse cheiro. – Respondeu após cheirar o sangue presente em sua caneta azul – Pode ficar com ela, esse cheiro podre nunca vai sair mesmo. – Adicionou, colocando a caneta em cima da poça de sangue presente em sua mesa, indo embora logo em seguida, deixando-o ali sozinho naquela sala

Pegou a caneta com a mão esquerda, trazendo-a próxima de seu nariz, dando uma pequena fungada, apenas para sentir o cheiro de seu próprio sangue – que com toda certeza possuía um aroma diferente do sangue humano do qual estava acostumado –, apenas para ter certeza do quão fora dos padrões era. Sofria tanto naquele lugar apenas por conta desse maldito cheiro cítrico, dessa característica tão perceptível em seu sangue. Característica essa que só faltava gritar o quão diferente era de todas as outras pessoas que iam a escola consigo.

Em um surto de raiva, jogou aquela caneta para longe de si, vendo-a bater e estourar contra a parede branca do outro lado da sala, rindo em desgosto ao ver que mesmo sendo tão criticado por sua força, ainda sim era forte o suficiente para fazer, ao menos, um mísero estrago.

Ainda com aquele pequeno sorriso em rosto, arrumara do melhor jeito possível aquela bagunça que fizera na sala de aula, arrancando algumas folhas limpas de seu caderno para assim tentar tirar o excesso de sangue de cima de sua carteira e do chão – sem contar as incontáveis folhas que tivera que jogar fora por conta desse exato mesmo motivo.

Demorara alguns bons minutos até estar satisfeito com a sua própria limpeza, sabia que não conseguiria limpar tudo aquilo com perfeição já que lhe faltava alguns elementos básicos para a limpeza, mas fizera o melhor que podia com as suas folhas de caderno. Guardando seu material logo em seguida, indo para a enfermaria para receber os primeiros socorros para seu machucado.

Desviara seu olhar para sua mão machucada, percebendo que a mesma pelo menos parara de sangrar e até mesmo já estava começando a cicatrizar – não na velocidade que consideraria ideal, mas estava até que rápido levando em consideração sua situação. Caso fosse igual seu pai, aquele machucado teria cicatrizado em questão de segundos após a retirada da caneta, mas como era mais fraco, demoraria até mesmo algumas horas para que sua mão voltasse ao normal.

Horas essas que faria questão de não estar em casa, não gostava de explicar o que acontecia consigo para seu pai, sabia que ele não entenderia. No começo, quando entrara naquela maldita escola anos atrás, até mesmo tentara fazer com que seu pai percebesse que aquilo que faziam consigo não era normal, que não era normal crianças de sete anos lhe ameaçarem por causa de seu sangue, mas ele não via o mundo da mesma forma que si.

Sangue Podre / MeanieOnde histórias criam vida. Descubra agora