Chapter Five

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— Senhorita Wright, podemos conversar por alguns instantes? — Mrs. Davis disse logo quando pisei o pé na escola e eu a segui até sua sala.
— Como sabe, você chegou na escola e perdeu um mês e um alguns dias de aula. — Ela disse e eu assenti com a cabeça. — Para recuperar suas faltas, eu sugiro que você faça parte de algumas de nossas atividades extracurriculares. Ainda temos vagas para o clube do teatro, do livro e de cálculos, qual você gostaria de se inscrever?
— A senhora já sabe em qual meu irmão vai se inscrever?
— Seu irmão participa do time de basquete, então não será necessário que ele se inscreva em mais alguma outra atividade. Se me permite opinar, eu acho que você tem um jeitinho de quem atua, sua dicção parece incrível. — Ela respondeu com um sorriso amigável no rosto.
— Eu fazia teatro quando era pequena, mas não sei se ainda levo jeito para isso. — Respondi com um pouco de receio.
— Então vamos fazer um teste. Amanhã se iniciam as audições para a peça de Shakespeare: Romeu e Julieta. Coloque seu nome na inscrição do mural e pegue o roteiro com a senhorita Margot.
— Mas como vou conseguir decorar as falas até amanhã? — Perguntei me sentindo um pouco nervosa.
— É pouquíssima coisa, mas pedirei para um aluno ensaiar com você hoje a tarde, se você estiver livre.
— Estarei livre sim, Mrs. Davis.
— Tudo bem, então. Eu vou pedir para que ele te encontre no palco do teatro às três horas, tudo bem para você?
— Claro! Muito obrigada. — Disse enquanto me levantava.
— Não há de que, querida. Se quiser conversar sobre algo estarei aqui. — Ela respondeu e eu assenti com um sorriso, saindo de sua sala.

A aula de física passou tão devagar que eu quase pedi para ir ao banheiro pra me enfiar lá e voltar apenas quando já tivesse terminado. Assim que essa tortura de aula terminou, me encaminhei para a sala de literatura e me sentei ao lado de James. Ele se ajeitou na cadeira e rasgou um pedaço de papel de seu caderno, escrevendo algo no mesmo. Depois que terminou de escrever, James amassou o papel e o jogou em minha direção. Olhei para ele com as sobrancelhas arqueadas e peguei o papel, que havia caído no chão.
"Quer ir para algum lugar hoje mais tarde?"
Ele só podia estar de brincadeira comigo.
"Só se você não furar."
Escrevi no papel e amassei, jogando para ele logo em seguida. Ele abriu o papel, deu uma pequena risada enquanto lia e escreveu novamente, jogando-o para mim.
"Não me diga que você levou para o coração?"
— James e Madison, já que vocês estão sabendo tudo da matéria para não prestarem atenção, quero que um de vocês venham ler o poema de William Shakespeare que eu estava explicando. — O professor de literatura disse chamando nossa atenção.
— Foi tudo minha culpa, Sr. Blake. Eu leio o poema. — James disse se levantando e andando até a frente da sala.
— Leia a partir daqui. — Blake disse entregando um papel para James.
Não chame o meu amor de idolatria
Nem de ídolo realce a quem eu amo,
Pois todo o meu cantar a um só se alia,
E de uma só maneira eu o proclamo. — James começou a ler e fez vários suspiros apaixonados de garotas surgirem.
É hoje e sempre o meu amor galante,
Inalterável, em grande excelência;
Por isso a minha rima é tão constante
A uma só coisa e exclui a diferença.
'Beleza, Bem, Verdade', — Ele disse gesticulando com as mãos. — eis o que exprimo;
'Beleza, Bem, Verdade', todo o acento;
E em tal mudança está tudo o que primo,
Em um, três temas, de amplo movimento.
'Beleza, Bem, Verdade' sós, outrora;
Num mesmo ser vivem juntos agora. — Terminou de ler recebendo aplausos de toda a sala, inclusive do professor.
— Muito bem, James Butler. Com toda essa performance você vai acabar lendo todos os poemas românticos até o final do semestre. — O professor disse enquanto James se sentava em seu lugar.
— Muitíssimo obrigado, professor. — Ele falou convencido. — E aí, fala se eu não sou o próprio Shakespeare. — Disse piscando para mim e eu apenas ri, revirando os olhos, resposta.
A aula de literatura terminou e eu fui para o corredor principal, onde ficavam os armários, para colocar meu nome na lista do clube do teatro. Encarei a lista por alguns segundos tento uma enorme nostalgia da época que o teatro era a melhor coisa da minha vida. Eu quase sempre pegava o papel principal. Mamãe e papai iam em toda as peças que eu fazia. Na verdade, nós tínhamos um pequeno ritual. Antes de todas as peças, nós comíamos em uma lanchonete tema anos 80 que ficava na esquina de casa. Peter nem era nascido nessa época. Nós éramos tão felizes. Eu podia jurar que aquilo duraria para sempre. Mas não durou. Espantei meus pensamentos e, rapidamente, assinei meu nome na lista e fui direto para o refeitório. Como já estava no horário de almoço, peguei minha comida e fui me sentar na mesa que eu e as meninas definimos como nossa. Chloe e Amber estavam comentando sobre alguma coisa que aconteceu hoje com um garoto X e eu nem fiz questão de entrar no assunto.
— Ele simplesmente saiu fora e nem deu satisfação para ninguém! — Amber dizia enquanto colocava uma garfada de purê na boca.
— E o professor? — Chloe perguntou abismada.
— Ficou tão indignado como todos nós.
— Mas e voce, Maddie? — Chloe perguntou jogando um pedaço de papel em minha direção para chamar minha atenção.
— Eu o que? — Respondi jogando o papel de volta.
— Como foi seu dia?
— Ah nada fora do normal. — Respondi e logo me lembrei de que não havia contado para as meninas sobre o clube do teatro. — Vou entrar para o clube do teatro.
— Sério? — As duas perguntaram parecendo entediadas.
— Sim. — Respondi soltando um suspiro. — A Mrs. Davis disse que eu teria que me inscrever em alguma atividade extracurricular para compensar o tempo que eu perdi de aula.
— E você pretende atuar como papel principal em alguma peça? — Amber perguntou.
—Não sei ainda, amanhã terá o primeiro teste para Romeu e Julieta. — Disse sentindo a ansiedade surgindo. — Acho que não conseguirei o papel principal ainda, é muito recente.
— Eu acredito muito no seu potencial, acho que você coloca aquelas meninas do clube do teatro pra comer poeira. — Chloe se manifestou enquanto retocava seu batom.
— Eu espero mesmo. — Respondi soltando um riso. — Inclusive, a Mrs. Davis mandou um menino para me ajudar a decorar as falas. Vamos estudar hoje à tarde.
— Será que ele é gato? — Amber perguntou com um sorriso safado.
— Acho que não né, o cara tá no clube do teatro. — Chloe respondeu.
— Que preconceito é esse? — Respondi rindo enquanto me levantava.
— Ah sei lá, nunca conheci um cara gato que faz teatro.
— O Troy Bolton fazia teatro. — Amber disse se levantando também.
— Tá, tudo bem. Mas eu duvido que ele seja gato. — Chloe disse enquanto deixava sua bandeja no balcão.
— Vamos fazer uma aposta então. — Amber disse esticando a mão e Chloe apertou a mesma revirando os olhos.
— Vocês duas são ridículas. — Disse rindo. — Agora vamos, estamos quase atrasadas.
— Quase atrasadas? Eu estou SUPER atrasada. — Amber disse pegando sua mochila apressadamente após olhar o horário. — Minha aula é no prédio B.
— Boa sorte. — Eu e Chloe dissemos em uníssono e Amber agradeceu correndo em direção a saída.
Por sorte, Chloe e eu tínhamos as mesmas aulas na parte da tarde, Inglês e sociologia. Eu adorava quando tínhamos as mesmas aulas e ficávamos nas mesmas salas. Depois que as aulas acabaram, me despedi de Chloe e me direcionei para o teatro. Quando cheguei, as luzes da plateia estavam todas apagadas e apenas a luz do palco estava acessa. Me encaminhei em direção ao palco e me sentei no chão para esperar o garoto que iria me ajudar a decorar as falas. Comecei a mexer no celular para passar o tempo e logo o garoto chegou.
— Me desculpe pelo atraso. — Ele disse enquanto se aproximava do palco.
— Tudo bem, cheguei faz pouco tempo. — Respondi me levantando ainda sem conseguir enxergar seu rosto por conta da falta de iluminação.
— Ah não, espera aí. — Ele disse parando. — Garota do laboratório?
— Mauricinho, sempre correndo para me salvar. — Respondi sorrindo e ele abriu um sorriso como resposta.
— Por que não acendeu as luzes? Queria ter um ensaio a luz de velas comigo? — Ele perguntou acendendo as luzes do teatro.
— Mas é claro, nunca ficou na cara que eu sou secretamente apaixonada por você? — Respondi em um tom irônico.
— Eu imaginava, mas não queria fazer você ficar envergonhada. — Harley disse pegando dois roteiros de sua mochila.
— Mas então, Harley Bennett, teatro?
— Comecei a fazer para compensar as péssimas notas que eu estava tendo no começo do ano. — Ele disse me entregando o roteiro. — Até que é legal.
— Você vai fazer o Romeu? — Perguntei dando uma breve lida enquanto ele terminava de organizar suas coisas em sua mochila.
— Só se você for a Julieta. — Ele disse sorrindo. — Vamos começar?
— Claro. — Respondi e ele começou a ler sua primeira fala.
O ensaio durou cerca de uma hora e meia e no final eu já estava me sentindo confiante para os testes de amanhã. Harley e eu tínhamos uma sintonia absurda para ser Romeu e Julieta e eu espero que a professora Margot perceba isso. Assim que terminamos, Harley e eu fomos em direção ao refeitório e pegamos algumas coisas para matar nossa fome.
— Sério, isso aqui tá muito bom. — Ele disse com a boca cheia enquanto colocava outra garfada de waffles com cobertura de caramelo na boca. — Você tem que provar.
— Eu prefiro continuar bebendo meu suco de laranja NUTRITIVO, você tem noção do tanto de calorias que tem nisso? — Disse e ele me encarou como se eu fosse louca.
— Não, mas você tem noção o quão isso é delicioso? — Perguntou enfiando outra garfada e eu não pude evitar soltar uma gargalhada.
— Está parecendo que você não comeu nada nas últimas três semanas.
— Realmente, não comi nada tão gostoso nas últimas três semanas. — Ele disse terminando de comer e se levantando.
— Muito obrigada por hoje, Harley. Não conseguiria decorar nem um pouquinho se não fosse por um Daniel Radcliffe como você. — Respondi me levantando.
— Não há de que, Madison Wright . — Ele disse com um sorriso sem mostrar os dentes.
— Te vejo amanhã. — Respondi me virando em direção a saída.
— A propósito... — Ele disse chamando minha atenção. — Daniel Radcliffe foi uma ótima comparação, mas eu sinto eu sou um pouquinho melhor.
— Vai sonhando. — Falei enquanto me virava para ir embora de novo e pude ouvir sua risada abafada.

É, Amber... definitivamente você ganhou a aposta.

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