Chapter Twelve

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Acordei com os raios de sol batendo em meu rosto e fiquei irritada por ter esquecido de fechar as cortinas ontem a noite. Olhei o horário no relógio que estava em meu criado mudo e ainda faltavam duas horas para o meu despertador tocar para a escola. Pela primeira vez na vida tomei coragem e fui correr na rua. Definitivamente, isso não era o tipo de coisa que eu fazia. Não mesmo. Mas hoje, eu estava disposta. Precisava de um tempo para pensar em algumas coisas e precisava de um tempo comigo mesma. Fui até o banheiro, fiz minha higiene matinal e depois fui até o closet para escolher alguma roupa confortável. Coloquei um shorts preto e uma regata também preta. Quando desci, Catherine estava preparando o café da manhã e se assustou ao se deparar comigo prendendo o cabelo na sala de estar.
— Bom dia, Maddie. O que faz acordada? Faltam algumas horas ainda, o relógio está errado? — Perguntou preocupada.
— Bom dia, Catherine. — Respondi rindo. — Não, eu acordei mais cedo e resolvi sair para fazer uma caminhada.
— Ah, sim. Entendi. — Ela disse dando um sorriso. — Você quer comer algo antes de sair? Estou fazendo panquecas.
— Que delicia!!! Eu como quando voltar, não gosto de comer muito cedo.
— Tudo bem, então. Boa caminhada! Guardarei algumas para você.
— Obrigada, Catherine. — Respondi sorrindo e sai de casa.
Liguei o meu relógio para calcular o tempo e a distância que eu iria correr e comecei a dar passos rápidos até me acostumar a correr verdadeiramente. Como eu estava meio sedentária, demorou um pouco para eu pegar o ritmo, mas consegui. Estava há alguns metros de casa quando escutei alguém me chamando. Parei de correr, tirei os fones de ouvido e olhei ao redor da rua procurando de onde haviam me chamado. Olhei para trás e sorri surpresa ao perceber que era Harley. Ele estava sentado na escada de uma casa, com um caderninho em suas mãos.
— E aí, Harley Bennett? O que faz acordado tão cedo? — Perguntei respirando fundo para tomar o fôlego.
— Sei lá, acordei com o nascer do sol e resolvi vir aqui para fora. — Ele respondeu e eu sorri pela coincidência de termos acordado pelo mesmo motivo. — E você, Julieta? Pelo o que eu te conheço nesse tempo, você não tem cara de quem acorda cedinho para dar uma "corridinha matinal". — Disse fazendo aspas com as mãos.
— Não entendi esses diminutivos. — Respondi cruzando os braços fingindo estar ofendida. — Eu acordei inspirada hoje. — Disse bebendo um gole de água de minha garrafinha.
— Teve uma noite boa? — Perguntou e eu engasguei com a água.
— Como? — Perguntei em meio as tosses.
— Ei, calma. — Ele disse se levantando e dando umas leves batidas em minhas costas. — Está tudo bem?
— Sim. — Respondi depois de alguns instantes após me recuperar. — A água... entrou pelo lugar errado.
— É, eu percebi. — Respondeu soltando uma risada abafada, se sentando na escada novamente.
— E então, o que você faz com esse caderninho? — Perguntei sentando-me ao seu lado.
— É meio que meu ponto de fuga. Escrevo poemas, músicas... algumas coisas assim. — Falou dando os ombros.
— O que???? Eu posso ver? — Perguntei animada.
— Quem sabe um dia. — Respondeu com as sobrancelhas arqueadas e um sorrisinho falso.
— Poxa, Harley. Vai me deixar curiosa?
— Sim, senhorita. Agora, se eu fosse você, eu iria para casa. Já são sete e meia. — Ele disse quando o meu relógio apitou.
— Ok, você se safou dessa vez, mas eu continuarei de infernizando até você me mostrar pelo menos uma páginazinha. — Falei me levantando e ele ergueu as sobrancelhas com um sorriso.
— Te vejo na escola. — Falou.
— Até lá. — Respondi e me virei voltando a correr em direção a minha casa.
Eu ficava abismada em como eu e Harley nos dávamos bem. Digo, não tenho nenhum interesse além de amizade, mas nós dois formamos uma boa dupla. Desde o começo ele foi tão receptivo e gentil. Além disso, ele me ajudou a voltar para o teatro, algo que eu nunca me imaginaria fazendo novamente.
Cheguei em casa e fui tomar uma ducha rápida. Tyler e Peter já estavam tomando o café da manhã quando eu desci com a toalha na cabeça apertando meus fios de cabelo úmidos para que secassem rapidamente.
— Não tem uma vez que a senhora não atrasa, não é? — Tyler perguntou enquanto eu me sentava na mesa colocando algumas panquecas que Catherine havia feito no prato.
— Eu acordei super cedo, tá? Só me atrasei porque perdi a hora conversando com o Harley.
— Harley? — Ele perguntou com as sobrancelhas arqueadas.
— Sim, algum problema? — Perguntei jogando calda de chocolate nas panquecas.
— Nenhum, só acho que vocês estão bem próximos...
— Quando alguém te faz uma pergunta e você responde negativamente, não precisa dar continuidade ao assunto como se estivesse respondido afirmativamente. E outra coisa, eu apenas encontrei ele na rua e paramos para conversar.
— Tudo bem, tudo bem. — Disse erguendo as mãos. — Você está muito nervosinha.
— Se você disser que é TPM vai estar sendo um machista de merda e eu serei obrigada a te socar. — Respondi e Peter cobriu a boca com a mão, arregalando os olhos, chocado.
— Bom dia, para os dois. — Papai disse se sentando na mesa, interrompendo nossa briguinha. — E para você também, pequeno.
— Bom dia, papai. — Peter disse sorrindo.
— Que milagre é esse? — Tyler perguntou enfiando um grande pedaço de panqueca na boca.
— Como? — Papai perguntou colocando um pouco de café em uma xícara.
— Ué, você se sentando para comer conosco é algo surpreendente. — Respondeu.
— Tyler, para! — Peter pediu emburrado.
*Coloquem a música To Build a Home do The Cinematic Orchestra com Patrick Watson e ouçam até o final!!!*
— Eu vou fingir que você não disse nada. — Papai disse sem olhar para Tyler, que se levantou, pegou sua mochila e saiu pela porta dos fundos.
— Meu Deus, o que é que está acontecendo com vocês hoje? — Peter perguntou se levantando e indo para fora esperar o ônibus de sua escola na porta. Papai soltou um suspiro triste e bebeu um gole de seu café.
— Sabe, eu sei que não tenho sido um pai presente. — Ele começou a falar sem olhar para mim. — Eu sei que todos passamos por um momento difícil e sei que nossa mudança também não foi fácil, mas eu juro, por tudo que é mais sagrado, que eu tento. Eu tento, todos os dias, ser um pai melhor. Eu tento ser o homem que sua mãe amou. — Ele disse dando um longo suspiro e eu senti uma pontada em meu coração, realmente não queria ter aquele tipo de conversa agora. — E eu sei que vocês sofreram tanto quanto eu, mas o meu maior medo é passar a minha tristeza de todos os dias para vocês. Meu maior medo é vocês perceberem que eu não superei nem um pouco o que aconteceu e se entristecerem por isso.
— Pai... — Comecei a dizer e ele levantou a cabeça.
— Não precisa falar nada, Maddie. Eu só quero que você e seus irmãos reconheçam que eu ainda os amo com toda a parte do meu coração que restou.
— Nós também te amamos, muito. Mas sentimos sua falta na mesma proporção. Você não precisa se fazer de forte e fingir que está tudo bem por nossa causa. Nós sabemos o quanto você sofre e sabemos o quanto sofremos por isso também,  não podemos nos separar por esse motivo. Nós todos juntos somos muito mais fortes do que separados e você deveria saber disso. Você não é um pai ruim por se afastar e eu entendo seu medo de nos deixar triste, porém, o que mais nos deixa triste é não poder ter nosso pai quando mais precisamos. — Respondi e ele concordou com a cabeça, com os olhos cheios de lágrimas.
— Tudo bem, Maddie. Agora, vá. Você já está quase atrasada. Podemos conversar depois. — Ele disse e eu me levantei indo em sua direção para dar um curto abraço. Dei um último sorriso para meu pai e sai de casa, encontrando Tyler sentado na escada da frente.
— Você ouviu? — Perguntei me sentando ao seu lado.
— Sim. — Ele respondeu abaixando a cabeça.
— Sabe, nós podemos matar aula e fazer aquela programação que fazíamos quando éramos menores, o que acha? — Perguntei com um sorriso e ele assentiu com os olhos marejados.
Esperamos o papai sair de casa escondidos no quintal e colocamos nossas mochilas lá dentro, tomando cuidado para que a Catherine não nos visse. Pegamos nossas antigas bicicletas que estavam em um armário da garagem e pedalamos pela cidade em busca de algumas atividades. Como morávamos em Boston quando fazíamos esse tipo de coisa, foi difícil achar algo parecido em Nova Iorque, então, simplesmente, reinventamos a programação. Começamos indo para um parque local que ficava um pouco afastado de casa. Ele estava quase vazio, para nossa sorte, não lotava em dias de semana. Fomos em milhares de brinquedos e ganhamos vários bichinhos. Não sei como faríamos para escondê-los de nosso pai na nossa chegada, mas eu não estava nem um pouco preocupada com isso. Ver Tyler feliz, rindo, valia a pena por qualquer bronca que fôssemos levar. Eu havia me esquecido de como éramos próximos, de como nossa relação era forte e de como animávamos um ao outro. Paramos em um quiosque de sorvete e pedimos duas casquinhas de choco-menta. É o nosso favorito. Sentamos em um banco que ficava ao lado do quiosque para tomarmos nosso sorvete e aproveitarmos o momento. Ficamos bastante tempo em silêncio, mas não era nem um pouco constrangedor. Nós dois estávamos felizes e não precisávamos dizer um para o outro para sabermos.
Como passamos bastante tempo no parque, não havia mais tempo para fazermos outras coisas e resolvemos ir para casa. Estava quase escurecendo quando chegamos. Por sorte, papai ainda estava no trabalho, porém Catherine nos esperava com os braços cruzados sentada no sofá.
— Será que eu posso saber onde vocês dois estavam? — Perguntou se levantando. — O colégio ligou para avisar que vocês não foram, sorte que foi eu quem atendi!
— Me desculpe, Catherine... precisávamos de um momento...— Tyler começou a se explicar.
— Foi tudo culpa minha, eu que sugeri. — Interrompi.
— Onde vocês estavam? — Perguntou novamente.
— Fomos até o parque de diversões que fica do lado Sul...
— Olha, eu não vou contar para o pai de vocês pois sei que vocês tiveram uma conversa dura com ele hoje mais cedo e sei também que foi por esse motivo que vocês tiraram esse "dia livre". — Ela disse fazendo aspas com as mãos. — Mas vocês não podem sair assim sem avisar ninguém. Se tivesse acontecido algo com vocês eu nem consigo imaginar...
— Catherine, nós te amamos. — Tyler disse e correu para abraça-la.
— Também amo vocês, DESSA VEZ estão perdoados. — Ela disse sorrindo e nós agradecemos uma última vez até subirmos para nossos respectivos quartos.
— Ei, Maddie. — Tyler disse me chamando da porta de seu quarto. — Você é uma otária, mas eu te amo. Obrigado por hoje.
— Eu te amo também, seu bobão. — Respondi sorrindo com o coração quentinho e entrei em meu quarto, fechando a porta logo em seguida.

Peguei meu celular e vi que haviam algumas mensagens de James e das meninas, percebendo que eu tinha esquecido de avisá-los que não iria para a aula. Mandei uma mensagem para cara um explicando o motivo por eu ter faltado.  Depois de fazer isso, fui até o banheiro e tomei um banho rápido. Já estava quase na hora do jantar e eu não queria me atrasar. Fui até o meu closet e coloquei uma roupa qualquer para ficar em casa e desci até a sala de jantar, avistando Tyler e Peter brincando no sofá. Me sentei na mesa e peguei meu celular novamente, atendendo a uma chamada de James.
"E aí, como você está?" Perguntou enquanto eu me encaminhava a área externa de casa para me deitar na rede.
— Muito bem, e você?
"Estou muito bem também... Eu... Bom, eu só queria te dizer que ontem foi muito bom e muito especial. Não te disse antes pois pensei que te encontraria no colégio para conversarmos..."  — Ele disse fazendo com que um sorriso gigantesco aparecesse em meu rosto.
Ontem foi incrível. — Respondi soltando um suspiro. — E me desculpe novamente por não ter avisado, eu...
"Ei, pare com isso! Você não precisa se desculpar por nada." Ele disse e deu uma pausa. "Tem algo que eu queria te perguntar..."
Pode perguntar.
"Você vai fazer algo sábado à noite?" Perguntou.
— Não, por enquanto... Por quê?
"Eu queria saber se... se você gostaria de vir aqui em casa jantar comigo e com meus pais."  Ele disse e eu dei uma leve travada. "Você está aí ainda? Me desculpe, é que minha mãe acabou ouvindo eu falando sobre você com o Ryan e desde o dia que vocês se encontraram ela não para de falar de você." Falou e eu pude sentir as bochechas dele corarem apenas pelo seu tom de voz. "Ela ficou louca para fazer um jantar e sugeriu essa ideia, mas se você não quiser podemos inventar uma desculpa..."
Está louco? É claro que eu quero!! — Respondi com um tom de voz um pouco mais elevado. — Eu preciso levar algo?
" Traga apenas você e sua beleza."
Meu Deus, isso foi patético. — Respondi rindo.
— Maddie, o jantar está pronto. — Papai disse da cozinha.
— James, preciso ir agora. Meu pai está me chamando para jantar, mas eu fiquei muito feliz com o seu convite e vou adorar conhecer seus pais. — Falei ainda com um sorriso no rosto.
" Fico feliz por você ter aceito. Te vejo amanhã na escola?"
Claro! Um beijo.
"Outro... na boca." Respondeu rindo e eu desliguei com a maior cara de boba.
Eu, Madison Wright, indo até a casa de James Butler a convite da mãe dele? Minhas mãos já estavam suando apenas de imaginar. Eu era SUPER tímida quando o assunto era conhecer pais. Lembro até hoje quando Mason e eu éramos pequenos e ele me apresentou para seus pais. Droga! O MASON! Corri para o meu quarto avisando para os meninos começarem a jantar sem mim e peguei meu notebook rapidamente para ver se ele havia respondido meu e-mail. Como eu pude me esquecer completamente disso? Abri a caixa de mensagens e fui descendo em busca de seu nome. Por incrível que pareça, ele havia respondido em torno de uma semana atrás. Se passou quase um mês desde que eu enviei a mensagem para ele. Abri o e-mail com um pouco de medo e comecei a lê-lo.
"Querida Maddie,
Eu acabei vendo sua mensagem apenas agora. Estou tão corrido com a faculdade que mal consigo respirar hahaha. Fico feliz por você estar reconstruindo sua vida em um ambiente novo. Você sabe que eu considero sua família a minha família também e não poderia estar mais feliz por vocês. Bom, como faz um tempo que não nos vemos, não sei se seria loucura, mas semana que vem eu irei até Nova Iorque com a minha faculdade. Ficarei por algumas semanas. O que você acha se marcássemos de nos encontrar? Eu queria muito ver o Peterzinho e o Tyler também, estou morrendo de saudades de todos. Me diga o que você acha e poderemos marcar algo, estarei livre todos os dias a partir de umas quatro horas da tarde. É isso, Maddie. Espero te ver em breve, um beijo.
Fiquei parada encarando o computador por alguns instantes fazendo alguns cálculos. Se ele me respondeu há uma semana e disse que estaria aqui em uma semana... ELE JÁ DEVE ESTAR AQUI! Eu estava completamente nervosa com toda essa situação e não fazia ideia do que fazer. Respirei fundo para me acalmar e comecei a digitar.
"Mason, eu acabei de ler sua mensagem e peço desculpas por não ter visto antes. Eu adoraria te encontrar e tenho certeza que meus irmãos adorariam também, mas acho que antes precisamos de um tempo sozinhos para conversarmos... Não sei se você já chegou, mas você estaria livre amanhã?"

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