Chapter Seven

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Os corredores da escola estavam uma loucura. O papel com os personagens da peça havia acabado de ser colocado pela senhorita Jones.  Eu não conseguia me mover um centímetro. Estava parada no primeiro degrau da escada há vários minutos. Senti as mãos de Chloe em meus ombros e respirei fundo. Eu não sabia que conseguir o papel seria tão importante como estava sendo. Não sabia que mexeria tanto assim com o meu coração.
— Você quer que eu veja para você? — Chloe perguntou atrás de mim, também olhando para o papel.
— Não precisa, eu consigo. — Respondi respirando fundo novamente. As pessoas que estavam tão entusiasmadas, iam se afastando do papel. Umas pulando de alegria, e outras, chorando de tristeza. Quando o corredor se tornou quase vazio, me aproximei para ler o papel.
" Sr. Capuleto - Theodoro Riles.
Sra. Capuleto - Jennifer Donavan.
Teobaldo - Bryan Cooper.
Ama - Abby Jones.
Páris - Chris Johnson.
Sr. Montequio - Charles Smith.
Sra. Montequio - Victoria Roman.
Romeu - Harley Bennett.
Julieta - Madison Wright."
Olhei novamente para a folha no mural para confirmar se meu nome realmente estava lá. Chloe e Amber se aproximaram para ler e logo deram vários pulinhos e me abraçaram. Eu estava tão desacreditada, que não conseguia esboçar nenhuma reação. Não conseguia parar de pensar em como mamãe ficaria orgulhosa. Não conseguia pensar em como seria incrível ter ela aqui comigo para me dar um abraço quentinho e dizer que ela sabia que aconteceria. Joguei meus pensamentos para o alto quando vi Harley se aproximando para ler o papel. Ele colocou o dedo na folha e foi procurando seu nome na folha. Harley viu que havia conseguido o papel de Romeu, mas não esboçou nenhuma reação, apenas continuou descendo com o dedo até chegar em meu nome. Assim que Harley leu que eu também havia conseguido, ele deu um pequeno sorriso sem mostrar os dentes e saiu em direção ao refeitório. Provavelmente ele não tinha visto que eu estava logo ali. Eu e as meninas assistimos toda essa cena completamente caladas. Essa reação foi tão inesperada vindo de nós três, que assim que ele saiu, olhamos umas para as outras e começamos a rir.
— Ok, foi uma cena de filme. — Amber disse enquanto ríamos.
— Foi uma puta cena de filme. — Chloe concordou. — Mas mudando de assunto, acho que devíamos comemorar, você conseguiu, Maddie!
— Sim! Nós já sabíamos que você iria conseguir. — Amber completou.
— Obrigada pelo apoio, meninas. Vocês são incríveis e eu sou muito grata por essa amizade que construímos em tão pouco tempo. — Respondi dando um longo abraço nas duas.
— Por favor, essa melação toda me enjoa. — Chloe disse se desvencilhando de nossos braços, fazendo com que caíssemos na gargalhada novamente.
Recuperamos o fôlego e fomos até o refeitório para almoçarmos. Peguei apenas uma fruta para comer por ter perdido totalmente o apetite com o nervosismo que passei a manhã inteira antes de o papel ser colocado no mural. Nos sentamos na mesma mesa de sempre e James estava discutindo com Ryan sobre um desenho que os dois assistiam.
— Ei, será que da para vocês pararem com essa coisa de criança e parabenizarem nossa Julieta? — Chloe disse chamando a atenção dos dois. James e Ryan pareceram não entender de primeira, mas logo os dois olharam para mim e começaram a me parabenizar.
— Eu sabia que você conseguiria. — James disse com um sorriso enorme no rosto. — Acho que devíamos comemorar.
— Foi exatamente o que eu sugeri. — Chloe respondeu bebendo um gole de seu suco de morango.
— E vocês sugerem o que? — Perguntei.
— Bom, vai ter uma festa na fraternidade do amigo do meu irmão hoje.— Ryan respondeu. — Vocês topam?
— Claro! — Amber e Chloe disseram em uníssono.
— Eu topo também. — James disse e todos olharam para mim.
— Eu também. — Respondi arrancando um sorriso de James e gritinhos das meninas.
— Essa festa vai ser incrível. — Chloe falou agarrando o pescoço de Ryan.
— Eu concordo. — James disse olhando para mim e logo depois seu celular tocou. — Preciso ir, galera. Até mais tarde.
— Eu vou indo nessa também. — Ryan disse se levantando dando um último beijo na Chloe.
Eu e as meninas ficamos conversando sobre alguns assuntos aleatórios até o sinal tocar e irmos para as nossas salas. Quando cheguei no laboratório de química, Harley estava sentado em uma das penúltimas mesas. Ele sorriu sem mostrar os dentes e fez um sinal para que eu me sentasse com ele.
— E aí, Romeu. — Disse sorrindo para ele enquanto me sentava.
— Como vai, Julieta? — Ele respondeu no mesmo tom e segurou minha mão, beijando-a em seguida.
— Olha só, você é mesmo um cavalheiro. — Disse arrancando algumas risadinhas dele.
— Parabéns por ter conseguido o papel. — Ele falou com um sorriso sincero.
— Muito obrigada, Harley. Se não fosse pela sua ajuda eu não teria conseguido.
— Claro que teria, você é capaz de conseguir tudo o que desejar. — Ele disse e, antes que eu tivesse a oportunidade de responder, o professor entrou na sala.
— Como tivemos um pequeno incidente em uma de nossas ultimas aulas... — Sr. Johnson disse olhando para mim e eu pude ver Harley segurando para não rir. — vamos fazer algo diferente. Quero que vocês façam um trabalho em dupla sobre alguma das matérias que estamos aprendendo. Vocês podem fazer trabalho escrito, maquetes, apresentações, o que vocês quiserem. O prazo é de um mês. Podem começar a se dividirem e a se organizarem na aula de hoje.
— E aí, quer ter a honra de fazer o trabalho comigo? — Perguntei me virando para Harley.
— Você acha que eu sou fácil assim? — Perguntou com a mão no peito e eu apenas fiquei o encarando com as sobrancelhas arqueadas. — Sim, eu sou.
— Podemos fazer na minha casa. — Sugeri ainda rindo de sua última fala.
— Claro, só me avise o dia e o horário. Você quer meu número? — Ele perguntou e eu assenti.
Harley me passou seu contato e eu mandei uma mensagem para que ele pudesse salvar meu número também. Passamos o resto da aula vaga discutindo sobre a NBA. Harley teimava insistentemente que LeBron James era melhor que Stephen Curry. Coloquei na cabeça que ele estava falando aquilo apenas para me irritar e ignorei todos os absurdos que ele falava.
— Eu não entendo como alguém pode torcer pro Golden State Warriors. — Ele continuou a falar. — Esse time é uma vergonha.
— Harley, a única coisa que eu entendo aqui é que você tem uma inveja absurda por seu time ser tão ruim. — Respondi com a cara fechada arrancando algumas risadas dele.
— Tudo bem, assumo que 76ers não está em sua melhor fase. — Ele concordou com as mãos para cima se rendendo.
— Mas afinal, por que você torce para eles? Você é da Philadelphia? — Perguntei curiosa.
— Eu morava lá, vim para cá quando meus pais se separaram. — Ele respondeu e eu não consegui evitar meus pensamentos sobre o motivo pelo qual eu me mudei para cá. — E você, já era daqui?
— Também não, viemos para cá pelo trabalho do meu pai. Eu era de Boston.
— Boston? E não era para você torcer pros Celtics? — Perguntou com um sorrisinho.
— Meu coração sempre foi azul e amarelo. — Falei me referindo ao Golden State.
— Mas me conta, sua mãe aceitou vir para cá numa boa? — Ele perguntou e eu dei um sorriso sem graça pensando em como eu falaria sobre isso agora. Por uma IMENSA sorte, o sinal bateu e involuntariamente eu fui pegando minhas coisas o mais rápido possível.
— Continuamos outro dia? — Ele perguntou guardando calmamente seu material.
— Claro, Romeu. — Respondi sorrindo. — Eu te ligo para falar sobre o trabalho, ok?
— Ok, Julieta. — Ele disse e eu saí da classe indo em direção à minha próxima aula.
Coloquem Bon Iver & St. Vincent - Rosyln para tocar.
Eu imaginei que quando chegasse em Nova Iorque e tivesse que construir novas relações com novas pessoas, elas perguntariam sobre minha vida. Eu me imaginei contando tudo para elas, sem sentir nenhuma dor. Sem deixar as lágrimas escaparem. Sem nenhuma mágoa de uma força superior que controla todo esse mundo. Mudei meu percurso e fui andando em direção ao portão da escola. Geralmente, quando eu pensava sobre o assunto eu não ficava TÃO mexida, mas esse é o mês. Esse é o mês e eu não tinha percebido até agora. Caminhei por uns 15 minutos e cheguei até um parque. Me sentei na grama em baixo de uma árvore e peguei um caderninho que eu não conseguia tocar há algum tempo. Aquele pequeno caderno com a capa de couro velho estava na minha mochila desde que a organizei meu material. Eu gostava de ser ele por perto por onde andava, mas não conseguia lê-lo de jeito nenhum. Respirei fundo e o abri em uma página qualquer.
" 22 de agosto de 2000,
Querido Diário,
Hoje foi um dia muito especial. John e eu acabamos de voltar do hospital com nosso primeiro filho. Resolvemos chamá-lo de Tyler em homenagem a meu bisavô por parte de mãe. Ele parece um anjo. Cabe na palma de minha mão. Eu nunca imaginei que pudesse amar tanto quanto eu estou o amando. Vou protegê-lo até depois de minha morte. Irei criá-lo para que ele seja tão incrível como seu pai. No momento, não conseguimos nos desgrudar dele. John adiou todos seus compromissos e tirou uma pequena férias para ficar conosco. Nesse momento só consigo agradecer a Deus por essa bênção que caiu sob nossas mãos."
Terminei de ler a página e folheei o caderno, abrindo em outra página aleatória.
" 12 de abril de 2005
Querido diário,
Hoje é o aniversário de quatro anos da Madison. Ela desejou ir para o parque, seu lugar favorito. John, Tyler, Madison e eu fizemos um piquenique e passamos o resto da tarde brincando naquele imenso gramado. Ao final do dia, Madison quis fazer uma noite do chá. Nos reunimos em seu quarto cor-de-Rosa e ficamos nós quatro ( e seus bichinhos de pelúcia) sentados em sua mesinha tomando chá. A princípio, Tyler ficou reclamando, mas logo depois estava até erguendo seu mundinho para tomar o chá. Madison ficou tão feliz que até se esqueceu de abrir seus presentes. Não vejo a hora de ela ver que compramos sua tão sonhado bicicleta, mas isso deixo para amanhã."
Fechei o caderno com um sorriso no rosto e com os olhos marejados. Eu me lembrava de cada detalhe daquele dia. A mamãe tentava fazer tudo ficar perfeito. Fez todos nós usarmos umas blusas rosas que ela havia comprado. Sempre era assim, mamãe tornava a coisa mais simples do mundo na melhor coisa que poderia acontecer. E não era só conosco, era com todas as pessoas a seu redor. Guardei o caderninho com cuidado em minha mochila e fechei os olhos. Eu nunca havia agradecido a ela por esse dia. Acho que eu estava tão entusiasmada e tão feliz, que esqueci de agradecer a ela.
Obrigada, mamãe.

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