O sonderkommando I

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Nova York, primavera de 1962

Conforme a neve do inverno derretia e transformava as ruas em uma confusão lamacenta, as flores começavam a desabrochar. Melanie também sentia que começava uma nova fase na sua vida. Sair da mansão Xavier para viver no centro da cidade, sozinha em um apartamento de um cômodo só, era um salto muito grande. Ainda mais levando em consideração que não era muito comum uma mulher trabalhar e morar sozinha, se Susan mãe de Mel soubesse ficaria horrorizada. Mas para Melanie aquele único cômodo era muito mais valiosos que qualquer casarão, porque podia chama-lo de seu.

Mas a súbita mudança não foi fácil, não conseguiu visitar Charles mesmo meses depois. O trabalho sempre tomava todo o seu tempo, mulheres ganhavam menos e Melanie precisava trabalhar dobrado. No último telegrama que havia recebido, Charles explicava que estava trabalhando com uma divisão do FBI que estava recrutando mutantes para uma espécie de investigação. No fim, estavam tão ocupados com trabalho que as respostas demoraram cada vez mais para chegar ao seu destino.

Melanie sentia falta sim, mas estava tão empolgada e cansada com o trabalho que frequentemente esquecia de mandar notícias.

Trask havia a incluído na equipe de pesquisa e gestão farmacêutica, ela coletava dados e fazia os relatórios dos resultados. Era a primeira a chegar e a última a sair, evitava conversas, mas respondia às provocações quando necessário.

-Melanie, poderia limpar o laboratório? -Perguntou um outro analista, Jack era o nome dele.

-Sou analista, Jack. Faço o mesmo trabalho que você. -Ela respondeu sem tirar os olhos dos documentos que estava organizando. -Se você não limpa o laboratório, por que eu o faria? Temos a equipe de limpeza para isso, ou você acha mesmo que a única função de uma mulher é limpar?!

Jack nunca mais implicou com ela, apesar de ainda a olhar de cara feia.

Frequentemente Bolivar Trask passava pelas mesas e falava com Melanie. Ele não tinha o tom nem a feição simpática e possuía o costume de aparecer sem avisar. Parecia estar sempre atento e era estranho, algo naquele homem não cheirava bem.

Em uma noite Melanie estava terminando relatórios, já era tarde e como de costume ela era a única da equipe que ainda estava no local. Pelo menos acreditava que era a única, até o Dr. Trask entrar no andar.

Ele logo a viu, já que a luz em sua mesa era a única acesa.

-Senhorita Levinsky. -Ele disse ao se aproximar da mesa. -Bom encontrá-la aqui. Preciso de auxílio no subsolo. Me acompanhe, por favor.

Melanie sabia que o acesso ao subsolo era restrito, estava curiosa para saber que tipo de trabalho encontraria lá. Deixou os relatórios na mesa e seguiu o Dr. Trask até o elevador.

Ficaram em silêncio enquanto desciam os andares, Melanie reparava pela primeira vez em como ele tinha uma postura bruta e inflexível. Era um pouco mais alto e seu maxilar rígido o fazia parecer mal humorado, mas talvez ele fosse mesmo assim o tempo inteiro.

Quando o elevador se abriu no subsolo, Trask e Melanie pararam em um grande hall em frente a uma comporta de metal. Ele digitou no painel à esquerda uma sequência numérica e as portas pesadas se abriram devagar. Lá dentro havia uma luz fraca, mas foi possível distinguir fileiras de balcões com equipamentos científicos. Eram dezenas de microscópios, materiais analisados, pilhas de relatórios e livros no canto. No centro havia um cubo de vidro semelhante a um aquário, mas dentro havia um pedaço de rocha que pareceu particularmente inquietante.

-O que é este objeto, Dr. Trask? -Ela perguntou se aproximando do objeto.

-Uma rocha irregular que foi coletada por uma base espacial. Nada na Terra se mostrou ter a mesma composição. -Ele disse preparando uma seringa nas costas de Melanie aproveitando o momento de distração. -Tudo nesse andar é raro e espero que as pesquisas tragam resultados que possam mudar o curso da história humana.

✔ Scars | X-MenOnde histórias criam vida. Descubra agora