O professor e a fênix I

2.1K 228 33
                                    

Conforme as semanas passavam, os sonhos de Melanie ficavam mais intensos. Seu temperamento mudava, todos seus sentimentos pareciam fluir mesmo que ela não quisesse.


Ela aprendeu a estender sua capacidade de cura. Erik continuava mais ousado, matava como um Anjo Vingador e todas as noites ia até ela para que ela o curasse.

Melanie começou a perceber que nada daquilo era o que ela queria no inicio. Uma justiça que mata como mata o crime não é uma justiça limpa. E ela estava cansada de ser usada como back up para fortalecer Erik e deixá-lo voltar a usar sua ira.


Ela estava cansada da raiva e da dor.

Em uma madrugada ela sonhou com chamas no espaço, ondas cósmicas tão brilhantes como estrelas e que a carregavam de uma energia independente.

Você não precisa do sol para brilhar quando você mesma é o incêndio que devora uma galáxia.

Algo sussurrava no fundo de sua mente. Um poder que crescia dentro dela e fazia seu corpo estremecer, a pele arrepiar. Algo invencível, indestrutível.

Os quadros do quarto começaram a cair das paredes, uma energia emanava dela, ondas de calor que acendiam e apagavam conforme envolviam o quarto. O abajur começou a ser corroído, a cama levitou e as chamas envolveram sua base.

Você tem apenas um fragmento dentro de si, mas pode ser muito mais.

Um fragmento de um poder tão antigo quanto o próprio universo.

-Melanie! -A voz urgente de Erik a fez abrir os olhos.

Ela se sentou e o olhou. Seus olhos brilhavam.

-Mel, você está bem? -Erik não conseguia se aproximar devido a corrente de energia fantasmagórica que envolvia a cama.

Melanie fechou os olhos e tocou a testa suada.

Tudo ao redor voltou ao normal.

-Está piorando e eu não consigo controlar. -Ela murmurou. -Tem algo na minha mente.

Erik se aproximou e sentou na beirada da cama. Ele olhou para os olhos dela, estavam azuis como a noite.

-Eu quero ver, Charles. -Ela murmurou. -Talvez ele possa ajudar.



***



Charles desligou o rádio e deslizou as rodas de sua cadeira pela sala, estava tarde e ele precisava descansar. Mas quando passou pela entrada sala a campainha da mansão tocou. Ele não estranhou, já havia acontecido antes de o procurarem tarde da noite.


Ele se dirigiu até a porta e a abriu usando um impulso mental. Na entrada estava uma mulher com longos cabelos negros, os olhos escuros como o céu à noite.

-Melanie! -Ele exclamou com a voz baixa. Um homem se aproximou e parou ao lado dela, Charles endureceu a expressão quando o reconheceu. -Erik.

-Olá, Professor. -Melanie disse. Seus olhos observaram ele como se ela mesma pudesse ler sua mente e não o contrário. -Faz muito tempo que não nos vemos. Cremos que tomamos caminhos inesperados. -Ela disse e ele não podia negar já que estava na cadeira de rodas enquanto ela estava ao lado do homem que causou aquilo.

-É bom te ver, Melanie. -Ele disse e seu olhar encontrou o de Erik. -Mas com ele eu não tenho nada a tratar.

Erik fez menção de responder, porém Mel levantou a mão esquerda com um gesto que indicava que ele não deveria falar.

-Ótimo, porque é comigo que você vai falar. -Ela disse e ele deu passagem para que eles entrassem.

Erik fechou a porta da mansão e os três seguiram para a sala. Charles acendeu um dos abajur e indicou o sofá para os dois.

Melanie usava uma calça boca de sino, os cabelos estavam compridos e caíam pelas laterais de seu rosto pálido. Parecia que não dormia bem há dias.

Erik se sentou em silêncio, seu olhar intenso parecia não ter perdido a força desde que Charles o conhecera. Ele parecia rígido e nem era preciso ler a mente dele para saber que ele não queria estar ali.

-No que possa ajudar, Melanie?

Ela olhou ao redor como se estivesse notando as poucas mudança no lugar que um dia ela chamou de casa.

-Eu fiquei presa como cobaia no laboratório das Indústrias Strak. Eu não sei que tipo de estudos fizeram lá, mas algo em mim mudou. -Ela contou e se aproximou de Charles se sentando na beirada do sofá. -É como se uma voz estivesse dentro da minha cabeça, Charles. Ela aumentou meus poderes de uma forma inexplicável.

-Por isso nunca respondeu as cartas? Céus, Melanie. Eu sinto muito. -Charles estendeu a mão para ela, eles sempre seguraram a mão um do outro quando falavam de sentimentos duros demais para suportarem.

Melanie apertou a mão dele carinhosamente e ele sentiu que ela estava trêmula. Algo se agitou dentro de Charles e o deixou questionando o que seria aquilo que estava abalando Melanie Levinsky.

Erik encarou em silêncio as mãos dos dois.

-Você leria a minha mente, Charles? -Ela perguntou e se ajoelhou em frente a cadeira dele.

Ele tocou as têmporas de Melanie com os dedos, fechou os olhos e se concentrou. Lembrou da primeira vez que havia lido os pensamentos dela.


Cada pessoa possuía uma identidade, como se fosse uma voz mental. Erik era uma mistura de justiça selvagem, lugares obscuros e um passado doloroso. Raven era família, vergonha e a busca de pertencimento. E quando Charles tocava a mente de Mel via esperança, um sonho de paz e igualdade, cheiro de chá gelado no verão e beatles tocando ao fundo.

Mas dessa vez havia outra coisa lá. Uma voz diferente de qualquer outra, tão discrepante que mal parecia humana.

-Estou vendo algo. -Charles seguiu a voz, parecia algo primitivo, grande e aterrorizador. Quando tentou tocá-la, Charles viu as estrelas do universo nascendo e morrendo, viu ondas cósmicas impiedosas que destruía galáxias.

-O que está vendo, Charles? -Erik perguntou e sua voz estava mais próxima da orelha direita do professor, como se ele tivesse chegado mais perto.

-É uma coisa... Não humana. -Charles murmurou. Quando tentava enxergar o que era, ele via chamas e destruição.

-O que é isso? -Charles murmurou se perdendo em todas as imagens.

-Eu sou a Fênix. -Respondeu Melanie em voz alta, mas sua voz soava como mil trovões. Erik se colocou de pé ao lado dela, pela primeira vez parecia alarmado.

-Eu quero ver como isso aconteceu. -Charles sussurrou e logo a mente de Melanie jogou para ele as imagens do laboratório Strak. O pedaço de rocha que havia vindo do espaço, as ondas de energia que entraram em Mel e ali fizeram o corpo dela de hospedeiro.

-Eu sou um fragmento de muitos. -Respondeu a Fênix. -Há outras partes pelo universo e eu quero estar inteira.

-Charles, abra os olhos. -Erik murmurou em um tom cuidadoso. E quando o professor abriu os olhos encontrou os de Melanie Levinsky viu que eles eram chamas cósmicas.

Ele tentou alcançar a voz de Melanie, buscou por toda a consciência dela, mas ela estava fora de contato.

-Erik, uma força primordial tomou o corpo de Melanie. Aumentou e modificou a capacidade do gene mutante dela. -Charles explicou ainda tentando se concentrar para puxar Melanie de volta.

-E como tiramos isso dela? -Erik se abaixou novamente e tocou o cabelo escuro de Mel.

A Fênix se virou para encarar Erik.

-Vocês não podem me parar.

A pele na nuca de Charles se arrepiou, ele sentiu a energia da Fênix crescer. A voz mental da consciência de Melanie estava cada vez mais apagada.

-É como uma infecção. As duas estão atreladas demais para que eu consiga separar as consciências de um mesmo corpo. -Charles acessou as memórias de Melanie, eram como fumaça, desaparecendo em meio às chamas.

A Fênix se levantou se livrando das mãos de Charles.

-Melanie, siga minua voz! Você precisa voltar agora!

A boca dela se abriu como se ela fosse responder, mas seu corpo estremeceu e caiu ao chão.


✔ Scars | X-MenOnde histórias criam vida. Descubra agora