O que você faria se recebesse poemas anônimos?
Frank Zhang sempre estava cansado. Cansado de tudo. Cansado da faculdade, cansado do trabalho, menos de admirar Hazel Levesque, a moça dos olhos dourados e coração partido que sempre visitava a cafeteri...
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As discussões entre Hazel Levesque e Samuel Valdez quase sempre eram por motivos bobos.
Um trabalho que ela fez em dupla com algum garoto, algo que ela disse e não devia ter dito, algo que comeu e não devia, os amigos de má influência que ela andava, que sempre queriam apenas usá-la, porque Hazel era uma garotinha ingênua e apenas Sammy poderia amá-la do jeito certo, ele era o único que realmente a queria bem. E como ela o agradecia? Ela não o fazia. Continuava com aqueles amigos, continuava com suas roupas curtas e seu batom vermelho. Hazel era uma ingrata.
Logo ela, que sempre odiou discussões.
Mas no final, ela reconhecia que era a culpada. Nem sempre entendia o porquê, mas seu peito apertava, a visão ficava turva e os joelhos fraquejavam de vergonha. Ela chorava até os olhos ficarem vermelhos, implorava por perdão, pedia desculpas, dizia que jamais colocaria seu relacionamento em risco, afinal, a única pessoa que estava com ela era Sammy, e perdê-lo seria o fim.
Era assim que ele ganhava tudo o que queria, dizendo que ela iria perdê-lo.
Assim que Hazel se submetia a situações estranhamente desagradáveis, assim que ele a fazia concordar com posições dolorosas e práticas sexuais que ela odiava e jamais quis continuar fazendo. Assim que ele ganhou o seu noivado, pois ele sabia que ela o amava demais para deixá-lo partir.
Ele tinha ataques de raiva frequentemente, esmurrava e quebrava objetos, batia em si mesmo e arrancava os próprios cabelos com tanta força que vez ou outra fazia feridas no próprio corpo. Até ele começar a erguer a mão não pra si mesmo, mas para Hazel.
No início, ela o repreendeu e dizia que não gostou, mas ele foi embora e deixou apenas ameaças e uma namorada chorando pelos cantos, até ela pedir perdão, até dizer que foi ela quem exagerou. Ela era exagerada, sempre culpando Sammy por tudo.
Ao mesmo tempo em que se perdia a auto estima por nunca ser o suficiente, não tinha mais a quem recorrer. Ela estava sozinha. Dessa vez, nem Percy, nem Piper, nem Jason iriam ajudá-la.
Nem mesmo Frank.
Hazel sorriu, ao pensar em Frank. Sentiu falta de todos os momentos que passaram juntos, sentiu falta de não temer por alguns breves momentos. Em pouco tempo, a tarde chegaria ao fim, e com ela, o casamento esquisito que Samuel arranjou. Hazel não conhecia as madrinhas e nem a maioria dos convidados, apenas Nico, que prometeu ir até lá, mesmo que Sammy não aprovasse.
Ela estava naquele momento ali, em um hotel estranhíssimo e de péssima qualidade todo esburacado e quebrado, arrumando o cabelo para a ocasião, que seria em um salãozinho de fundo de quintal. Mas algo parecia fora do lugar.
Faltava algo.
À essa altura, ela não tinha mais a quem recorrer. Não tinha como voltar atrás.
Começou a passar o corretivo pelas marcas em seus braços finos de quem já não comia muito bem nessas últimas semanas. Sammy sempre dizia que se comesse demais ela não iria caber no vestido, ele odiaria se casar com uma mulher gorda. Mas Hazel mal podia ficar em paz desde que aceitou aquele pedido. Não dormia direito com tanta pressão, não conseguia pensar nem falar com seus amigos pelo telefone, já que raramente ficava sozinha.
