A morte de um escritor - texto 3

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A MORTE DE UM ESCRITOR
Texto da autora Ruthy S. Doretto

"Nesta hora, neste momento, nenhuma ideia vem à minha cabeça. Nenhuma imaginação, nenhuma cena, nenhum suspirar de alívio. Tinha medo de morrer e deixar grandes histórias para trás, grandes personagens, grandes acontecimentos, mas nenhuma ideia vem...
As 24 horas de pensamentos não existem mais, a ansiedade não habita mais no meu ser. Tive muito medo de morrer, muito mesmo, nenhum ser humano imagina o quanto eu tive medo da morte! Medo de deixar histórias incompletas, medo de não terminar aquela série tão esperada por várias pessoas que me admiram. Tive medo de morrer e não conseguir passar os pensamentos para o papel, mas agora nada vem como antigamente. Aquela pergunta que me fiz a anos atrás 'E se eu morrer amanhã? O que farei com essas coisas presas em minha mente? Me atormentariam enquanto eu estiver morto? O que eu farei?', mas elas não me atormentam como antes, porque não tenho mais nada e quando digo nada, é absolutamente nada. Deixarei algo bom? Deixarei algo ruim? Sem sombra de dúvidas, deixarei os dois. Serei lembrado por alguns como bom, serei lembrado por muito como ruim? Sem sombra de dúvidas, com certeza sim! Fui bom para mim mesmo? Se ser uma pessoa apenas com a cabeça no mundo da lua, pensando em coisas que não existem, infernizando pessoas que não estão no mesmo ritmo que você, criar tantas vidas felizes enquanto você vai desmoronando aos pouco, achando que passar todo aquilo para o papel resolveria seu problema enquanto ele ia se acumulando fora da máquina de escrever, acho que não, não fui bom comigo mesmo, nem com ninguém ao meu redor. Inventava o personagem gritando enquanto aquilo acontecia fora da folha, criava outro chorando enquanto via outros chorarem, enquanto eu mesmo chorava dentro da minha própria angustia, da minha própria dor.
A maior tristeza de morrer é que não tem herdeiros, nem filhos, nem o antigo amor, não irei saber para onde a fortuna irá, mas eu sei que o fato de não saber para onde ela vai é porque eu estou sozinho. Por que? Por que agora eu estou aqui, só? Algo aconteceu e eu não percebi? Aonde eu estava com a cabeça? Aonde... Ah, droga... eu... o que eu fiz? O que aconteceu durante esses anos? Deixei de viver e fiz tantas vidas... ah vida... eu sinto muito..., eu preciso viver."

Meu poema de cada diaOnde histórias criam vida. Descubra agora