Capítulo 2

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Ayla


Engulo o resto de vinho da minha segunda taça e massageio as têmporas sentindo que em breve uma dor de cabeça se fará presente. São onze horas da noite de um sábado e tudo o que eu mais queria era estar dormindo, mas aqui estou eu: sentada na mesa da cozinha rodeada de papéis: contratos para revisar, contratos para assinar, pedidos de peças para fazer, fichas de serviços terceirizados que preciso analisar e por aí vai.

A empresa tem um departamento próprio para cada setor que citei anteriormente, mas assim como aprendi com meu pai, checo todas as áreas antes que cada decisão seja tomada.

Ouço barulho na maçaneta da porta de entrada e resmungo baixo, pois sei quem é e o que virá a seguir. Ela tinha ficado de vir para cá hoje depois da noitada, na verdade passa mais tempo aqui do que na própria casa, não sei por que ainda não se mudou de vez.

— Para. Eu não acredito que você está trabalhando! — Júlia grita assim que adentra a cozinha. Seus cabelos estão soltos, os saltos que colocou ao sair de casa preso entre os dedos. Pela forma que seus olhos se esforçam a ficarem fixos no meu rosto, sei que bebeu um pouco além da conta. — Eu te odeio, Ayla, odeio mesmo.

Levanto-me e a guio até um dos bancos da ilha, sentando-a ali e servindo-lhe um copo de água gelada.

— Também amo você, priminha — brinco, estendendo o copo que ela logo vira de uma só vez.

— Hoje é sábado, Lally. S-Á-B-A-D-O — soletra, levantando um dedo a cada letra, ainda que a palavra tenha seis letras, oito dedos seus estão para cima. Abafo uma risada com a mão. — Você deveria estar sei lá, transando por aí, daqui uns dias voltará a ser virgem de tanto tempo faz que a sua bonitinha não vê um pau...

— Pelo amor de Deus, Jú, bonitinha? — Dessa vez não resisto e gargalho.

— Não seja uma prima chata e nos sirva vinho, sua sem-transa. — Balanço a cabeça em negativa à sua provocação e pego a garrafa pela metade e duas taças, nos conduzindo em seguida para a sala.

Sentamos no tapete e eu ligo a TV, sirvo o vinho e Júlia se recosta no sofá enquanto inspira o cheiro delicioso do vinho antes de degustar um gole.

— Eu estive pensando... — De repente ela parece sóbria, até sua postura fica mais ereta. — Quero te ajudar na empresa. — Arqueio a sobrancelha em sua direção, mas permaneço em silêncio esperando que desenvolva mais a maluquice da vez. — Vou fazer faculdade, cursar administração e ajudar você na Stewart.

Agradeço que ela não volte ao assunto sobre a minha falta de vida sexual. Depois daquele nosso almoço onde fiquei sabendo que tenho investido em um aplicativo que promove encontros sexuais, Júlia não falou mais nada em relação a me arrumar um encontro por lá, o que tenho achado ótimo. Isso já faz quase dois meses e secretamente tenho medo do que a sua cabecinha tem tramado desde então.

Balanço a cabeça espantando aqueles pensamentos e mantenho o foco no momento. Suas palavras enfim fazem sentido e eu a encaro genuinamente espantada.

— Você está falando sério?

— Claro, eu amo a minha vida, mas amo mais você e não quero te ver acabando com a sua vida assim, Ayla. — Suas palavras me aquecem e me fazem sentir culpada tudo na mesma proporção. — E acho também que já está na hora de mostrar aos meus pais que eu não sou uma cabeça de vento.

Acabo rindo de suas palavras, essa é a exata forma que tio Clarence a chama.

— Não se sinta pressionada a fazer isso apenas por minha causa, Jú. Eu prometo que vou diminuir minhas horas de trabalho. — Ela revira os olhos diante a minha falsa afirmação. — 'Tá, eu sei que já falei isso centenas de vezes, mas dessa vez é sério. Vou mesmo dar uma pisada no freio.

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