Capítulo 7

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Oliver


Minha cabeça está em qualquer lugar, menos na loira sentada a minha frente tagarelando sobre como seu ex-noivo vai ficar irado quando a vir na revista ao lado de um homem sexy como eu. O babaca vai se arrepender de ter enfiado o seu mini-pau na boca da secretária, palavras dela.

É domingo à noite e não sei por que infernos aceitei este maldito encontro. Não finja que realmente não sabe, Oliver. Minha consciência grita, mas eu a ignoro. Eu só não podia continuar dentro daquela casa claustrofóbica olhando para o homem que eu amo querendo que eu o deixe morrer.

— Você poderia ao menos fingir que está me escutando, já que estou te pagando para isso. — A loira reclama, nem sequer me lembro o seu nome.

— Sinto muito, querida. Perdoe-me por ter saído do ar por alguns minutos. Eu concordo totalmente com você, seu ex-noivo está perdendo muito a tendo traído. — Um enorme sorriso se abre em seus lábios, deixando-me enojado de mim mesmo.

Tudo o que eu queria, na verdade, era estar em casa. Ainda que estar lá pareça me sufocar.

Finjo prestar atenção nela e quando um casal vem nos cumprimentar, lembro-me que seu nome é Heather ao ouvir a mulher dizê-lo. É o aniversário de trinta anos de casados de um casal de amigos dos seus pais e ela quis mostrar ao ex que já o tinha superado. Isso porque o suposto rompimento havia sido ontem pela manhã.

Ontem pela manhã, quando meu pai gentilmente pediu-me para que o assista morrer.

Consigo aguentar o restante da noite com um sorriso mecânico e concordando com tudo o que a Barbie Heather diz. Quando paramos em frente ao seu carro, o sorriso que ela abre faz meu estômago se retorcer.

— O que me diz de eu dobrar seu pagamento e terminarmos essa noite na minha casa? — Suas unhas compridas arranham meu peito sobre a camisa, seguro a sua mão e a afasto.

— Sinto muito, é contra as regras mudar o pacote assim, de última hora. — Minto, um bico ridículo inclina seus lábios para a frente e eu seguro o ímpeto de revirar os olhos como uma garotinha mimada.

— Isso é uma grande porcaria, adoraria ver a cara do Louis quando eu lhe dissesse que transei com um garoto de programa. — Conto até dez para não mandá-la ir se foder. Apenas viro as costas e saio, deixando-a para trás. Foda-se se ainda não havia pego o cheque com o pagamento da noite.

Estou há quase duas horas de casa, mas opto por não chamar um Uber, o clima está ameno e andar me fará bem. Quando já andei por uns quarenta minutos, meu celular recebe uma notificação e vejo que recebi o pagamento do encontro via cartão de crédito. Ao menos a Barbie desmiolada é honesta... há também uma mensagem dela no aplicativo:

Verifiquei as regras dos encontros e não há realmente uma que diga que não posso mudar o meu pacote no último momento, mas agradeço por ter dito isso, não estou com a cabeça no lugar hoje e gostaria muito de me desculpar pela forma rude que falei com você e pela forma como fui uma verdadeira vaca durante toda a noite. Espero que possamos nos ver novamente em uma outra situação, Damien.

O pagamento é cinco vezes mais do que o combinado. Sinto-me mal em não enviar ao menos um agradecimento.

Está desculpada, desculpe-me também por ter mentido para você, mas percebi que estava apenas magoada e que se arrependeria amargamente no dia seguinte se realmente fossemos para a cama. Obrigada pelo bônus, Heather. Tenha uma boa vida.

PS: Não perdoe o mini-pinto, ainda que ele rasteje aos seus pés e lhe diga que nunca mais a trairá. Homens traidores nunca mudam.

Envio a mensagem e desligo o meu celular. Acabo rindo para mim mesmo com essa situação inusitada. Tiro o paletó do terno, a caminhada começando a me fazer suar, e o dobro acomodando-o no meu braço. Enquanto caminho, consigo limpar os meus pensamentos sobre as últimas vinte e quatro horas, mas então eles se voltam para um certo par de pernas compridas e olhos caramelos.

Ayla, o que diabos você tem que mexeu tanto com a minha cabeça?

Um Rolls-Royce branco passa ao meu lado, a porcaria de um carro idêntico ao dela e a imagem de Ayla no banco do passageiro pedindo-me para que eu nos levasse ao Royal passa como um filme diante meus olhos. Aquela voz...

Apenas por ser um maldito idiota, pego o celular no bolso e o ligo novamente, acessando em seguida o Speed Sex, há uma segunda mensagem de Heather que ignoro, sigo direto para o resumo da minha noite de sexta. Há ali os contatos da contratante, precisando de um pouco mais de distração da minha própria vida, salvo o seu contato na agenda. Estou prestes a lhe enviar uma mensagem quando recebo outra notificação, mais uma solicitação de encontro, penso em ignorar, mas quando leio o nome da pessoa a solicitar, clico imediatamente para ler.

Ayla quer um segundo encontro amanhã. Com a porra do pacote final feliz.

Deslizo meu dedo sobre a tela, mas decido não aceitar logo de cara. Deixo-a na espera de uma confirmação. Juro que consigo vê-la impaciente olhando para o celular, os dedos tamborilando sobre a coxa, o que percebi que é o que faz quando fica nervosa. Divago tanto sobre Ayla e tudo o que desejo fazer com ela amanhã, que nem noto que já estou na porta de casa.

Destranco a porta da frente e me assusto com Charlie sentada no sofá, a TV ligada, mas olhos concentrados em suas próprias mãos. Minha irmã está chorando. Sento-me ao seu lado e a puxo para o meu colo, céus, como eu odeio vê-la sofrer!

— Ele não pode morrer, Oliver. Ele é o nosso pai! — Minha irmã soluça, encolhendo-se ainda mais sobre mim. — Por que ele quer morrer?

Eu não queria ter lhe contado a decisão do papai, mas não podia simplesmente deixá-la de fora, afinal, ela já entende o suficiente.

— Eu não sei, pingo de gente, o meu coração também está partido.

— Ele não pode nos deixar, Oli. Não pode! — A raiva em sua voz me acerta em cheio. E é vendo a sua revolta que eu entendo a escolha do meu pai.

Para nós é simples querer que ele fique, pela primeira vez eu me coloco no lugar dele, pergunto-me de que forma estaria me sentindo se não pudesse sequer comer sozinho, se não conseguisse controlar minhas oscilações de humor e causasse medo e chateasse as pessoas que amo. A doença em si não causa dor física, mas me pego pensando no tamanho da dor emocional que ele deve estar sentindo por se sentir tão incapaz.

— Ele está sofrendo, Charlie. Sei que também estamos, mas o mais prejudicado nisso tudo é apenas o papai, eu não aceito, não mesmo, a sua decisão, mas eu o entendo. E nós temos que respeitá-lo. — Abruptamente ela se levanta do meu colo e me encara com raiva.

— Você não pode estar falando sério, Oliver. Não pode. — Grita, quando não respondo, sua voz aumenta ainda mais, assim como as suas lágrimas. — Eu te odeio.

Sou deixado sozinho na sala. Desligo a TV e me afundo no sofá, sei que Charlie está apenas com medo, mas as suas palavras me ferem depois de tudo o que tinha passado com meu pai ontem.

Sandra, eu te odeio tanto por ter deixado tudo no meu colo!

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