Oliver
Quando abro meus olhos a primeira coisa que me vem à mente é a imagem de imensos olhos âmbar e uma boca perigosamente deliciosa e dura.
Inferno.
Meu pau já duro pela ereção matinal pulsa dentro da cueca como se zombasse da minha cara.
Maldito membro traidor.
Me arrasto para fora do conforto da cama e me guio para o banheiro. É sábado e tenho mil coisas para colocar em ordem antes de pegar algum compromisso para a noite. Se bem que, com a quantidade absurda que Ayla me deixou ontem, não preciso estar em um encontro por um par de semanas.
Maldita mulher irritante.
E gostosa pra caralho.
Como diabos fui deixar que ela entrasse na minha mente? Não era como se eu pudesse ter evitado a partir do momento que meus olhos encontraram os dela, de qualquer forma. Foi algo forte e que eu nunca imaginei que fosse verdadeiramente possível, era como se eu já tivesse visto aqueles olhos um milhão de vezes antes, só não sei onde. Houve algum tipo de reconhecimento que não sei explicar, ainda que nós nunca tivéssemos nos encontrado uma vez sequer antes. Foi por isso que quando nos sentamos tudo pareceu tão... normal, certo. Nunca tinha falado nem metade das verdades que disse a ela, a alguma cliente.
Normalmente também não transo com todos os meus encontros, como disse a Ayla, atuo na área de acompanhante para eventos, estou na plataforma há cinco meses e ela foi a primeira mulher com quem fechei um pacote completo. Mesmo que eu precise do dinheiro extra que entraria aceitando mais ofertas como aquela, não é algo com o qual eu possa fazer e viver bem comigo mesmo.
Na verdade, aquele estranho reconhecimento se deu no momento em que eu vi a foto do perfil da pessoa solicitando um encontro comigo ontem. Havia algo nos seus olhos naquela foto... realmente não sei dizer o que é, mas senti, pela primeira vez desde que decidi seguir aquele caminho para complementar a minha renda, que eu queria aquela garota. Eu precisava daquela garota.
— Oli, o papai não quer me deixar ajudá-lo com o café da manhã. — A voz de Charlote atravessa a porta do banheiro.
Respiro fundo.
— Saio em um minuto, Charlie.
Me alívio rápido e visto um short antes de escovar os dentes e ir até a cozinha. Richard está completamente concentrado em sua tigela de cereais enquanto meu pai tenta, inutilmente, levar a colher de mingau até a boca, todo o conteúdo caindo em seu colo diante a tremedeira de suas mãos. Parte o meu coração ver a dor em seus olhos por não ser mais capaz de executar tarefas tão simples como alimentar a si mesmo. Antes que eu chegue até ele, a colher é lançada para longe e uma série de palavrões voam de sua boca, ódio sendo destilado em cada uma de suas palavras.
Meu irmãozinho se encolhe, encarando-me assustado. Charlie tem lágrimas caindo de seus olhos e não preciso pedir, logo ela pega nosso pequeno irmão e sai com ele da cozinha. Sorrio para ela em agradecimento.
— Bom dia, pai. — Me abaixo e pego a colher, enxaguo-a antes de me sentar ao seu lado. Beijo a sua cabeça e ganho apenas um rosnar como resposta.
Desde que foi diagnosticado com a Doença de Huntington, há quase dois anos, consigo contar em uma única mão a quantidade de palavras que saíram da sua boca. Os remédios têm ajudado, mas como os médicos disseram, eles apenas diminuem os sintomas. A maldita doença causa a degeneração progressiva das células nervosas do cérebro e essa porcaria tem progredido mais e mais a cada dia. O fato de ele não falar não ajuda em nada a saber de quais formas mais posso ajudar.
Pego um pano sobre a pia e limpo a sujeira em seu colo.
— Deixe-me ajudá-lo com isso, seu Otávio. — Ignoro sua usual carranca e mexo o mingau em sua tigela, levando a primeira colherada até sua boca. Ele a abre com um pouco mais de dificuldade do que ontem, há também uma demora maior no ato de engolir.
Talvez se ele não fosse tão cabeça dura e aceitasse as sessões de terapia da fala, ou se simplesmente conversasse, seus músculos da garganta estariam mais fortes. Recrimino meus pensamentos. Ele é o único que pode decidir a forma que quer prosseguir, ainda que isso acabe afetando seus filhos no processo.
Tento disfarçar a preocupação e o medo que rasgam o meu peito. Não é hora de demonstrar fraqueza, Oliver.
— Então, hoje é dia de fisioterapia. Renee chega em alguns minutos. — Mais um rosnado. Enquanto continuo alimentando-o conto um pouco sobre como tinha sido a minha semana e a dos meninos na escola.
Charlie está com dezesseis anos e é uma adolescente incrível, tem sido a melhor tendo em vista a nossa atual situação de merda. Richard, com apenas oito anos é o que mais tem sofrido com toda a mudança brusca que temos passado, mas ainda assim é uma criança maravilhosa, o que me mata mesmo são as suas perguntas frequentes sobre quando a mamãe vai voltar. Sandra foi embora dia seguinte após a consulta que revelou o diagnóstico e até hoje não sabemos onde está.
Sou puxado dos meus pensamentos quando a voz rouca e fraca fala ao meu lado:
— Eu não quero mais isso, Oli. — Algumas lágrimas fazem seu caminho pelo meu rosto. É tão reconfortante, e doloroso, ouvi-lo falar neste momento. — Estou muito esgotado meu filho. E cansado de atrasar a sua vida, a vida da sua irmã e causar medo no meu garotinho.
Fecho os olhos e respiro fundo.
— Não tem atrasado nada, pai. Eu trabalho e estudo, Charlie também tem ido bem na escola e o Richard ama o senhor. — Abandono a colher dentro da tigela e viro sua cadeira de rodas de frente para mim. — Nós te amamos, pai.
Enxugo a lágrima que escorre de seus olhos. Sempre tive meu pai como o meu herói, um bombeiro aposentado que sempre teve seus dias cheios de atividades físicas e que nunca deixou um segundo sequer de aproveitar a infância dos seus filhos. Sempre um homem ativo, não havia um dia que não o víssemos agitado por aí o tempo inteiro, vê-lo nesta situação hoje acaba completamente comigo.
— Sei que tem trabalhado muito mais do que o necessário para pagar os remédios e o mundo de terapias que venho fazendo. Mas tudo isso é inútil, não vê que vou morrer, e logo, de qualquer forma? — Suas palavras me acertam como um soco na boca do estômago e sinto a bile subir. Engulo a grande bola de angústia que de repente obstrui minha garganta e toco seu rosto com ambas as mãos, fazendo-o olhar firmemente para mim.
— O senhor cuidou de nós a vida toda, agora é a nossa vez de retribuir. Pare de falar como se estivesse com os dias contados e apenas me deixe continuar cuidando do senhor, tudo bem? — Meu pai desvia os olhos, sua respiração entrecortada e os lábios presos em uma linha reta de pura contrariedade.
— Você não entende...
— Então fale comigo, pai.
— Eu não suporto mais viver desta forma, meu filho. Não consigo comer sozinho ou limpar a minha própria bunda, muitas vezes engasgo com a saliva. Estou vendo meu filho se matar de trabalhar, a minha garotinha trocando minhas fraldas quando você ou o enfermeiro não estão, ao invés de se divertindo com as amigas, o meu garotinho... Oliver, me mata ver o medo nos olhos do seu irmão quando não consigo me controlar e tenho meus rompantes de raiva. — Enxugo mais algumas lágrimas que ele deixa cair e aperto suas mãos dentro da minha. — Meus dias estão sim contados, filho.
Permanecemos em silêncio absorvendo o impacto de suas palavras.
— Não quero mais os medicamentos e nem as terapias. Eu só quero... ir.
Incapaz de lidar com tudo isso, me levanto e saio para fora de casa. As lágrimas vertem dos meus olhos como duas cachoeiras, meu peito parece ter sido aberto sem a porra de uma anestesia, sinto como se o meu coração estivesse sendo pressionado por um punho de aço. Encaro o céu e me pergunto o que diabos eu devo fazer?
Ouço o zumbido da cadeira de rodas, mas não me viro.
— Fique comigo, filho. Me dê os últimos dias mais maravilhosos que alguém poderia ter, ao seu lado e dos seus irmãos, mas não me faça mais ficar aqui sofrendo desta forma. — Um soluço rasga a minha garganta e caio de joelhos no chão.
Eu preferia que meu pai tivesse se mantido em silêncio.
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Speed Sex CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO
RomanceSer a CEO da empresa da família é o que move Ayla. Decidida, dedicada e sempre procurando ultrapassar seus próprios limites, ela acaba perdendo o fio da meada de sua vida pessoal de tão profundamente mergulhada que está no trabalho. Estar com Júlia...