Capítulo 3

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Para além das grades

Capítulo 3

Acordei as 6 horas da manhã e fiquei pensando no tanto que a vida foi injusta com todas aquelas mulheres. Peguei meu caderno e fui escrever, ultimamente escrever sobre tudo que estou passando me alivia, me faz colocar pra fora toda a revolta que tenta tomar conta de mim.

" Hoje será mais um dia como qualquer outro, brigas de internas, agentes nos tratando como monstros e mais mulheres chegando nesse inferno. Queria poder escrever coisas boas, mas eu não consigo extrair nada de bom. Tudo aqui gira entorno da ansiedade, do desespero e da saudade"

Ouvi o barulho do confere e guardei meu caderno, assim que passou não tive mais vontade de escrever. Deitei na minha jega e meus pensamentos vagaram a pensar no mundo lá fora. A vontade de viver que eu tenho dentro de mim é maior que a minha revolta, eu sei que um dia eu serei feliz.

Logo chegou o horário do Banho de sol, tinhamos banho de sol de manhã e no dia seguinte à tarde. Pra mim esse era o melhor horário, pois, eu podia andar, sentir o calor do sol e ver um pedaço do céu.

- Ei, menina. - a senhora que havia chegado na noite anterior estava atrás, fazendo também a sua caminhada.
- Oi.
- Você tem muita dor dentro de você, não é?
- Como a senhora sabe?
- Eu posso sentir nos seus olhos. Qual seu nome?
- Me chamo Yasmin. Muito prazer! - respondi 

     - Eu me chamo Marta. Me diga o que te deixa com tanta dor.
- É uma longa história, Dona Marta.
- Entendo. Quem sabe outro dia a gente pode falar sobre isso.

Continuei caminhando e logo ela parou de conversar comigo, assim que acabou o banho de sol fomos almoçar.
A comida era uma porcaria, quantas internas já não foram para no hospital por causa daquela lavagem. Comi só um pouco de arroz e fui me deitar.  A dona Marta veio até minha jega e perguntou se podia ficar ali comigo.

- Yasmin, desculpe a intromissão, mas eu vejo tanta dor em seu rosto que a minha vontade é só te abraçar.

Ela nem terminou de falar e meu deu um abraço. Senti um carinho tão bom naquele momento, que por segundos me lembrei da minha mãe.

- Não chore, querida. Você vai superar tudo isso.
- Obrigada. - fiquei alguns segundos em silêncio - me fale sobre a senhora.
- Bem, eu tenho 50 anos, sou nascida e criada no Rio de Janeiro e tem mais ou menos uns 10 anos que me mudei para Brasília, infelizmente vacilei e acabei vindo pra cá.
- Nossa, eu sinto muito.
- Está tudo bem, eu já fui presa outras vezes e sei como é.
- sério?
- Sim! Eu sou chefe de quadrilhas de assalto a bancos e cadeia pra mim ja virou uma coisa muito normal.
- ainda bem que a senhora vê como normal, porque eu não me vejo nunca mais em um lugar como esse. - a partir daí contei toda a minha história pra ela.

- Menina, como você é forte por segurar essa onda.
- Não tem outro jeito dona Marta.

Desde esse dia nos tornamos boas amigas e logo as meninas da cela começaram a ficar de buxixo me chamando de interesseira.
Olha, esse lugar é uma merda e faz as pessoas pensarem como tal. Nunca precisei forçar a barra com ninguém, ainda mais por causa de grana.
Os dias se passaram e logo chegou o dia de visitas. Esse dia era sempre um dia de ansiedade, tristeza e saudades para as internas. Assim que os portões abriram fui me sentar no fundo do pátio, logo a Dona Marta veio atrás de mim .

- menina, quero te apresentar meu filho.

Fui caminhando com ela no pátio, que neste dia ficava lotado.

- Caio, essa é a Yasmin que te falei.

quando ele virou, tive  a graça de ver o homem mais lindo que já vi em toda a minha vida
Continua..

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