Para Além das Grades

capítulo 20

Para além das Grades

Capítulo 20

Ouvi a maçaneta da porta e já fui correndo pra sala, o Caio abriu a porta e me joguei em seus braços.

- Que saudade meu amor, por favor não faz mais isso comigo.

- Me desculpa, amor. Eu estava sendo covarde.

- Você não é covarde, sei o sofrimento que você passou naquele lugar. Promete pra mim que nunca mais irá me deixar?

- Eu prometo!

Nesta noite fizemos amor e matamos toda a saudade que sentíamos um do outro e eu prometi para eu mesma que jamais iria deixar ninguém nós separar.

Alguns meses depois..

Tudo caminhava bem, já tinha uns meses que a Yara estava no colégio, eu e o Caio vivíamos a vida de uma forma incrível, sempre íamos as festas e viajávamos bastante. Já tinha algum tempo que ele voltou para o trabalho e voltou para o trabalho, pois, desde que teve os problemas com a ex teve que se ausentar do trabalho por algum tempo e deixou as atividades com o sócio da empresa. Eu e a Yara decidimos começar a nossa confecção e como sabíamos pouco de costura fizemos um curso de corte e costura e logo abrimos nossa lojinha ao lado da feira do goianos. Não era uma loja muito grande e o espaço ficou legal e a nossa produção acontecia no segundo andar, contratamos algumas meninas para nos ajudar e as peças estavam fazendo muito sucesso e tudo era produzido com o nosso toque, vestidos, biquinis e leggings. Descobri que a costura me deixava cada vez mais relaxada e me joguei no trabalho de domingo a domingo. O Caio reclamava um pouco, mas logo o convencia que aquilo era algo que eu amava de verdade.

Há algumas semanas atrás o teve uma audiência a respeito das agressões que sofri quando estava reclusa. Durante as visitas que o Caio fazia a Dona Marta soube de vários afastamentos de agentes na unidade prisional, mas eu não estava por satisfeita, queria de alguma forma fazer algo para que as meninas não sofressem agressões dentro do sistema prisional e assim tive uma ideia brilhante.

Fechei a loja e fui pra casa doida para contar a ideia.

-Gente, tive uma ideia brilhante! – falei durante o jantar. – Estou pensando em fazer uma faculdade.

- Você precisa terminar o ensino médio, mana.

- Eu terminei quando estava presa, fiz na modalidade eja.

- Que bacana! – falou Caio. – Você está pensando em cursar o que?

- quero fazer jornalismo!

- Por que logo jornalismo? – perguntaram em uníssimo.

- Eu vou lutar por todas as mulheres que não tem um tratamento digno na prisão.

- Mas isso é complicado, Amor. A sociedade tem o pensamento que bandido bom é bandido morto, que todo o castigo é pouco e etc..

- Eu sei disso, mas a sociedade é omissa, né. Já pensou se todo mundo exigir qualidade de ensino, distribuição de renda justa e parar de votar errado?? Acho que os presídios ficariam vazios. E outra, não adianta nada prender, matar ou o que seja de ruim, se não ressocializa e não previne a criminalidade só vai aumentar.

- Nossa, mana! To contigo e não abro, amei tudo que você falou! Agora me fala onde você aprendeu tudo isso.

- Como assim?

- Essas paradas de omissão, educação e tal.

- Amorinha, é só olhar ao seu redor e sentir a estrutura.

- Não entendi – respondeu Yara.

- Yara, ninguém pega uma arma e sai roubando por aí porque quer. Você sabe muito bem o que estou falando, a falta de dignidade, de acesso a direitos básicos são o motor para a violência que só cresce no país.

- Concordo com você, amor. Estou muito orgulhoso da sua escolha e estou contigo para o que der e vier.

- Aiii cunhado, você é a melhor pessoa!

- Então é isso, gente. Vou lutar por essas mulheres para que elas saiam de lá com perspectivas para enfrentar o que as espera aqui fora.

- Como você vai fazer isso, mana?

- Lutando para que a justiça seja feita. Elas tem direito a serem ressocializadas, sei que tem muita gente ali do mal, mas isso é uma questão cultural, as pessoas cresceram no meio da maldade, o contexto não ajudou na formação do caráter.

- Nossa, amor! Você é muito foda.

- eu quem diga, mana. Você consegue sim!

- o foda é o governo, amor, ele é responsável por ajudar nessa transformação, e agora temos um governo que não liga muito para a massa carcerária e se pudesse mandava jogar uma bomba nos presídios.

- Eu quero que esse presidente se foda! Ele não vai continuar no poder pra sempre e sei que a população já deve tá aprendendo que votar por moda é um tiro no pé.

- e onde você deseja estudar? – perguntou Yara.

- eu vou fazer o enem e ver se consigo ingressar em uma faculdade pública, se não conseguir tenho ao menos que tirar uma nota boa na prova para entrar em alguma instituição privada de jornalismo.

- Já que a minha gata é uma estudiosa precisamos comemorar.

-  Ebaaaaaaaa – exclamou Yara eufórica.

- Uma cliente abriu um açaí la na principal da Samambaia norte, podemos ir até lá. O que acham??

- Eu to dentro! – Respondeu Caio.

Me levantei da mesa e sentir uma tontura horrível.

- Me ajudem!

- O que foi? – perguntaram

- Eu acho que vou desmaiar.

Senti tudo escurecer e acordei dentro do carro

- Pra onde estamos indo?

- Vamos para o hospital.

Eu estava me sentindo muito mal mesmo, parecia que tudo estava girando e senti uma vontade enorme de vomitar. Chegamos no hospital e fui direto para o atendimento médico e logo depois fiz alguns exames.

- Irmã, você vai ficar bem.

- obrigada minha amorinha.

- Você está trabalhando muito, amor. Precisa parar um pouco e cuidar de você.

- eu comecei a trabalhar agora, amor. Tenho que correr atrás do meu.

- Com licença. – disse uma enfermeira. – os exames já saíram, o médico está aguardando por você Srta. Yasmin.

Entrei na sala do médico e esperei que ele abrisse os exames.

- E aí Doutor?

- Está tudo bem, querida. Esse seu mal estar é só um bebê a bordo.

- Hã????

Continua...