Para Além das Grades

Capítulo 6

Para além das grades

Capítulo 6

Os dias na cadeia são diferentes, mas sempre passam devagar. Hoje foi dia de visita das meninas quem tem a Inicial de A a L. As visitas acontecem na quinzena devido a essa divisão, e na semana que não é da nossa inicial, ficamos na cela sem banho de sol.
No final da visita, 3 meninas que é da minha cela  começaram a se drogar com rupinol. Elas estavam ficando cada vez mais doidonas com o efeito do remédio, e isso chamou a atenção da chefe de pátio, que junto com duas agentes mulheres e um agente homem, tirou todo mundo da cela e pediu pra gente abrir a boca, as que estavam de boca azul, foram levadas para um quarto que fica perto da torre das agentes. Voltamos para a cela e passei boa parte da noite ouvindo-as gritar.

SOCORROOOOO, ELES VÃO ME MATAR.
ME AJUDE, PELO AMOR DE DEUS.
SOCORROO.

Aqueles gritos me deixaram apavorada, já vi de tudo um pouco ali dentro, mas todas as vezes que escuto essas coisas me dá uma angústia terrível.
Chegou a manhã e nada delas voltarem para a cela, e realmente elas não iriam votar.. É sempre assim, as agentes espanca as internas e se ficar hematomas as jogam no isolamento até sumir qualquer vestígio da agressão.
Eu nutria uma revolta imensa, devido, a esse tratamento. A maioria das mulheres que estão aqui sofreram violência a vida toda, começando em casa, pela mãe, pais e irmãos, na adolescência ou vida adulta pelos parceiros e aqui no cárcere na mão dos agentes públicos do Estado.
O que mais tem são leis, que falam que devemos reconstruir a nossa dignidade humana, mas o que vejo aqui, são tratamentos monstruosos.
A xepa chegou, e eu sabia que nada de bom teria ali, quando abrir senti o cheiro azedo. Joguei no lixo e fui comer um miojo que a dona Marta estava preparando em uma engenhoca com a embalagem da xepa que as meninas costumam reutilizar para estes fins.
Logo, uma agente me chamou na grade e ordenou que me preparasse, pois, meu advogado estava querendo falar comigo.

Eu não entendi, nunca um advogado veio falar comigo. Eu tinha um defensor público, mas ele nunca havia vindo até aqui.
Continua..