Capitulo 1

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- São cerca de 3 horas da manhã, e eu estou tentando imaginar como é bom estar viva... O asfalto molhado depois da chuva reflete a luz dos postes, como se em cada poça Deus quisesse tampar cada buraco habitado pelo homem com um ralo.

- Certo continue.

- Vejo a placa de um carro cruzando uma rua antes da Praça Raul Soares, vejo as arvores da praça também, e juro que posso contar cada folha e cada gota de chuva em cada uma delas, eu vejo tudo e tudo e tão lindo. Então eu o vejo também, próximo à praça. Ele usa uma camisa social preta, e calça jeans, em sua mão carrega um guarda-chuva fechado e vem em minha direção, e eu acelero o passo para conseguir esbarrar com ele enquanto atravesso a rua.

- Hum, interessante, prossiga.

- Já, a alguns metros posso ver o seu rosto. Parece ter uns 17 anos, seu cabelo molhado o faz parecer mais jovem, sua expressão parece cansada, mas segue rateando pela vida. Já estou mais perto agora, 3, 2 quarteirões. Então ele para de repente. Olha para o céu nublado, como se procurasse uma resposta entre os galhos nus das arvores. Mais eu sinto algo diferente.

- Certo, e o que é?

- Não sei, talvez seja uma forma irracional dele me dizer “predador”. Ele retoma o passo, e eu, ando mais rápido. Já estou próxima agora, 10, 9, 8 passos, nossos olhares se encontram a apenas 1 metro de distancia, então eu vejo a sua historia, a dor e o amor esculpido em sua face.

- Então...

- Eu me apaixono por ele. Apaixono-me assim todas as noites e pelas manhãs acordo com o coração partido novamente. E de alguma forma a culpa e só minha.

- E por que você acha que a culpa por se apaixonar e apenas sua?

- Não por me apaixonar entende. É como se eu tivesse feito algo a ele no passado, como se já nos conhecêssemos.

- Sim. Você sabe que isso e impossível não é?

- Sim eu sei – respondo a ele enquanto abaixo a cabeça – Mas de alguma forma isso me perturba também.

- E quando esses sonhos começaram?

- Desde que...

- Quando?

- Desde...

- Diga Michaela, precisa se livrar disso.

- Desde que aquilo aconteceu.

- Certo. – ele balança a cabeça de forma negativa – Olha Michaela, isso e só um sonho certo. Uma representação do que você sente. Esse rapaz, não e real. Seu subconsciente apenas esta te cobrando uma atitude, algo que altere esse final, você consegue me entender? – Balanço a cabeça de forma afirmativa – Certo. Então terminaremos essa sessão por aqui, senão você se atrasa para o seu primeiro dia de aula.

- Esta certo doutor. – dou-lhe um leve sorriso – Até a próxima sessão.

- Até.

Não chego a olhar pra trás quando saio da sala do doutor Carlos, me sinto mais aliviada ao sair dali do que nunca. Enquanto caminho pelo corredor saindo do consultório do Dr. Carlos, eu fico pensando no que ele me disse, talvez ele esteja certo, afinal e psiquiatra, e psiquiatras sempre estão certos não é? Então vejo a minha amiga parada na recepção, ela conversava animadamente com um office-boy como se fosse o ultimo rapaz da terra. É bem o jeito dela. Jessica tem 16 anos assim como eu, apesar de ser um pouco gordinha, nada que chamasse atenção se é que posso dizer, ela tem um corpo atraente, a pele morena de sol faz com que se destaque entre outras garotas assim como seu cabelo castanho que ela faz questão de cuidar e criar 1001 penteados. Chego por traz dela a tempo de escutar ela tentar passar o telefone para o rapaz que prontamente diz ter namorada, o que não a impede de insistir.

Gênese: Entre o céu e o infernoOnde histórias criam vida. Descubra agora