Amargo Sabor Do Amor [EM ANDAMENTO]

A Noite É Uma Caixinha De Surpresas

•Mellany•

Já são quase 19h e a minha colega de quarto/melhor amiga ainda não está pronta! Se eu não quisesse tanto a presença dela essa noite já teria deixado ela para trás.

— Stella, anda logo! Você tem ideia de que tenho uma apresentação a fazer? E que essa apresentação precisa da minha presença fisica e não por telepatia?!
— Tá bom tá bom, já estou terminando, só falta escolher o salto. Pode vir aqui me ajudar?

Reviro os olhos ao saber do que se trata. Qual a dificuldade de escolher um salto?! Subo o lance de escadas e a vejo na porta, usando apenas uma lingerie e segurando um par de saltos incrivelmente altos.

— Preto ou vermelho?

Suspiro.

— O preto vai lhe cair melhor, vamos logo Stella! Por que ainda está seminua?
— Ok ok.

Ela calça um salto treze e veste um vestido azul que já estava separado num canto da cama, dá uma última olhada no seu reflexo pelo o espelho que me pareceu longo demais. Reviro os olhos novamente, mas dessa vez ela percebe.

— Meu Deus como você é chata, nem parece que também é mulher. Tudo pronto flash-girl, vamos antes que você me mate!

♡♡♡

Assim que chegamos às 20:15h, perdi a noção do tempo ao me concentrar apenas na montagem do meu figurino e minha maquiagem. Estou esperando por esse dia a quase 6 meses, e venho me preparando antes ainda desse período de tempo. Amo o que faço, o ballet foi a minha fuga dos problemas e batalhei muito para chegar na posição que estou hoje.

Andie, minha assistente de produção entra no camarim anunciando.

— Está pronta? Você entra em dez minutos.

Aceno de forma positiva me preparando para o grande show.
Assim que subo no palco já consigo sentir a energia do público pairando sobre mim.
A música clássica começa a tocar e junto com ela meu corpo se move lentamente. Com passos ritmados e precisos vou deixando que o meu corpo sucumba ao toque da música.
Cada nota tocada sinto como se a energia da canção invadisse todo o meu interior.

Aos quase quinze minutos da atração, meu número acaba e após receber a salva de palmas do público, me retiro e vou direto para o camarim.

— Uau! Você foi incrível Mel, não esperava menos da melhor dançarina da América do Sul, senão do mundo todo.

Diz Stella sorrindo e vindo de encontro ao meu abraço.

— Obrigada, sabe o quanto a sua presença aqui significa pra mim né?
— É claro que sei, o que você faria sem mim não é mesmo?

Rimos e ela me ajudou a me trocar.
Stella sempre me tratou com carinho e delicadeza, mesmo nas horas em que ela era mais absurda. As pessoas estranhavam tanto carinho e demonstrações de proteção e afeto. Eu particularmente sempre gostei disso nela, afinal, é isso que os amigos fazem, não é?

Quando nos enfiamos pela multidão em busca da minha mesa reservada, pude sentir muitos olhos em cima de mim.
Nos acomodamos e nos servimos de petiscos e champanhe.
Durante toda a noite senti uma sensação estranha no ambiente como se alguém estivesse me vigiando e me olhando por baixo das roupas. Sim, estava recebendo bastantes olhares furtivos, mas nada se comparava com essa sensação.

— Mel, quero que diga "oi" a um amigo que conheci há poucos minutos no camarim. Ele parece importante então não faça pouco caso. – Essa última frase ela falou quase que em um sussurro. –

A voz de Stella interrompe meus pensamentos e assim que olho em sua direção minhas pernas fraquejam e sinto uma pontada de dor no coração. Todo o sentimento que um dia esteve guardado acabara de sair como um furacão destruindo tudo ao seu redor. Fiquei mais ou menos cinco segundos nesse estado de transe, até que a minha voz surgiu fraca.

— Olá.

Falei engolindo em seco.
Era ele! Bem ali, parado a minha frente me analisando com cautela. Patrick Presley havia retornado? Mas como? Quando?

— Eu adorei a apresentação, você realmente é ótima no que faz.

Disse gentilmente segurando a minha mão e levando até a boca para um beijo casto.
Ainda sem voz, consegui apenas assentir com a cabeça.

— Não se preocupe, ela tende a ser confusa às vezes. Coisa de artista, Mel, conheça o Sr. Presley. Bom, vou buscar um pouco de champanhe e já volto, não saiam daqui.

Stella saiu rápido mas antes me deu uma piscadela discreta.
Fechei os olhos com força, então quando os abri, sabia exatamente como agir.

— Fiquei com medo de não me reconhecer, mas pela sua cara, sua memória não está assim tão fraca.

Patrick, (O dissimulado) disse, me dando um de seus sorrisos do qual me lembro muito bem. Não posso negar que quase por um segundo estive prestes a retribuir o sorriso. Ele ainda era o homem mais bonito que os meus olhos já viram.
Cabelos negros, corpo esguio, alto, olhos azuis cor âmbar e dono de um puta sorriso. – Maldito seja! –
Consegui fugir desses pensamentos assim que me lembrei de como foi embora da minha vida e como foi difícil pra mim, superar o seu abandono.

— Sabe, nosso cérebro tende a não se esquecer de coisas negativas, mesmo que a coisa em si, tenha acontecido há sei lá, cinco anos atrás?!
— Mellany, eu preciso falar. Deixe-me falar.

Ele segurou o meu braço colocando um pouco de força a ponto de me manter parada.

— O que está fazendo? Solte-me!

Falei baixo, tentando desfaçar e fingindo que tudo estava bem, já que havia pessoas ao redor da mesa que olhavam com certa curiosidade.

— Olhe pra mim Mel.

Como ele ousa?!

— Não me chame assim, pra você eu sou a Srta. Carvany.

Tentei parecer completamente segura com ele tão perto. Droga, podia sentir seu perfume misturado com o cheiro masculino. Mas qual é o problema do meu corpo?!

— Como você consegue ser a mulher mais linda que já vi na vida mesmo depois de tanto tempo?

Fico imóvel com sua confissão e mesmo contra a minha vontade algo em mim se acende com suas palavras, a maneira como me come com os olhos... NÃO! Mellany não seja fraca, você merece mais que isso!

— É uma grande pena que agora o máximo que possa fazer, é apenas olhar de longe para essa bela paisagem. Adeus Sr. Presley!

Aproveitei sua reação surpresa e me desvencilhei de seu aperto.
Criando forças, consegui mexer as pernas para sair o mais rápido que pude dali. Demorou poucos minutos para achar Stella e irmos direto para casa sem interrupções. Ela perguntou sobre o "nosso" mais novo conhecido e tudo o que fiz foi inventar alguma desculpa, não tinha forças pra falar sobre o assunto naquele momento.

Sinto que acabo de perder o controle sobre os meus sentimentos e a culpa é toda daquele cretino cujo meu coração ainda acelera ao lembrar-se de seu rosto, da sua voz, do seu cheiro. Maldito Patrick! Eu não quero me perder de novo, mas não posso evitar se ele me procurar novamente. O que eu poderia fazer se o meu coração ainda sofre e bate ao mesmo tempo por aquele homem?!