Tapete De Mentiras

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•Mellany•

Passaram-se dias desde que voltamos para o Rio, tenho tido pouco tempo para quase tudo na minha vida e talvez por isso eu tenha me desviado dos problemas pessoais. Um deles mora comigo e desde que voltei, não tenho visto nenhuma movimentação dela.


Hoje terei uma pequena apresentação no centro do Rio, e por incrível que pareça, é o dia mais calmo dentre os últimos.
Estou sentada no sofá da sala, vestindo um pijama antigo e enrolada na coberta, o barulho da chuva e o som vindo da chaleira são as únicas coisas que se podem ouvir por aqui.
Nosso apê é bem espaçoso e confortável, os quartos ficam no andar de cima, a cozinha praticamente na frente da sala, e ao lado da TV, temos a sacada que nos dá a visão do mar a uma bela distância. Escolhemos o bairro Leme por ser seguro e pela vizinhança, não que sejamos amigas de todo mundo, mas é um lugar bem aconchegante e tranquilo.

Por onde anda Stella?

Me fazia essa pergunta desde a hora em que levantei da cama. Nós não conversamos ainda e apesar de estar magoada com tudo o que foi dito por ela, ainda me preocupo com a nossa amizade.
Assim que Deb morreu, eu a conheci. No início foi estranho porque era como se ela já me conhecesse há bastante tempo. Ela sempre foi boa em deduzir, geralmente acertava de primeira, coisas que apenas alguém próximo a mim poderia saber ou então contar a ela.
Nossa amizade só se fortaleceu dois anos após o meu término com Patrick e é daí que contamos.
Ela me incentivou a dançar e no começo me acompanhava em todos os ensaios, aulas. Não é de se estranhar o porquê de eu estar tão confusa com o comportamento dela nas últimas semanas.

Sirvo-me com um pouco de chá e olho pela porta de vidro que liga a sala a sacada.

Como posso achar respostas se Stella simplesmente desapareceu e não atende e nem responde às minhas mensagens?

Olho pra escada e uma ideia passa rapidamente pela minha cabeça.
Dá última vez que fiz isso eu tive descobertas que me levaram ao mais fundo do poço, mas era isso ou ter que continuar na dúvida e sem qualquer pista.

Subo vagarosamente degrau por degrau, alcanço a porta do seu quarto e a indecisão retorna com força.
É errado, mas é necessário, essas são as únicas certezas que tenho.


Abro com cuidado a porta e assim que a fecho, vasculho cada minúsculo lugar de toda a extensão do quarto.
Encontro de tudo, inclusive seus brinquedos eróticos, mas nada de anormal até então.
Bom, achei algumas fotos minhas em excesso espalhadas nas suas gavetas de calcinhas e até algumas roupas minhas, mas evito formular qualquer ideia sobre isso. Muito provavelmente ela pegou algo emprestado e esqueceu-se de devolver.

Abro um estojo amarelo que estava na parte de cima do guarda roupa, atrás de algumas caixas, aparentemente algo comum, mas o peso me chamou a atenção.
Havia um celular antigo dentro, daqueles que nem touch screen era, mas não tão antigo que não houvesse câmera.

Por falta de algo mais interessante, apenas guardei dentro do bolso e deixei tudo no seu devido lugar, já era quase cinco horas da tarde e eu precisava tirar um cochilo rápido antes de começar a me arrumar para o evento de hoje à noite.

A assessoria havia me ligado mais cedo informando o horário em que a equipe de produção chegaria aqui em casa para me ajudar com o figurino e a maquiagem, hoje eu seria duas em uma. Metade bailarina, metade atriz.
Por sorte a entrada do meu carregador era compatível com a entrada do celular que achei, então o deixei carregando e fui descansar para mais tarde.

♡♡♡

— Querida você não parece estar animada pra sua star night, eu posso passar o que for nesse seu belo rostinho, mas não vai adiantar em nada se você não mostrar o seu sorriso. – Elias, meu maquiador me olhava pelo espelho com a sua melhor cara de indignação. Sorrio com a sua maneira espontânea de sempre. — Eu estou animada, só estou com a cabeça longe, eu acho.

— Não não amore, precisa trazer ela de volta pra terra. Vamos, me dê um sorriso de garota Copacabana! — Rio mesmo sem vontade. Elias é uma das pessoas mais engraçadas e animadas que conheço por hora, ele parece estar satisfeito, e pra mim isso é bom.

A verdade é que nem eu sei o que está havendo comigo, é como se estivesse esperando por alguma coisa.

Assim que todos se vão, volto ao meu estado "nefelibata". Observo o celular que encontrei nas coisas de Stella mais cedo e fico imaginando se quero mesmo olhar o conteúdo do aparelho.
O celular já está com a bateria totalmente carregada e criando toda a coragem que consigo absorver, o ligo em busca de qualquer coisa que mude o meu ânimo ou pelo menos algo que me dê alguma resposta.

A foto na tela são de duas garotas, uma delas é Stella, e a outra está com uma máscara de festa, o que me impede de ver direito o seu rosto. Abro a galeria e vejo fotos similares, algumas mais indecorosas mostrando o corpo da outra garota e cortando o rosto.
Não parecem amigas, é quase como se fossem amantes apaixonadas ou qualquer outra coisa com o teor romântico e sexual.

Por incrível que pareça, não fico chocada com a descoberta, depois do que houve em Brasília, me parece bem normal agora. Nas fotos Stella parecia ter entre dezessete a dezoito anos, e refletia felicidade. A caixa de mensagem era bloqueada por isso não obtive nenhuma sorte tentando vasculhar por ali.

Não sei exatamente como cheguei à lista de contatos, mas assim que me dei por mim, lá estava eu, ligando para um contato com o nome "Amor". Além de ser um dos únicos contatos salvos no aparelho, era também o contato de emergência.
Minha curiosidade foi tanta, que mal pensei antes de fazer e então disquei o número na mesma hora.

Se antes eu não havia ficado chocada, dessa vez com certeza fiquei.


A voz de Débora minha falecida irmã, surgiu como gravação de correio de voz. Senti as pernas fraquejarem, o coração falhar e o espaço de repente parecia pequeno.
Se esse número era o da Deb, então provavelmente todas aquelas fotos eram das duas juntas.

Como um jato de água apagando o inicio de um incêndio, a campainha toca me trazendo novamente para a superfície.

"Preciso me concentrar na noite de hoje."
"Foco Mellany, foco!"

Repeti isso ao menos cinco vezes antes de abrir a porta para o meu namorado.
Me esforcei para parecer o mais natural possível, não queria que a noite dele também fosse rodeada de questões e perguntas mal resolvidas.

E agora aqui estou eu, sendo aplaudida após uma pequena fuga de pensamentos, o que para mim, é também uma terapia.
E apesar das recentes descobertas, eu me sinto mais forte.
Vou fazer disso uma tarefa, irei descobrir tudo sobre o passado de Deb e principalmente sobre quem Stella realmente é, não dá para continuar parada observando o mundo em chamas, é necessário tomar uma atitude, e não há melhor pessoa para o cargo!

Amargo Sabor Do Amor [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora