Touro 5

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Aos amantes que lêem isso, já amaram tanto alguém que tiveram de desistir daquele amor?

Minha mãe uma vez me disse que uma pessoa que não se ama, não é capaz de amar ao outro. Que aquele sentimento pode ser qualquer coisa.

Menos amor.

Então repito, já tiveram que desistir de alguém? Por amor. Porque amavam mais do que tudo, o suficiente para entender que deixá-la feliz era mais importante do que ter a posse dela?

Posse. Acho que é a palavra chave dos taurinos, acima de tudo querem ter.

Posse.

Riquezas, conforto...de alguém... Querem ter posse.

A garota de Touro me disse que se sente insegura com seu corpo, e que acha que pode ser facilmente substituída.

— Não é ciúmes, é medo.

Ela me disse.

Posse.

— Não acha que isso pode machucar ou atrapalhar seu relacionamento? Ter medo de todo mundo que fala com a pessoa que você ama? De nunca se sentir o suficiente?

— O ciúme só surge se a outra pessoa permite, não concorda?

— Não... Acho que amor é mais do que medo, amor também é confiar.

— Confiar cegamente como um soldado indo a guerra confiando em sua pátria?

Nossa, que exemplo maluco.

Ela riu sarcasticamente de mim.

— Amor não é só confiar — continuou — É também ter medo, ser inseguro, dizer que não sabe. Amor não é se entregar por completo, amor é se jogar o quanto puder, sabendo de suas limitações. Viver com alguém sem ter medos, sem ter dúvidas, é fingir que seus sentimentos não existem.

Ela ampliou meus horizontes ao terminar sua fala.

Amor também é ser inseguro.

Voltamos a ficar abraçados, olhando o filme de terror que passava na televisão, nos entupindo de açaí.

Logo pude perceber tudo que estava acontecendo. Ela tinha medo, de mim.

E eu também tinha medo dela.

De não estar cem porcento pronto para abraçar sua insegurança.

O abraço da garota de Touro era gostoso. Único.

Pois me fazia sentir seguro, eu não conseguia retribuir aquela segurança.

Meus braços não conseguiriam suportar suas necessidades.

Mesmo que eu quisesse aquela garota por toda minha vida. Talvez não a fizesse feliz.

Nossos olhos se encontraram numa linha tênue de um horizonte imaginário. Nem os gritos de terror eram capazes de nos tirar do transe.

Ela pôs o pote de lado, pronta para encostar nossos lábios gelados. O beijo aos poucos foi se encaixando.

Pelo alvoroço, batemos os dentes. Fiquei com medo dela ter raiva, entretanto recebi seu sorriso quente.

O beijo não foi quente.

Foi gelado.

Úmido.

Não trocamos prazer, sexualidade e muito menos tesão naqueles toques lentos.

Apenas sentimentos, tudo o que transmitimos um para o outro foram nossos sentimentos.

E ali ela entendeu, que aquele poderia ser nosso último beijo.

O último contato de amor que tive a garota de Touro.

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