— E você parou de falar com ela!? — Bianca me questionou.
Na verdade seu questionamento saiu em meio a gritos.
Ela tinha os piores momentos para puxar os assuntos mais íntimos.
A rua estava cheia, carros não ousam passar, placas, bandeiras e gritos de ordem sendo soltos por todo lado. Auxiliados a ritmistas tocando tambores barulhentos.
— Sério que a gente tem que conversar sobre isso numa passeata!? — gritei de volta — Nós conversamos, mas só isso.
Andávamos lentamente pelas ruas da zona norte.
Alguns iam para tirar fotos, outros, para pedir apoio político.
Abutres.
Pessoas que se esqueceram do que pedíamos naquele momento. Justiça.
Sim. Estávamos numa passeata.
— E agora!? — Bianca virando sua cabeça violentamente batia com as tranças nas pessoas — Cruzes André, quando vai parar em alguém?
Também queria saber.
— Bem, mas pelo que ele disse, fez o certo. — Disse seu Eraldo.
Sim, Seu Eraldo.
Ele havia conseguido um emprego, ficamos muito feliz por ele.
A passeata parou em um ponto de descanso. Onde pessoas politizadas faziam seus discursos de protesto e ordem.
Nós três fomos para um canto, pedimos alguns latões de cerveja aos ambulantes próximos.
Pessoas sagazes que sabiam o quanto burguês gosta de falar sobre política e beber cerveja.
Fomos para um banco com nossos cartazes e por lá ficamos.
— André... Você não entendeu nada, né? Tem que aprender a diferença entre o medo de querer machucar alguém e o medo de querer se machucar.
Bianca adora me massacrar com sua razão.
Doía saber que não havia argumentos contra suas falas.
— E você Seu Eraldo?
Perguntei na esperança de que ele me apoiasse.
— Acho que você deveria acender esse baseado.
É, não foi algo tão legal de se ouvir.
Mas acendi mesmo assim. O cheiro da erva subiu mudando o ambiente ao nosso redor.
Era gostoso, prazeroso estar ali.
— Você tem fogo?
Uma voz doce me chamou pelas costas, ao olhar vi algo encantador, que me fez brilhar os olhos.
— Lá vamos nós de novo... — disse Bianca tentando ignorar meu destino.
Mas eu não podia ignorar.
Com aquele cabelo raspado rosa, e sua camiseta cheia de furos, mostrando os piercings em seus mamilos. E a sua calça legging preta.
Perdoai a mim, mas que bunda...
Sua pele branca com algumas sardas e olhar verde combinavam impecavelmente ao momento.
Os gritos de protesto ao fundo, e eu desesperado para lhe ceder meu isqueiro.
— Aqui olha... — No exato momento em que consegui achar em minha calça o item tremeu em meus dedos.
Com a provável ansiedade que tive em encostar daquela pessoa.
O tremer de meus dedos fizeram meu isqueiro cair no chão.
Para piorar, ele quicou longe de meus pés, e deslizou sobre um bueiro.
Maravilha André... Você é um desastrado mesmo.
— Oh... Sinto muito — Aquela voz doce falou com certa ironia.
— Me perdoa... Fiquei nervoso em ver você.
Bianca e Seu Eraldo ficaram boquiabertos.
Até eu mesmo fiquei, nunca fui de me expressar com tanta facilidade.
— Você é um amor. — Ele sentou ao meu lado — E não se preocupe. Eu tenho fogo, só queria chegar em você.
Os isqueiros são caros. Pelo menos para quem apenas estuda.
Mas tudo bem, se eu pudesse ter o fogo dele, nada antecessor me entristecia.
Naquele ar diferente no meio da manifestação e uma bagunça mental. Começou.
O meu amor ao garoto de gêmeos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Inferno Astral
Novela JuvenilQuantas vezes uma pessoa pode se ferrar por causa do amor em um ano? A resposta de alguns será muitas, a de outras apenas uma, mas para André 12 é o número ideal. O zodíaco só serviu para lhe pregar uma peça de mal gosto cujo o intuito é dizer que n...