Inferno Astral

Áries

A música está alta, batidas poderosas de um tipo de funk que não consigo distinguir. Nunca fui fã do estilo. Contudo tenho que admitir que não dá para curtir uma noite de balada sem ouvi-lo. Na real não gosto nem mesmo de balada, meu corpo nitidamente duro mostra o quão bom sou na dança, além do mais nunca achei atraente essa fricção que nós homens temos que fazer no ar. Acho engraçado mesmo rebolar.

Sinto naquele ambiente escuro um toque, diferente dos esbarrões e golpes de ombros, ele bagunçava meu cabelo preto e cacheado amassando contra meu próprio crânio.

— Vamos lá André! Para de ficar viajando! — Disse minha amiga.

Bianca é o nome dela, uma garota maravilhosa com o sorriso sempre aberto e seus cabelos sempre trançados, sua pele preta que fica bonita em qualquer ambiente.

E você deve estar se perguntando o porquê. Por que estou falando tais coisas em tal lugar?

Nunca tive sorte nos relacionamentos duradouros, Bianca mesmo sempre me disse que devo ser uma pessoa que se encaixa no tipo de relacionamento do amor livre.

Entretanto discordo dela, quer dizer, tento discordar, mas não possuo bons argumentos. Culpo principalmente não a mim, mas ao destino infeliz que quis criar o zodíaco.

Sim, o zodíaco.

Todo mundo possui seu inferno astral em uma das doze casas de nascença, porém o próprio zodíaco fez questão que meu inferno seria nas doze.

E não tem como iniciar essa história sem falar deste primeiro momento, nesta primeira garota.

— Foi mal — Sorri para Bianca afim de fugir de meu interlúdio — É a maconha! — Minha explicação nem fazia sentido para Bianca que também usou e se sentia do mesmo jeito.

A maconha que utilizamos deixou a festa para mim muito mais… sensível. Os toques e rostos passavam na minha frente como um transe de imagens.

— Sabe que não é disso que estou falando! — Ela se ajeitou próxima ao meu ouvido para terminar sua fala — Vai nela!

Como se fosse simples. Algumas pessoas vão me entender, para a bissexualidade é muito simples chegar em homens. Somos simples, sem muitos requisitos, espécie de balões de vento com tesão e algo duro entre as pernas. Nem sempre grande.

Agora conquistar uma mulher, essa é uma frase que não tem verdades, pois ela só é conquistada se quiser. Ela pode escolher se beijará sua boca, só isso, não houve seu charme, beleza física, sorriso quente, apenas o desejo dela.

E o "vai nela!" Que Bianca havia dito foi por perceber descaradamente meus olhares apaixonados a uma garota, com seu cabelo black que batia na cara de toda falsa beleza branca, no caso a minha.

Seu sorriso era um atrativo, sua bunda um pecado. Vendo aquilo por um tempo que não sabia queria ter ela nos meus braços ou na minha cama.

Provavelmente nos dois.

Nossas trocas de olhares eram intensas, mas não acreditei que uma garota tão beleza ia querer um garoto tão franzino.

Só que a maconha me deu coragem, o álcool me deu coragem.

E porquê falei sobre o zodíaco?

Pois a garota de Áries, com aquele sorriso de tirar o ar dos pulmões de qualquer um, e aquela dança que dificultava meu controle sobre o líbido, foi o meu primeiro inferno.