Aquelas viagens para sítio, ou casa de veraneio onde você é obrigado a ficar na frente da churrasqueira por que está cheio de fome e sua família se conjuntura em um bando de esfomeados sádicos que comem carne como se fossem aqueles documentários de hienas que você só pensa "Nossa, mano que animal desgraçado".
Tenho algo a lhe dizer, sair com pessoas da sua idade é do mesmo jeito. Esqueci que aceitando o chamado de Bianca estaria adentrando a pior das situações. Jovens que adoram beber, mas estão sempre vomitando, e também amam fumar maconha, todavia estão falando...
Como posso dizer...
Merda, sempre estão falando merda.
Era a minha quinta tentativa, estava envolto de raiva. A primeira eu ainda tava trocando de roupa quando gritaram que a carne tava pronta, quando cheguei no acesso da casa e olhei para a tábua só havia sal grosso.
Malditos jovens esfomeados.
A segunda havia resolvido relaxar na piscina, junto a todos. Pessoas de cabelo dread, gordas, magras, de voz engraçada, com cicatrizes — visíveis —. Sabe uma turma de "terceirão" que se encontra tempos depois e algumas meninas tão grávidas, outros estão casados e o resto é vagabundo e apenas duas pessoas continuam estudando? Então, esse era a savana africana em que eu me encontrava.
Eu e Bianca éramos os pobres urubus que queriam só um pedaço de carne de churrasco, mas ela havia ascendido para uma leoa majestosa por estar com o dono da casa.
Não tenta trazer uma única carne para seu amigo.
Tomara que ela tenha comido a carne de Chernobyl também... Vaca.
Sobre a segunda vez. Mal sucedida, a salsicha branca aqui não conseguiu sair com tanta voracidade da água, ao contrário daquela multidão de esfomeados!
Socorro Deus, deveria ser crime uma coisa linda ficar tanto tempo com fome.
Agora acá estou, sentado do lado da churrasqueira, suando tanto como a carne de porco que o garoto de faceta de neném acabou de colocar. Fedendo ao cheiro da fumaça.
Já viram um garoto magro e branco fedendo? É talvez o pior cenário de comunicação possível. Eu já sou branco, com odor não dá para defender em nada.
Você é amigo da Bianca não é?Pude ouvir uma voz ecoar no meu subconsciente, tentando me tirar de todo esse desabafo maravilhoso que acabei de ter com você.
Até que algo de molde espetado começa a pendular na minha vanguarda com um belo pedaço de filé assado, meu rosto e baba acompanham como um cachorro desesperado.
— Ei!
Sou despertado com um berro e sorriso afáveis. Daquele garoto que fazia as carnes, separando uma especialmente para mim.
Não sei por que há esse estigma de pessoas usarem óculos em livros serem consideradas "feias".
Na vida real são tão fofas.
Sim, estou romantizando a miopia, se for crime me prende.
— Ei! — Ele me chamou novamente, me retirando dos meus pensamentos mais uma vez com sua risada contagiosa — Você é o amigo da Bia não é?
Bia? Quem tem a audácia de pôr um apelido na minha amiga?
— BIANCA? — Fiz questão de falar alto — Sim! Sou amigo dela — Tentei sorrir para não parecer em esfomeado enquanto deliciava aquela carne cortada cedida a minha pessoa.
Ele se voltou para a grelha novamente. Fazendo sua risada se abafar no som das gotas de gordura que entram de digladio as brasas, soando um brandir semelhante à abertura de uma tampa de garrafa.
— Bem que ela me disse que você era bonitinho para um garoto branco...
Isso foi um... Elogio?
Se conjuntura como elogio?
O garoto está me dando comida e fazendo carinho em meu ego.
Merda... E lá vamos nós de novo.
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Inferno Astral
Ficção AdolescenteQuantas vezes uma pessoa pode se ferrar por causa do amor em um ano? A resposta de alguns será muitas, a de outras apenas uma, mas para André 12 é o número ideal. O zodíaco só serviu para lhe pregar uma peça de mal gosto cujo o intuito é dizer que n...