Capítulo 19

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Omar e eu continuamos a pensar nas possibilidades... Para mim era muito estranha e suspeita a amizade entre ela e o meu cunhadinho Ariel.  A solução mais fácil para isso seria Omar continuar a sair com ela, mantê-la, digamos, distraída, apaixonada pelo meu amigo. Omar achava graça o fato de eu ter uma ideia assim tão suja, a de seduzir uma mulher, para mantê-la sob controle. É claro que não seria sacrifício nenhum, pois Alice apesar de detestável era uma mulher lindíssima, com um corpo escultural e muita sensualidade em seus gestos.

Finalmente chegou o momento que eu mais temia, aquele em que Lety contaria como fez para chegar a números tão otimistas no balanço. Ela parecia preocupada quando começou a dizer:

- Olha seu Fernando, para dobrarmos os lucros da empresa, precisaremos nos arriscar muito. Seria preciso uma loucura financeira, cortar custos em todas as áreas da produção e produzir o máximo, gastando o mínimo!

Essas palavras me assustavam, afinal eu já estava economizando cada centavo possível. O Luigi, meu diretor de criação, reclamava todos os dias pelos cortes que eu fazia nos custos, minha noiva e produtora executiva da empresa começava a desconfiar que estivéssemos com problemas, afinal, a empresa também era um patrimônio da família dela. Eu não sabia de onde mais tirar dinheiro...

Omar começou a enumerar nossas medidas de economia e a Lety disse, que ainda precisaríamos economizar pelo menos, 25% na produção. Como num estalo, tive a ideia de mudarmos o formato das filmagens: pararíamos de filmar em película cinematográfica e passaríamos a filmar em vídeo. Desse modo, economizaríamos de maneira realmente significativa! Luigi tinha horror a usar essa técnica, mas dessa vez, ele teria que acatar minha vontade.

Levei a Lety para a pós-produção e lá, expliquei o passo a passo da produção em película cinematográfica. Em poucos minutos, ela calculou que com isso, economizaríamos 15% nos custos, me animei por poucos minutos, mas Lety ainda tinha outras notícias: só a economia não bastaria, nós ainda teríamos que aumentar a produção em pelo menos mais 1/3. Isso era loucura! Economizar tanto e ainda produzir mais.

Passei pela recepção e Lola, uma das amigas da Lety brigava com o Sr. Cheque, era assim que as secretárias chamavam o ex-marido dela. As brigas eram divertidas, animavam o ambiente, confesso, mas para manter a ordem, sempre repreendia a Lola. Tadinha, seus problemas nunca acabavam e a Conceitos nunca estava totalmente calma.

Lety era realmente brilhante! Ela se lembrou dos projetos parados que a Márcia tinha engavetado. Por outro lado, me lembrei de que o mercado latino e as agências americanas poderiam ser ótimos territórios a serem explorados. Percebi em Lety, muito medo dessas mudanças, ela tinha medo de afundarmos a empresa com a obsessão de cumprir minha meta. Eu usei todos os argumentos possíveis, pedi a Lety e ao Omar que eles acreditassem em mim e me apoiassem. Afinal de contas, não bater a minha meta, seria confessar que maquiei, o balanço e que minha gestão vinha sendo desonesta.

Entrei em contato com a Diana da Cine Rent. Eu tinha urgência em assinar o contrato de compra dos equipamentos para gravação em vídeo. Precisava colocar o plano em prática. Chamei a Lety e o Oma r para irem comigo.

Ela não queria ir, pois não se sentia vestida adequadamente para a ocasião. Para ser honesto ela nunca estava exatamente adequada. Sempre vestida com meias grossas, vestidos abaixo do joelho e de mangas longas, uns sapatos de boneca com salto grosso e ainda por cima ela sempre usava uns casaquinhos. Seus longos cabelos negros eram puxados para trás numa trança grossa. A bolsinha rosa com um cachorrinho era absolutamente inseparável. As sobrancelhas grossas acomodadas logo acima dos óculos de lentes grossas. Omar veio me procurar para irmos, então avisei que a Lety estava se arrumando  e ele caiu na gargalhada! Afinal para ela, só uma cirurgia plástica resolveria o caso dela. Não apenas Omar, mas  grande maioria das pessoas a minha volta, não a consideravam digna de me acompanhar, mas eu sabia que estavam errados. Ela era fantástica e nada do que me apontavam como defeitos graves na minha assistente, a impediria de ser brilhante.

Encontrei a Lety e as amigas saindo do banheiro feminino. Omar a achou diferente, para mim, ela parecia a mesma. Olhei novamente e percebi que ela estava levemente maquiada, com um vestido vermelho e estampado. Sobre seu colo, um delicado colar de pérolas que combinava com a doçura de seu olhar. Acredite, no meu rápido exame percebi isso tudo, mas me senti ridículo por vê-la assim. Respirei fundo, entrei no elevador com ela e Omar.

Ele se divertia com a situação! As maiores beldades do país estariam no coquetel e eu chegaria ao lado da mais feia entre as mulheres. Para meu amigo, minha entrada no evento atrairia todos os olhares, embora isso não fosse ocorrer pelos motivos certos seria divertido, mas só pra ele. Minha curta paciência começava a me abandonar e esse era apenas o inicio da nossa longa noite... 

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