Caso minha vida fosse um filme de Hollywood, hoje eu acordaria ao som de alguma música pop em um belo dia ensolarado, iria para o meu trabalho em Nova Iorque com um sobretudo chique e um café do Starbucks na mão e teria uma manhã tranquila e sem estresse. Porém, infelizmente, eu sou feita de carne e osso e estou longe de ser uma protagonista de um blockbuster romântico de cinema - acho que nem mesmo da Netflix.
Ainda assim, mesmo eu estando bem longe de viver uma comédia romântica, dessa vez não me incomodo nem um pouco de estar passando mais um Dia dos namorados sozinha. Apesar de ainda sonhar com um amor para toda a vida, quero principalmente um amor verdadeiro, alguém que me veja além de camadas de maquiagem, de um novo corte e pintura de cabelo e de um uniforme de garçonete. Alguém que entenda minhas referências nerds e de chick-lits e rias de mim enquanto tento contar uma das minhas piadas sem graça. Não estou pedindo demais. Todas nós merecemos o melhor, não podemos nos contentar com nada menos do que isso. Antes só do que mal acompanhada.
Modéstia a parte, a decoração da cafeteria e da livraria, que fica em anexo, estão impecáveis. Me permito me sentir um pouco orgulhosa por causa de todo o trabalhão que me custou. Dias soprando bexigas e procurando fôrmas de cupidos valeram a pena. Pequenos balões de coração estão pendurados no teto, os mais variados doces com diferentes formatos estão espalhados pela mesinha de centro. Eu queria cobrar por todos esses quitutes, mas minha chefe tem um coração mole e quis dar um agrado às românticas. Não me admira o sofrimento para fecharmos o caixa todo mês. Após um breve embate, ela venceu. Afinal, Malu é a dona, eu sou apenas a garçonete faz tudo.
O clube do livro desse mês foi mais movimentado do que esperávamos. Além das integrantes de sempre, a decoração romântica chamou a atenção das clientes mais curiosas, que se sentaram para participar de nossa breve reunião. Até mesmo minhas duas convidadas do luau vieram e fizeram questão de falar sobre o eu amor em comum: Jamie Fraser. E pelo visto o escocês ruivo conquistou várias mulheres já que praticamente metade da plateia suspirava com a mera menção de seu nome.
O livro escolhido por mim não arrancou tantos suspiros já que a maioria das integrantes do clube nunca leu Emma. Foi um prazer lhes apresentar o Senhor Knightley. Ele com certeza não é o mais famoso dos mocinhos de Jane Austen, mas é um dos mais apaixonantes. Pelo menos, para minha pessoa.
— E como muitas obras da Jane, Emma já teve várias adaptações... teve até mesmo uma novela brasileira, mas essa prefiro nem comentar — digo um pouco resignada, porque, mesmo a novela tendo sido maravilhosa. aquela foi a pior versão do casal Emma e George de todos os tempos.
— Ai, eu vi! Adorei a história da Emma e do Ernesto. O Rodrigo tinha tantas cenas sem camisa... Ui — Bea diz sonhadora e se abana ao se lembrar das tais cenas seminu de um dos irmãos Simas. — Ele e a Agatha eram tão lindos juntos.
Ai, vai começar. A adolescente provavelmente montaria um fã clube do Rodrigo Simas em São Tomé dos Campos, mesmo se fosse a única integrante.
— O cara nem existe no livro! — Eu me esforço a dizer para não desviar o foco do casal principal, e não de um inventado de última hora. Na verdade, isso é uma pequena mentira. Ernesto poderia muito bem ser Frank, o primeiro interesse amoroso de Emma, um jovem um pouco imaturo que, ao longo do livro, descobrimos guardar mistérios e ter um grande amor, mas os roteiristas preferiram mudar o rumo da história.
— E daí? Ele combinava muito mais com a baronezinha. — Ela dá de ombros, ignorando o meu olhar assassino. — Jorge era velho, sem graça e chato. Ele queria mandar na Emma o tempo todo!
— George é leal e protetor! Ele nunca seria machista assim! Emma é mimada, imatura e acha que pode brincar com a vida das pessoas e o amor. Ele é o único que a critica e a repreende, mas também sempre está ao lado dela. — Quase não percebo que estava dando um pequeno sermão quando sou interrompida por uma voz calma e tranquila ao meu lado.
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Amor à segunda vista
ChickLitConto Sara odeia o dia dos namorados. Não se engane. Ela é uma romântica incorrigível, apenas está cansada de comemorar essa data com sua própria companhia. Se o homem da sua vida ao menos notasse sua existência, já seria um grande avanço para sua...