TEMA: Terror
Saulo sabia que seria a última vez que entraria no apartamento de Renato. Visitaria aquele local de 60 metros quadrados mais uma vez, antes que os pais de seu ex-namorado levassem tudo. As janelas estavam fechadas, o sol entrava por algumas frestas, mas deixava o ambiente escuro. Ele não abriu as janelas, a escuridão que tomava conta do local também tomava conta de seu coração.
Nunca em sua vida imaginou que "enterraria" um namorado, mas um telefonema de um número desconhecido na manhã anterior mudou o rumo de sua vida drasticamente. Uma voz informava que um caminhão passara por cima da moto de Renato. O acidente fora tão feio que o caixão estava fechado durante o velório. Saulo nunca mais veria o rosto de Renato e isso o destroçava internamente. Se soubesse que a última vez que o veria vivo seria na manhã de ontem, quando acordara para ir ao trabalho e Renato ficara dormindo, todo fofinho, agarrado ao travesseiro de mais de um metro, Saulo teria dado mais um beijo em seu namorado ou talvez pagado mais um boquete. Mas a despedida derradeira foi um tchauzinho e uma olhadinha para o namorado, que dormia inocentemente. Uma despedida esquecível e sem graça.
O apartamento escuro, silencioso e aconchegante parecia enorme sem a presença de Renato. Saulo foi ao banheiro e, ao ver as escovas de dente dos dois juntos, um choro alto e sofrido saiu de sua garganta. Foram apenas oito meses de namoro, mas foram os melhores oito meses dos 32 anos vividos por Saulo. Renato era um rapaz de 24 anos sempre sorridente, que amava a natureza, que estudava muito e se dedicava para ter um futuro melhor, futuro este que dolorosamente jamais viria.
Foram 20 minutos chorando enquanto olhava aquelas duas escovas de dentes, após isso, tomou um banho quente pela última vez naquele banheiro extremamente limpo e branco, vestiu uma cueca de Renato, colocou roupas confortáveis que seu ex usou para dormir pela última vez e se deitou na cama desarrumada que o rapaz deixou antes de sua derradeira partida. Ao deitar sua cabeça no travesseiro, Saulo sentiu o cheiro de Renato. Aquele cheiro agradável de homem que emanava naquele colchão, somado às mais de vinte e quatro horas que Saulo não dormia, fez este cair no sono em poucos minutos.
****
Saulo abriu os olhos. Escuridão total. Pegou seu celular que estava ao seu lado, 21h42. Ele não trabalharia no dia seguinte, estava dispensado do trabalho até a próxima segunda para se recuperar emocionalmente da perda repentina. Muitas mensagens via Whatsapp chegaram e todas foram ignoradas pelo rapaz. Saulo precisava ficar sozinho, ali, para se despedir do seu amor. Ele se sentia inexplicavelmente vazio e pensar no futuro sem a presença de seu Buco consigo o fazia sentir um grande desespero.
Um barulho vindo de dentro do guarda-roupa de Renato tirou Saulo de seus devaneios melancólicos, parecia ser uma vibração de celular, mas o celular de Renato havia sido esmagado junto com ele pela roda do caminhão. O pensamento de Renato esmagado por um caminhão deu um nó no peito de Saulo e, para evitar novamente o início de um choro não desejado, este foi em direção ao guarda-roupa para averiguar o que fizera o barulho. O guarda-roupa tinha três portas, as duas que ficavam sempre destrancadas e a que precisava ser sempre trancada, por não se manter fechada. Ele abriu as duas portas e não viu nenhum celular.
Outra vibração vinda exatamente da porta ao lado do guarda-roupa. Saulo levou a mão em direção à porta e a puxou. Trancada, como previsto.
Saulo e Renato estavam nus, deitados na cama, o clima estava quente e estavam prestes a transar pela primeira vez.
— Você tem camisinha? — Saulo perguntou com uma voz sussurrada exalando tesão.
— Acho que tenho sim — Renato respondeu.
O rapaz acendeu a luz e foi em direção à gaveta de sua escrivaninha. Saulo observou o pau do rapaz que estava duro e apontava para cima, subindo e descendo conforme o caminhar do dono. Renato procurou na gaveta da escrivaninha e não encontrou nada, correu para o guarda roupa, abriu as duas portas e remexeu nas coisas que haviam lá dentro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Contos LGBT
Short StoryCapa bem preguiçosa mesmo Aqui você encontra todos os contos criados por mim que foram publicados no LGBTemas