Como uma afta no céu da boca

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TEMA: Férias

10 de maio de 2019

O aeroporto de Campinas estava vazio naquela manhã fria de maio. Júlia estava sentada em frente ao desembarque de voos domésticos e abriu um sorriso imenso ao ver os dois amigos aparecendo de mãos dadas. Davi e Flávio não a viam há mais de um ano.

— Vocês estão lindos! — ela disse sorrindo após os abraços e beijinhos de reencontro. — Que saudades!

— Ah! — Davi respondeu — Cê sabe, né, Ju. Foi difícil sincronizar nossas férias para podermos voltar aqui e ver todos.

— Espero que não levem mais dois anos pra sincronizarem as férias novamente — ela disse com um tom brincalhão.

No carro da amiga, Davi e Flávio sentiram uma nostalgia gostosa ao ver as ruas conhecidas da cidade em que se formaram e iniciaram a vida adulta.

— O pessoal ainda vive aqui? — Flávio perguntou.

— A maioria. Chamei todos que restaram na cidade para uma festinha em minha casa hoje à noite.

Davi, que estava no banco do passageiro, trocou um olhar preocupado com Flávio, sentado atrás da motorista.

— Você disse que estaremos na festa? — Davi perguntou.

— E estragar a surpresa das pessoas ao verem vocês dois? — Júlia respondeu. — Claro que não contei. O pessoal vai amar revê-los.

— Você sabe que não é bem assim — Flávio compartilhou a mesma preocupação que Davi.

— Ele mora aqui ainda? — Davi perguntou a Ju.

— Sim! — ela respondeu. — Ele tá convidado também, não poderia não chamá-lo. Já faz mais de dois anos, né? Duvido que o Victor se importe.

Novamente Davi e Flávio trocaram um olhar preocupado.

— Não queremos climão, só isso! — Explicou Davi

— Se eu soubesse que isso poderia machucar o Victor nem chamaria ele, a gente nunca conversou sobre esse assunto, aliás ele nunca falou sobre o que aconteceu com ninguém, mas eu não sou tão sacana em fazer uma emboscada para ele — Júlia disse enquanto entrava na garagem de seu prédio.

— Avisa ele! — Flávio pediu. — Deixa os outros serem surpreendidos com nossa presença, mas ele precisa saber que estamos aqui, é o mínimo.

— Tá certo — Júlia saiu do carro pegou seu celular e mandou uma mensagem.

Entraram no apartamento da amiga, se impressionaram com o tamanho do local. Tomaram o café da manhã que Suelen, esposa de Júlia, havia preparado e depois foram para o quarto de hóspedes tirar um cochilo, antes de saírem para fazer compras no supermercado.

Assim que ficaram sozinhos no quarto, Davi e Flávio se olharam com cumplicidade e tiraram a roupa em silêncio. De cueca, deitaram na cama de casal, Flávio abraçou Davi em uma gostosa conchinha e perguntou:

— Tudo bem?

— Um pouco nervoso, para ser sincero — respondeu, ficando mole com a respiração de Flávio em seu pescoço. — E você?

— Acho que reencontrá-lo e conversar com ele é essencial. — Aconchegou seu queixo no ombro de Davi. — Vai trazer o livramento de algo que sempre esteve no fundo da minha mente me incomodando.

— Na minha também! — concordou Davi.

Em poucos minutos os dois adormeceram e ficaram na mesma posição até o momento em que Júlia bateu na porta os acordando.

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