Os Garçons

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TEMA: Fetiches

Deitado na cama, Tomé observava o ventilador de teto girando. Acordou bem cedo naquele sábado e não sabia o que fazer. Estava entediado. Era um dia solitário como alguns anteriores, precisava espairecer, encontrar algo para se distrair. Seus amigos agora estavam andando somente com seu ex-namorado e a solidão era sufocante às vezes.

Solidão era pior coisa que Tomé experimentou em toda sua vida. Ficar sozinho abria espaço para começar a pensar em todos os erros, culpas e frustrações e isso acordava demônios que estavam dormindo há anos. Quando estava mal consigo mesmo e sem saber o que fazer, Tomé precisava assistir alguma coisa para fugir de si, mas naquele dia nem seriado, filme ou algum vídeo engraçado no YouTube conseguia suplantar a melancolia que o abraçava de maneira cruel e intensa.

Ele gostava de dormir até meio-dia aos sábados, mas, quando viu que não tinha mais sono às oito da manhã, começou a pensar cruelmente em seu último ex-namorado, em como era merecedor do gelo que levava de Phillipe e de todos os amigos. A culpa o consumia por dentro como um câncer em metástase acelerada e, quando já estava mal o suficiente, começou a ler conversas em históricos com outros ex-namorados, vendo como as suas atitudes e personalidade o levavam sempre pro mesmo lugar: um beco escuro assombrado pela culpa, solidão e desesperança.

Além de Phillipe, Tomé namorou Matheus, Gustavo, Henrique e Marcelo. Foram muitos namorados colecionados ao longo dos seus 33 anos de vida. Cinco relacionamentos fracassados era sinal de que ele nasceu para ser solteiro e, por isso, Tomé perdera a fé em si mesmo.

Ao menos mexer no passado trouxe algo de bom para Tomé naquele dia, o tempo passou rápido. Por mais dor que sentisse lendo todos os e-mails trocados, todas as conversas de MSN, WhatsApp ou Facebook, quando terminou, viu que já eram quase sete horas da noite. O lado ruim de remexer em tanta coisa que estava adormecida foi perceber que a vida de Tomé entrava sempre numa espiral de erros da qual ele nunca conseguiria sair, por isso ele pensou consigo mesmo: para que viver?

A vida parecia uma grande espera em que ele aguardava o momento em que as coisas ficariam boas, o momento em que ele seria feliz. A espera, entretanto, nunca terminava. Em 2015 estava sofrendo, 2013 estava sofrendo, 2010 estava sofrendo, 2008 estava sofrendo e agora, no início de 2019, ele permanecia sofrendo. A esperança tinha acabado. Não havia mais motivo para viver.

Começou a andar pelo quarto pensando qual seria a maneira menos dolorosa de tirar sua vida. Decidiu usar insulina, ele era enfermeiro e tinha acesso a isso. Poderia ir no hospital no dia seguinte, pegar o que precisava e pronto: iria tirar sua vida entrando em um sono profundo do qual nunca mais voltaria. Mas, para poder fazer isso, ele precisava passar pelo sábado, e aquele dia estava sendo terrivelmente torturante.

Decidiu ir ao Taquaral correr, pelo menos tentaria jogar um pouco de endorfina em seu sangue. Era o último dia de sua vida, poderia correr e depois comer um sanduíche gigantesco do Jeffinho, tomar um sundae de sobremesa e dormir de barriga cheia pela última vez.

No momento em que começou a correr em volta da lagoa, Tomé percebeu que tinha tomado a decisão errada. Correr o fazia pensar mais ainda em todos os problemas que estavam sendo mastigados em sua mente. A dor começou a tomar conta de maneira tão terrível que a vontade era de se matar na hora. Olhou para rua e viu carros passando e pensou em se jogar na frente do primeiro ônibus que passasse. Mas, talvez, pular na frente de um ônibus passando por ele poderia trazer apenas dor física que iria somar-se com a emocional, caso ele tivesse o azar de se estourar todo e sair vivo.

Ao passar correndo pela entrada onde ficava a Concha Acústica, ele se lembrou de que aquele local era escolhido por alguns homens para buscar sexo rápido e anônimo. Estava escurecendo e ele sabia que era o momento em que começava a pegação.

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