CAPÍTULO UM

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JACKSON WILLIANS FOI O PRIMEIRO A MORRER.

O primeiro da minha sala da quarta série, afinal. Tenho certeza de que, até então, milhares, talvez até centenas de milhares de crianças já tinham partido da mesma forma que ela. As pessoas demoravam a juntar as peças - ou, pelo menos, tinham descoberto a maneira certa de nos deixar no escuro por muito tempo desde que as crianças começaram a morrer.

Quando as mortes finalmente vieram à tona, minha escola primária proibiu estritamente os professores e funcionários de falarem conosco sobre o que era, então, chamado de Doença de Willousheart, por causa de Mason Willousheart, o primeiro garoto morto por causa dela. Logo, alguém em algum lugar decidiu dar a ela um nome adequado: Neurodegeneração Aguda Idiopática Adolescente - NAIA, para encurtar. E, então, não era mais a doença de Mason. Era a doença de todos nós.

Todos os adultos que eu conhecia enterraram o que sabiam por trás de sorrisos e abraços mentirosos. Eu ainda estava preso em meu próprio mundo ensolarado, com jogos e minha coleção de carrinhos de corrida. Olhando para trás, não consigo acreditar em como fui ingênuo, quantas pistas deixei passar. Até mesmo coisas grandes, como quando meu pai, um policial, começou a trabalhar por longas horas e mal podia aguentar olhar para mim quando finalmente chegava em casa. Minha mãe começou a me submeter a um regime estrito de vitaminas e recusava-se a me deixar sozinha, mesmo que por alguns minutos.

Por outro lado, os meus pais eram ambos filhos únicos. Eu não tinha nenhum primo falecido para quem pudesse enviar bandeiras vermelhas, e havia a recusa de minha mãe em deixar meu pai instalar um "vórtice de lixo e entretenimento negligente sugador de almas" - aquela coisa comumente chamada de televisão -, o que significava que nenhum noticiário assustador agitava meu mundo. Isso, combinado com os controles paternos, no nível da CIA, de meu acesso à internet, garantia que eu ficasse muito mais preocupada com a disposição de meus bichos de pelúcia sobre a cama do que com a possibilidade de morrer antes de meu décimo aniversário.

Eu também estava despreparado, por completo, para o que aconteceria no dia quinze de setembro.

Chovera na noite anterior, então meus pais me mandaram para a escola usando galochas vermelhas. Na sala de aula, falamos sobre dinossauros e praticamos caligrafia antes de a srta. Robert nos dispensar para o almoço com seu usual olhar de alívio.

Eu me lembro com clareza de cada detalhe do almoço daquele dia, não porque estava sentado em frente à Grace na mesa, mas porque ela foi a primeira, e porque aquilo não deveria ter acontecido. Ela não era velha como o Vovô. Não tinha câncer, como a amiga da Mamãe, Sara. Não tinha alergias, tosse, nem machucados na cabeça - nada. Quando ela morreu, aconteceu do nada, e nenhum de nós entendeu o que isso significava até que fosse tarde demais.

Grace estava presa num debate profundo sobre se uma mosca estava presa ou não dentro de seu copo de gelatina. A massa vermelha tremia enquanto ela a sacudia, saindo pela borda do recipiente quando ela o apertava um pouco mais. Naturalmente, todos queriam dar sua opinião sobre se era uma mosca ou um pedaço de doce que Grace empurrara ali dentro. Incluindo eu.

- Não sou mentirosa - Grace disse. - Eu só...

Ela parou. O copo de plástico escorregou de seus dedos, batendo na mesa. Sua boca estava aberta, com os olhos fixos em algo logo atrás da minha cabeça. A sobrancelha de Grace estava franzida, quase como se ela ouvisse alguém explicar algo muito difícil.

- Grace? - lembro-me de ter dito. - Você está bem?

Seus olhos reviraram para trás, tornando-se brancos no segundo em que suas pálpebras amoleceram. Grace soltou um leve suspiro, que não foi forte o bastante para sequer espantar as mechas de cabelo marrom presas em seus lábios.

Todos nós que estávamos sentados perto dela congelamos, embora possamos ter tido o mesmo pensamento: ela desmaiou. Uma semana ou duas antes, Josh Preston tinha desmaiado no playground porque, conforme a Srta. Robert explicara, ele não tinha açúcar suficiente em seu organismo - algo estúpido assim.

Uma freira enfermeira apressou-se até a mesa. Ela era uma das quatro senhoras com viseiras brancas e apitos que se revezavam no turno do almoço e no playground durante a semana. Eu não fazia ideia se ela tinha certificação médica além de uma vaga noção de primeiros socorros, mas, mesmo assim, ela levou o corpo molenga de Grace até o chão.

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