CAPÍTULO TREZE

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NÃO ME LEMBRAVA DE TER DORMIDO, APENAS DE acordar. E como eu lembrava! - meu corpo tremia tanto que virei da cama e bati a cabeça contra o beliche ao lado.

Fred deve ter se apavorado com a batida repentina e o movimento da cama dele, pois a ouvi dizer:

- Que diabos... Isaac? É você?

Não consegui me levantar. Senti as mãos dele em meu rosto e registrei que agora ele gritava meu nome, e não só o sussurrava.

- Ah meu Deus! - alguém disse. Parecia Rob, mas eu não conseguia abrir os olhos.

- ... botão de emergência!

O peso de Jackson apoiou-se sobre minhas pernas; eu sabia que era ele, mesmo enquanto meu cérebro ganhava e perdia consciência e uma luz branca e quente queimava por trás de minhas pálpebras. Alguém enfiou algo na minha boca - de borracha e duro. Eu senti gosto de sangue, mas não tinha certeza de que vinha da minha boca, dos lábios ou...

Dois pares de mãos levantaram-me do chão, largando-me numa outra superfície. Eu ainda não conseguia abrir os olhos; meu peito estava pegando fogo. Não conseguia parar de tremer e os meus membros pareciam desmoronar sobre eles mesmos.

E, então, senti cheiro de jasmim. Senti mãos suaves e frias pressionando contra meu peito e, depois, mais nada.

A vida voltou a mim na forma de um tapa bruto no rosto.

- Isaac - alguém disse. - Vamos, eu sei que pode me escutar. Você tem que acordar.

Abri um pouco os olhos, tentando não me encolher conforme a luz penetrava neles. Uma porta se abriu e rangeu, ao fechar_se em algum lugar ali perto.

- É ele? - uma nova voz perguntou. - Você vai sedá-lo?

- Não, não esta aqui - a primeira voz retornou. Eu conhecia aquela voz. Era tão doce quanto antes, só que dessa vez tinha uma agitação afiada. As mãos da dra. Begbie passaram por baixo dos meus braços e ergueram-me. - Ele é forte. Ele aguenta.

Algo tinha um cheiro horrível. Ácido e pútrido. Meus olhos abriram-se rápido.

Dra. Begbie estava ajoelhada ao meu lado, balançando algo sob meu nariz.

- O que...?

A segunda voz que escutei pertencia a outro jovem. Ele tinha cabelo marrom-escuro e a pele pálida, mas isso era tudo o que tinha de notável. Sem perceber que eu o observava, ele despiu-se de seu avental azul e lançou-o para a dra. Begbie.

Não sabia onde estávamos. A sala era pequena, repleta de prateleiras com garrafas e caixas, e eu não conseguia sentir nada além do que a dra. Begbie usara para me acordar.

- Vista isso - ela disse, erguendo-me sobre meus pés, estivessem eles prontos ou não. - Vamos, Isaac, temos que correr.

Meu corpo estava pesado, estalando em todas as juntas. Mas eu fiz o que ela mandou, e coloquei o avental sobre meu uniforme. Enquanto me vestia, o outro jovem pôs as mãos para trás e esperou, enquanto a dra. Begbie as prendia com uma espessa fita adesiva. Terminando isso, a doutora amarrou os pés do outro jovem.

- Você os encontrará em Harvey. Vá pela Rota 215.

- Eu sei, eu sei - disse a dra. Begbie, enquanto rasgava com os dentes outro pedaço de fita e o colocava sobre a boca do outro jovem. - Boa sorte.

- O que você está fazendo? - perguntei. Minha garganta estava raspando e a pele em torno da minha boca parecia rachar enquanto eu falava. A doutora puxou meus cabelos para trás, torcendo-o num coque bagunçado, o qual prendeu com um elástico de borracha. O jovem observou enquanto seu cartão de identidade era colocado em meu pescoço, e a dra. Begbie colocou uma máscara cirúrgica no meu rosto.

- Vou explicar tudo quando sairmos, mas não podemos perder tempo. Eles vão fazer a ronda em vinte minutos - ela disse. - Você não pode falar nada, entendeu? Entre no jogo.

Eu fiz que sim com a cabeça e deixei que ela me empurrasse para fora da sala escura até a penumbra do corredor da enfermaria. Mais uma vez, as pernas pareciam falhar, mas a médica me ajudou. Ela passou um dos meus braços por sobre seu ombro e suportou a maior parte do meu peso.

- Estamos indo - ela murmurou - Retorne as câmeras ao normal.

Olhei para cima, mas ela não estava falando comigo. Estava sussurrando com seu broche de cisne dourado.

- Nem uma palavra - ela me lembrou, enquanto virávamos para outro corredor. Estávamos andando tão rápido que agitávamos as cortinas brancas das cabines de exame ao passarmos por elas. Os FEPs pelos quais passamos eram borrões pretos ao saírem do nosso caminho.

- Desculpe, desculpe! - a dra. Begbie gritava. - Tenho que levar esse daqui para casa.

Mantive os olhos nas fileiras retas de piso passando sob meus pés. Minha cabeça ainda girava tanto que não percebi que estávamos saindo, até ouvir o bipe do cartão dela passando pelo leitor da fechadura e sentir as primeiras gotas de chuva fria baterem na minha cabeça.

Eles mantinham as enormes luzes de estádio do acampamento acesas até altas horas da noite; as luzes impunham-se como gigantes por todo o lugar, mas elas só me lembravam dos jogos de futebol, o cheiro da grama recém-cortada e as costas do casaco vermelho do Spartan do meu pai, enquanto ele gritava para o seu velho time do colégio, vai com tudo ao ataque, a plenos pulmões.

Era uma caminhada curta e um tropeção dos fundos da enfermaria até o estacionamento de pedras. Na verdade, eu não tinha certeza se estava alucinando ou não - minha visão perdia e ganhava foco, mas era impossível não ouvir o som do pedregulho esmagado e a voz que gritava: "Tudo bem aí?".

Eu sentia, mas não via, que a dra. Begbie estava tensa. Tentei continuar me mexendo, usando seu ombro para me erguer, mas minhas pernas não estavam mais funcionando.

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