Os alunos da escola Lion já se dirigiam para suas aulas logo cedo pela manhã daquela segunda feira. Rostos jovens se espalhavam pelo grande pátio da instituição que era considerada uma das melhores escolas de Paris.
Assim como seus alunos, os professores também seguiam para suas classes e desse modo, mais uma semana se iniciava.
- Bom dia pessoal. Como passaram o final de semana?
A turma do décimo ano da escola secundária* respondeu causando uma pequena confusão, pois cada um começou a dizer o que tinha feito para o professor que lhes perguntava.
Adrien havia conseguido aquela vaga por meio de um amigo que ministrava química na escola, e como estavam precisando de um professor de matemática, ele se encaixou perfeitamente para o cargo.
Aquele já era o seu segundo mês no primeiro semestre do ano letivo e poderia dizer que estava se adequando bem ao ambiente.
Como se tratava de uma escola bem estruturada não teve problemas de adaptação com o material e a política interna de procedimentos, assim como a equipe de professores e funcionários que o recebeu muito bem desde o primeiro dia.
A única coisa que tornava o trabalho um pouco "maçante" era conter a turma que estava encarregado, o décimo ano.
Não eram adolescentes difíceis de lidar, mas falavam muito e por qualquer coisa desfocavam o rumo da aula para assuntos aleatórios o que o obrigava sempre a chamar atenção para voltar ao foco da matéria. Tirando isso, havia o planejamento das aulas assim como as provas, as lições de casa e todas as atividades que tinha que corrigir. Mas essas eram tarefas que faziam parte do processo, e não se via em outra função como a de professor.
Sendo assim, a manhã passou rápido. Depois do almoço, daria mais uma aula de reforço para um grupo de alunos que estava tendo dificuldade com números complexos e findaria as atividades do dia, corrigindo alguns trabalhos de casa.
Essa era sua rotina diária. Dar suas aulas e voltar à noite para o apartamento alugado no centro da cidade, onde morava sozinho há quase dois anos.
Porém, naquele dia, como a aula de reforço durou mais tempo que pensava acabou tendo que ficar um pouco mais tarde para terminar de corrigir as atividades. Não se importou muito com isso, afinal, não tinha a mínima pressa para chegar em casa onde apenas tomaria um banho, jantaria qualquer coisa e quem sabe jogaria um vídeo game ou leria um livro antes de dormir.
Quando terminou de corrigir a ultima lição de casa, olhou no relógio do celular onde já marcava 19 horas da noite. Deu uma boa espreguiçada na cadeira, bebeu o restante do suco que havia em um copo descartável e arrumou suas coisas onde guardo em um armário de ferro nomeado.
Antes de sair da escola passou no banheiro para "tirar a água do joelho" e lavar o rosto para dar uma despertada no cansaço do corpo.
Já na rua, caminhou com passos lentos dentre as pessoas. A noite estava fria e uma fina garoa começou a descer do céu, fazendo com que todos retirassem de seus guarda-chuvas de suas bolsas.
Gostava daquele tempo, o cheiro suave da chuva o relaxava. Resolveu então tomar um caminho diferente e mais longo, seguindo para um parque que havia próximo dali.
Caminhava sozinho por uma parte asfaltada quando se deparou com uma cena mais adiante que roubou sua atenção. Tentou focar a vista para ver melhor a figura em cima de uma ponte sobre o rio que cortava o parque.
Parecia uma mulher.
Aquela imagem o fez parar de repente, lembrando-se por um breve momento de uma memória guardada em seu coração.
Sentiu seu peito apertar um suspiro mais pesado sair do corpo.
A mulher olhava fixamente a água embaixo de si tendo seus braços debruçados sobre o ferro da ponte. Os cabelos lisos caíam pelas laterais do seu rosto e não parecia medir mais que 1,60 de altura.
Estreitou os olhos. De fato, era muito parecido... ela também gostava de ficar assim, aquela pessoa... olhando a água do rio debaixo dos seus pés, sobre a ponte de madeira que existia na sua antiga cidade.
Era apenas uma consciência, sabia disso, mas a saudade aflorava aos poucos como se tivesse voltado àqueles dias.
A mulher se afastou brevemente, passando a mão em um lado do rosto, como se estivesse limpando algo de sua pele.
Ele teve certeza, estava chorando. Mas porque eram tão parecidas?
Seus olhos estreitaram a o vê-la retirar da mão esquerdo o que julgou ser um anel. O levou até a boca e lhe deu um beijo suave, logo sem seguida o estendeu sobre o rio, ficando parada por um momento até o soltou para dentro da água.
Aquilo o fez se surpreender um pouco e o aperto em seu coração se intensificar. Era como se tivesse perdido algo importante... um sentimento... uma ligação... um amor.
Fez menção em caminhar até ela, mas não conseguiu se mover além de dois passos, voltando a ficar parado quando a viu olhar novamente para o rio e lançar um beijo em direção onde o anel tinha sido jogado. Depois disso, se virou e seguiu seu caminho.
Adrien esperou que se distanciasse e quando se deu por conta, já estava em cima da ponte onde a mulher estava.
Passou seus olhos pelas águas límpidas e correntes do rio iluminado pelos postes do parque.
Mas afinal... o que estava fazendo ali?
Porque queria encontrar aquele anel? Porque sentia uma vontade de entrar no rio e buscar por aquele anel para que assim puder devolvê-lo para sua dona?
Esses pensamentos povoavam sua mente, mas não impediam de olhar para o fundo do rio, tentando encontrar o anel.
Foi quando de repente viu uma luz cintilar do outro lado do canal. Desceu pela lateral da ponte e tomando cuidado para não cair, estendeu uma das mãos para pegá-lo.
Assim, voltou para a cima da ponte e com um sorriso vitorioso observou a pequena peça de outro sobre sua mão molhada.
Dentro do anel havia uma inscrição "Luka – 29/07/2014".
Fechou o anel na mão olhando em seguida para a direção onde a mulher tinha ido. Com um meio sorriso, fechou os olhos sentindo pela brisa da garoa uma paz confortante sobre seu coração, que antes estava tão apertado e angustiado no peito.
Não sabia explicar ou da onde vinha, mas havia uma voz dentro do si dizendo que deveria ajudar aquela pessoa, que a coisa certa a ser fazer era devolver seu anel e dizer a ela, que tudo ficaria bem, por mais que as coisas estivessem ruins.
Porque não poderia desistir de continuar... a vida sempre lhe daria um novo amanhã com novas oportunidades.
E mesmo não sabendo como faria isso exatamente, ele tinha certeza que ela voltaria para aquele mesmo lugar. Era uma ligação que não poderia ser quebrada.
E assim, envolvendo o anel em um lenço de bolso, o guardou dentro da pasta de couro para logo em seguida voltar ao seu caminho enquanto era respingado suavemente pela garoa fina que continuava a cair do céu.
* O sistema de educação francês divide-se em três etapas e o ensino secundário recebe os alunos da escola primária sem necessidade de realizar nenhuma prova de admissão. Os primeiros quatro anos são cursados no collège e são obrigatórios. Os três anos seguintes são cursados no lycée e neste nível os alunos podem escolher entre três itinerários: Geral (para ir à universidade), Tecnológico (para estudos técnicos superiores) ou Profissional (para ingressar no mercado profissional). - Isso seria o nosso Ensino Médio. :3
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De volta para o seu amor
RomanceQuando existe uma força maior, algo que não sabemos compreender e que exerce poder sobre nossas vidas, basta que deixemos os nossos caminhos livres e o destino nos guiar, levando-nos para o verdadeiro propósito de estarmos aqui. "E no final dessa c...