Onde posso te encontrar?

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Voltando para casa depois do corrido, sua cabeça não deixava de pensar na mulher misteriosa na ponte.

Tomou um banho quente e logo em seguida preparou um suco e uma refeição simples onde se sentou na sala para ver TV como fazia de costume todas as noites.

Seus olhos viam as imagens, mas não absorviam a informação, pois sua cabeça estava longe.

Tinha posto o anel em um criado mudo perto da cama, e depois de arrumar a cozinha lavando a louça da janta, foi para o quarto sentando-se perto do móvel.

Com as mãos entrelaçadas uma na outra, respirou fundo, olhando para o anel.

Tratava-se na verdade, de uma aliança de ouro com uma pequena pedra de brilhante ao centro. Com certeza era uma aliança de casamento. Agora a pergunta que não conseguia responder era o porquê que aquela mulher tinha jogado sua aliança de casamento no rio.

Será que tinha se separado e essa foi a forma que encontrou de dar um "ponto final" nos sentimentos que ainda guardava pelo marido?

Talvez a separação não tivesse terminado bem. O tal "Luka" poderia a ter traído ou até mesmo ter a abandonado.

Pegou o anel deitando-se na cama onde leu novamente a inscrição com a data do casamento. Analisando de forma séria, continuava a pensar quando se deu conta de um detalhe que deixou passar despercebido.

- Espera um pouco... hoje é dia 29 de Julho.

Então isso queria dizer que aquele dia era o aniversário de casamento dos dois. Franziu a testa sentando-se na cama. Cada vez mais a situação ficava confusa, mas o pior de tudo era pensar o quanto a cena da ponte o fez se lembrar de Chloe.

Olhou para o porta retrado que tinha mais adiante onde havia uma foto sua com ela abraçados em dos passeios que costumavam fazer.

Deu um sorriso triste ao se recordar daquele dia. Olhando seus rostos sorridentes, pensava que naquela época não faziam ideia do que iria vir acontecer depois de alguns meses.

Se suspeitasse, se imaginasse... quem sabe as coisas poderiam ser diferentes?

Mas o destino não quis assim.

No silencio do quarto, deixou o ar escapar do corpo e voltou a se deitar, olhando novamente para a aliança. Não demorou muito para que o sono chegasse, então resolveu guardar o anel na gaveta do criado mudo e desligar a luz do abajur para poder dormir.

No dia seguinte, foi para a escola como de costume. A aliança estava na sua pasta pois tinha decidido refazer o caminho da ponte mais tarde quando voltaria para casa. Esse seria o seu primeiro passo para tentar se reencontrar com a mulher.

Deu suas aulas no período da manhã e depois do almoço ficou a corrigir os exercícios que ficaram faltando. Teria bastante tempo para sair no mesmo horário de ontem, então resolveu adiantar o planejamento das aulas das próximas semanas.

- Fala aí cara, beleza? - Virou-se para ver Nino colocando umas pastas no balão onde estava na sala dos professores.

- Fala aí. – com um meio sorriso, retirou os óculos os deixando sobre a mesa. – Vai dar mais alguma aula hoje?

- Não, por hoje chega! – Riu-se o moreno, retirando um punhado de papéis de uma das pastas e sentando-se ao seu lado – Agora é partir pra corrigir esses trabalhos de casa.

Adrien bufou sorrindo de lado – Nem me diga... só terminei hoje, tava corrigindo desde ontem e ainda saí tarde daqui.

- Pois é... vida de professor não é fácil, mas "nós gosta" né não?

Ele confirmou rindo. Nino era seu amigo desde a faculdade, onde fizeram algumas disciplinas juntos. Fora ele que o indicou para trabalhar naquela escola.

Assim, ajeitou-se colocando novamente os óculos e tomando mais gole do café já morno, voltou ao trabalho. Nino permaneceu ao seu lado por mais um tempo até que foi embora.

Naquele momento, Adrien estava tão entretido com o planejamento das aulas que não percebeu que a hora havia passado e que já era mais das 19 horas. Quando se deu conta que tinha ficado mais tempo do que deveria, arrumou as coisas com pressa quase deixando cair os papéis no chão.

Saiu correndo da escola e, seguiu para o parque indo em direção à ponte. Chegando lá, olhou ao redor tentando achar algum vestígio da mulher, mas não encontrou nada.

De repente, sentiu-se um idiota por estar ali sozinho feito um poste procurando uma pessoa que nem sabia o nome.

- Droga! – Esbravejou.

Ajeitando a pasta na mão, deu uma ultima olhada ao redor.

Nada. Ela não iria aparecer, mas é claro! Se tinha jogado o anel no rio era por que estava se separando então porque voltaria aquele lugar? Isso não fazia sentido!

Sentindo-se frustrado, Adrien foi para casa e depois de tomar um banho e jantar, deitou-se na cama.

Não podia continuar com aquela busca que não o levaria a lugar nenhum. Onde estava com cabeça?

Isso tudo era muito estúpido da sua parte. Então guardou a aliança na gaveta do criado mudo e estava decidido, iria voltar amanhã somente para jogar aquela aliança no rio e findar de uma vez por todas essa maluquice de ir atrás de uma mulher desconhecida.

Não podia se deixar levar pelos seus sentimentos, pela vontade de ajudar as pessoas. Não era um super herói, não podia fazer milagres. Cada um tinha seus problemas e a vida era assim mesmo.

Foi dormir. Já no meio da noite sentiu uma brisa fria percorrer sua pele o que o fez se levantar para fechar a janela. Quando voltou para a cama olhou para o criado mudo onde a aliança estava guardada.

Novamente, alguma coisa dentro de si o fez querer abrir a gaveta, mas ignorou, deitando-se virado de costas para o móvel. Bufando, levantou-se novamente e com brusquidão abriu o criado mudo.

- O que você quer de mim?! Eu não posso te ajudar... eu nem sei onde te encontrar! Me deixa em paz! - Soltou com palavras firmes segurando a aliança em sua mão. Respirando fundo, fechou os olhos soltando o ar preso e sussurrou com o punho fechado – Eu vou tentar mais uma vez... mas só mais uma.

Era mentira. Passou a semana inteira indo a mesma ponte, onde tentou por diversos horários encontrar a mulher. Já no ultimo dia da semana, encontrava-se esgotado, sem saber mais o que poderia fazer.

Então finalmente, subiu na ponte e com os olhos abatidos, deu-se por vencido pelas circunstâncias, então resolveu que o melhor a se fazer era devolver o anel para onde ele tinha sido jogado.

- Desculpe, eu tentei te encontrar... mas não consegui.

Deu dois passos para trás estendendo sua mão para jogar o anel no rio quando sentiu uma presença perto de si. Olhando para o lado, seus olhos se encontraram com duas safiras azuis que o observavam surpresas.

Lá estava ela com o mesmo vestido preto, segurando uma pequena bolsa dentre as mãos. Sem se mover, ela apenas o olhava assustada.

Adrien engoliu seco ao ver a mulher na sua frente. Ele não pensou em mais nada, e voltando com o braço para perto do corpo caminhou em direção a ela que não se afastou.

- .... desculpe... – ele sussurrou com os olhos vidrados nos da mulher . – Não me pergunte como ou o porque... mas eu preciso te devolver isso.

Com cuidado, pegou seu braço esquerdo pelo pulso e de forma suave depositou a aliança sobre a palma da mão da mulher que ao ver o pequeno objeto diante de s deixou uma única lágrima escorrer pela lateral de um dos seus olhos. Ela voltou a olhar para o rosto dele que a encarava com o semblante entristecido, como se também tivesse vontade de chorar e não se importou quando ela caminhou em sua direção o apertando em um braço.

Fechando os olhos deixou uma lágrima escorrer pelo seu rosto enquanto mantinha dentre seus braços, o corpo quente e frágil daquela desconhecida que chorava amargamente em seu peito.

E através de um sussurro, arfou dentre os cabelos dela uma frase quase inaudível mas que com certeza, faria sentido para os dois de agora em diante.

"Não se preocupe, tudo vai ficar bem..."

De volta para o seu amorOnde histórias criam vida. Descubra agora