Capítulo 2

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  Os Baudelaire e a pequena Snicket estavam à bordo do barco Beatrice. Era manhã, mas o céu estava começando a ficar nublado e eles estavam com frio. As roupas que estavam vestindo eram a mesma há um ano, enquanto a da minha sobrinha foi feita com materiais encontrados na Ilha.
"Vai acontecer uma tempestade", alegou Klaus, "O céu está ficando preto por causa das nuvens"
"O bicho vai pegar", falou Sunny preocupada.
"Já passamos por umas tempestades", relembrou Violet, "E o pior: numa vez, Olaf estava conosco."
"Só de pensar sinto calafr..." Klaus foi interrompido por um estrondo. Era um raio.
"Eu tenho um mau pressentimento sobre isso", contou a pequena gastrônoma.
  "Precisamos nos organizar", a mais velha chamou atenção com um certo tom de ordem, "Raios estão caindo"
Eles estavam certos. Incontáveis trovões passaram a serem ouvidos. Violet controlava a vela, Sunny protegia os suprimentos e Klaus, inteligentemente pegou um dos livros que trouxe da Ilha para ver o que fazer. De fato, não é aconselhável ficar em alto mar durante uma tempestade. Se você não sabe, meu caro leitor, a água conduz eletricidade, sem falar de que uma onda poderia engolir as quatro crianças. Coincidentemente, isso aconteceu com um amigo meu que estava pescando salmão para guardar para a nossa expedição. Resumo da história: nunca mais o vi.
  O plano estava dando certo, e aparentemente os Baudelaire haviam pensado em tudo, menos em uma coisa: o bebê atrás deles. Em um momento, quando ondas se encontraram e o barco foi cortado ao meio de forma brusca e horripilante: Os três Baudelaire ficaram em uma metade, mas Beatrice não teve a mesma sorte e se separou dos seus tutores.
  "Bea!", gritou Klaus de forma inútil, já que a bebê não o entende. "Me dê a mão!"
  "Klaus, ela está muito distante!", disse Sunny, "Não adianta."
  "Kit confiou em nós!", disse a mais velha, "Temos que salvá-la!"
  A tempestade estava cada vez mais forte e os irmãos cada vez mais preocupados. Seria o fim deles? Seria o fim da bebê? Seria um sinal de que tudo daria errado daqui pra frente? Ou seria a última desventura dos Baudelaire, dando início a uma vida de borboletas e unicórnios (o que é bem improvável)?
  Os irmãos não faziam ideia de como atuar nessa situação. Para ver se algo surgia em sua cabeça, Violet amarrou o seu cabelo com a famigerada fita. Como já disse, a irmã mais velha sempre que tinha uma ideia prendia o seu cabelo para não atrapalhar o seu pensamento. Porém dessa vez era diferente. Ela não tinha uma ideia: estava procurando uma. E estava desesperada.
  "Precisamos chegar o mais perto possível!", gritou ela para os irmãos ouvirem no meio da tempestade. "Klaus, pegue aquela corda! Sunny, vamos voltar aos velhos tempos: termine de quebrar aquela tábua com o dente. Rápido!" As tábuas já estavam parcialmente quebradas em razão do movimento incansável das ondas, então nem foi tão difícil tirá-las, mesmo com os dentes mais fracos do que eram há pouco mais de um ano.
  Os dois irmãos deram os materiais a sua atual líder. "Klaus, amarre a corda em uma tábua. Sunny, ajude o seu irmão.
  Meu caro leitor, nesse momento você deve estar pensando: "O que diabos Violet desejava fazer?". Peço que não se preocupe, pois vocês sabem que as invenções da primogênita Baudelaire sempre dão certo. Pelo menos até agora.
  "Vocês não devem estar entendendo o que está acontecendo", disse Violet sabiamente.
  "Bingo!", afirmou Sunny para a irmã que finalmente viu que os outros dois estavam boiando: literal e figurativamente.
  "No lado de Beatrice", suspirou Violet profundamente ao ver a sua criança assustada, " há um pequeno buraco no qual podemos lançar a tábua e prendê-la. Se encaixar nele, puxamos pela corda e traremos nossa querida Bea novamente. No 'já' lançamos! Um, dois, três e... já!"
Se você acha que deu certo, não está acostumado com as desventuras das crianças. Nunca deu certo de primeira. Mas há outra coisa marcante sobre os Baudelaire: eles nunca desistem. NUNCA. Novamente, Violet grita "já" e a tábua não cai no buraco.
   "A tábua está rachando!", grita o garoto.
   "E se bater em Bea, teremos um adeus!", disse a mais nova com um tom triste.
   "Mas se não tentarmos, adeus também!", contou a inventora, "Eu não pensei em mais nada. É a nossa única chance. Por favor. Não quero decepcioná-la"
   "Nem eu…", Sunny contou extremamente triste.
   "Então, vamos fazer isso", afirmou Klaus. Foi nesse momento que os Baudelaire lembraram o que é estar nervoso e ansioso no escuro. Havia um ano que isso não acontecia e estava os atormentando muito. Seria nesse dia que a invenção de Violet daria errado pela primeira vez? Ou seria a última?
   Meu caro leitor, se você nunca passou por algo como isso, não vai entender como é estar com medo de decepcionar alguém nesse extremo. Os Baudelaire passaram anos e anos se desapontando com os seus tutores, pois achavam que, para sempre, seus "guardiões" seriam bons com eles. E não era bem assim. Agora, estavam na pele de um, e pela primeira vez, entenderam o que é decepcionar o seu (supostamente) protegido.

Depois Daquelas Desventuras em Série - O Terrível Recomeço - Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora