Capítulo 4

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Há alguns anos um amigo muito próximo me disse que um dia "dois grupos de amigos longe de alcance iriam se reencontrar na Praia de Sal". Sim, extremamente específico, porém essa sentença fazia todo o sentido nesse momento da vida dos irmãos que eu tanto falo sobre (o que me dá certo medo):
"Baudelaires! Baudelaires!", gritavam as vozes desorganizadamente, e mesmo sem acreditarem no que ouviam e viam, os órfãos por fim responderam enquanto as lágrimas escorriam pelos seus felizes rostos: "Quagmires!".
Nem preciso descrever o quanto esse momento mudou os sentimentos dos irmãos Baudelaire (se você nem ao menos sabe quem são os Quagmire, peço que se vire e procure você mesmo sobre eles, pois para falar sobre suas vidas precisaria dum livro inteiro).
Era tão confortante, para ambos os grupos de amigos tão longe de alcance, enxergar aqueles belos rostos uns dos outros. Já se imaginou numa vida onde não sabe se os seus melhores amigos estão ao menos vivos? Pois os 6 órfãos nem precisaram desse trabalho, já que desde o momento em que se separaram não tinham notícias uns dos outros. E agora, viram que estava tudo aparentemente bem com todos.
"Eu…", pronunciou Violet maravilhada, "Eu não acredito."
"Muito menos eu", completou Klaus com um brilho muito estridente nos seus belos olhos
E novamente, num silêncio, Sunny acordou todos para a vida real: "Eles não ouvem vocês falando baixo. Precisamos subir."
"Sun tem razão", concordou gritando Duncan, o Quagmire minutos mais velho, "Esse foi o apelido que demos a ela durante a nossa viagem". A Baudelaire mais nova mostrou que gostou com um gentil sorriso.
"Ok", Isadora, a trigêmea do meio, chamou a atenção de seus amigos e família, "Precisamos pensar em algo para vocês nos alcançarem."
"Gente", Vio anunciou completamente desanimada, "Não lembram do que aconteceu? Do porque não fomos com eles? A casa iria cair. Se naquele dia não suportou nosso peso, imaginem hoje que estamos em maior número."
"Ela tem razão.", finalmente falou o irmão caçula Quigley, "Se vocês subirem, não sobreviveremos. Como aconteceu com ele". Você, meu caro leitor, deve achar essa frase suspeita, porém os Baudelaire não a ouviram, pois os Quagmire falaram baixo demais. Mas agora, vamos voltar a história.
"Já sei!", comemorou o leitor, "podemos ir furando os balões aos poucos, e vocês cairão lentamente, sem se machucar."
"Mas e se não der certo?", desanimou a inventora, "E se, ao tentar furar um balão o estourarmos e", Violet deu uma curta pausa na sua fala, "e vocês não sobreviverem?"
Os trigêmeos olharam uns para os outros, com uma expressão que já mostrava a resposta. Os Baudelaire não ouviram qual dos três havia dito, mas que a solução era: "É um risco a correr."
Os seis já sabiam o que fazer: o grupo de irmãos no céu ia procurar por utensílios que poderiam furar os balões, e os no chão (no caso areia), teriam de esperar e dar apoio moral.
"Achei um grampo!", gritou Isadora.
"E eu uma faca", alertou Quigley.
"Isa, use o grampo para fazer", Vio parou para pensar na quantidade, "13 furos no balão a sua esquerda. Quando a casa começar a desequilibrar, Quigley vai fazer um pequeno corte no balão a direita dele." Os dois afirmaram com a cabeça, e em segundos a poeta já tinha furado. Demoraram uns minutos - que pareceram horas - para o balão começar a virar para a esquerda. Quando isso aconteceu, Klaus alertou para Quigley fazer a sua parte. Acontece que que o corte foi maior do que era para ser, e então, o automóvel começou a girar mais rapidamente para a direita, o que fez o irmão mais novo cair, pois a casa estava 45° virada.
Duncan, sem hesitar pegou uma tesoura que encontrou e correu para cortar o balão da esquerda. Foi um corte muito brusco o que fez a aeronave dar uma volta de 90° para aquele lado - expressão que aqui significa que o barco estava virado 45° graus para a esquerda.
"Duncan!", gritou Sunny, "Corta outro balão!"
Mesmo com dificuldade para chegar até o outro extremo da casa, Duncan cortou mais ainda um balão e, foi aí, que a casa móvel auto-sustentável a ar quente ficou reta, porém, caindo com alta velocidade. Os sete presentes ficaram assustados com tudo o que estava acontecendo, mas, depois de tanto que passaram, eles sabiam manter a calma nos piores momentos, e foi aí que Sunny aconselhou com que os trigêmeos pulassem. Não estava tão alto assim, os furos estavam aumentando e se caíssem em cima da casa o impacto seria maior e haveria a possibilidade deles inclusive passarem dessa para bem melhor.
Por isso, o irmão mais velho olhou para os outros dois e pulou. Sem nem pensar, Isadora e Quigley seguraram um as mãos uns dos outros e fizeram o mesmo que o jornalista mirim.
O primeiro teve muita sorte e caiu de pé, já seus irmãos, não posso dizer o mesmo. Isa pousou deitada e Quigley em cima do braço (obviamemte havia machucado-o), mas eles nem ligaram. Correram para abraçar os amigos que tanto amavam.
"Baudelaires!", gritaram os Quagmire que foram respondidos por um caloroso abraço coletivo - expressão que aqui significa "abraço de 3 pessoas ou mais muito comum entre bebês, pessoas infantis, ou amigos que não se encontram há um bom tempo.
"Ei!", interrompeu Quigley apontando para a minha sobrinha com aquela cara de besta quando alguém vê um bebê, "Quem é essa?
"Faz parte duma longa história", alertou Klaus, "Mas podemos contar no caminho para… Espera. Para onde vamos mesmo?"
"Bom acho que…", a inventora foi interrompida pelos seus próprios pensamentos, "Oh, não! Hector! Onde está ele?"
"Na verdade", desanimou Isa, "Já não o vemos há um bom tempo. Ele…", Os trigêmeos encheram os olhos de lágrimas, e foi nesse momento que os seis recordaram que suas vidas não eram alegres. Eles sabiam do que seus amigos estavam falando: que o homem mais bondoso que conheceram numa vila do interior havia os deixado.
Eles tiveram um minuto de silêncio em respeito ao amigo, porém foram interrompidos por uma buzina de um táxi. Nele, um homem perguntou:
"Aonde desejam ir, queridos?"
Eles sabiam que tinham que responder nesse momento, afinal quem sabia quando outro táxi passaria novamente? E foi aí, que Violet tomou a frente:
"Vamos às ruínas do antigo 'Hotel Desenlace'".

Depois Daquelas Desventuras em Série - O Terrível Recomeço - Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora