Capítulo 5

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  No caminho para o antigo Hotel Desenlace, os amigos não puderam conversar como queriam. Enquanto os Baudelaire queriam falar sobre quem era a pequena Beatrice, os Quagmire desejavam contar o que aconteceu com Hector e eles no tempo que passaram se se ver, mas não podiam fazer nada disso.
Se você, caro leitor, é um veterano em relação à história desses órfãos sabe duas coisas: uma é que na vida deles só acontecem infortúnios, e a outra, que está absolutamente conectada a primeira, é que tudo o que ocorreu com eles é culpa da CSC (eu sinceramente espero que saiba o que essa sigla significa, senão se livre dessa história de uma vez). E essa segunda coisa explica o motivo deles terem que ficar calados no início da viagem. A Corporação de Salvamento das Chamas é extremamente sigilosa (e disso sei bem) e eles não podiam falar sobre ela no mesmo automóvel de um moço supostamente desconhecido.
Se você costuma pegar táxi, Uber ou parecidos sabe que há alguns motoristas que não param de falar sobre seus filhos, irmãos ou primos de amigos de vizinhos mortos, e foi o que quase aconteceu com os órfãos. A diferença é que o assunto foi "O Hotel Desenlace".
"Queridos", disse o homem que já parecia conhecê-los há um bom tempo ao falar assim, "vocês conhecem a lenda do lugar que vocês vão? Dizem que há uma biblioteca subterrânea que guarda informações de tudo e todos."
Os órfãos congelaram - expressão que aqui significa "ficaram pálidos e sem saber o quê responder" - pois já conheciam essa história e sabiam que era parcialmente real.
"Crianças", chamou o motorista pela segunda vez, "eu perguntei uma coisa. Conhecem a lenda?"
Os amigos se olharam para ver o que responderiam e, para quebrar o gelo, Violet desconversou: "Desculpe pelo silêncio. Meus irmãos e amigos são meio tímidos."
"Não tem problema", disse o homem, "Vamos nos conhecer um pouco melhor. Meu nome é Soram Esquél".
"É um nome…", Sunny pensou duas vezes antes de terminar, "peculiar."
"Esse bebê fala?", surpreendeu-se o chofer.
"Bebê é a sua…", Klaus tapou a boca de Sun (que não parecia gostar do homem), afinal esses não são modos de tratar alguém.
"Ela queria dizer que já não é um bebê", Vio falou olhando com uma cara de desaprovação para a irmã, que estava com uma expressão de aborrecimento.
"Tem razão", se desculpou o condutor, "Mas voltando ao assunto, o que vocês sabem sobre a história do nosso destino?"
Meu caro leitor, se você é um cidadão com um mínimo de ética sabe que mentir não é algo ao menos inteligente, porém em situações em que comida ou organizações secretas estão envolvidas, o melhor é inventar mesmo e dane-se a ética.
Isa respondeu com um certo receio. "Não sabemos muito sobre o hotel. Só conhecemos o fato de que foi queimado a cerca de um ano e de que era muito conhecido. Nada além disso."
"Entendi.", o chofer respondeu com uma certa dúvida.
Por incrível que pareça, o resto da viagem foi um silêncio completo. Enquanto os sete órfãos passavam pela cidade, iam lembrando dos momentos que viveram lá. Quando entraram na Avenida Sombria, foi inevitável lembrar dos horrores que enfrentaram contra Esmé Squalor, a vil ex-namorada do Conde Olaf. Ali perto observaram que o Café Salmonela havia fechado, e que o Veblen Hall, onde ocorreu o terrível leilão, não era mais in e ninguém passava por perto. Mas, felizmente, houve uma certa alegria quando o táxi atrevessou um rio onde os pais dos seis órfãos da primeira geração faziam piqueniques com os filhos. Alguns dos melhores momentos de suas vidas haviam ocorrido ali. Foi ótimo relembrar dos seus pais, e é claro que algumas lágrimas caíram.
Fico muito triste em dizer que após relembrarem momentos álacres, - palavra que aqui significa “felizes e raros nas vidas desses amigos” - mais especialmente os Baudelaire desabaram ao rever a grande mansão que deu início a todas as desventuras. A mansão na qual eles passaram pela primeira vez por momentos extremamente desprezíveis e hostis. A mansão em que vivia um homem de coração assustadoramente amargurado. A mansão do Conde Olaf.
Todos os três se olharam e perceberam que não tinham por que chorar. Aqueles dias já haviam passado e agora iriam viver situações exultantes (pelo menos era o que pensavam). Eles seguraram as mãos uns do outros e sorriram, pois foi uma época que superaram juntos.
Quando chegaram no hotel, os sete se encararam e fizeram um sinal de aprovação, como se tivessem que ir. Se despediram de Soram, abriram a porta do carro e então, saíram. Esse sim, seria o verdadeiro início do novo ciclo da vida deles. Os Baudelaire saíram da cidade ali, e agora estavam de volta no mesmo lugar.
Antes de olhar para o hotel, os amigos seguraram as mãos uns dos outros, com Violet segurando Beatrice no colo. E é aí, que há o cliffhanger.

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⏰ Última atualização: Oct 10, 2019 ⏰

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