Assunto: calma, garoto

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Calma, Paulo. Não se desespere, ainda estou lendo o seu texto e semana que vem te devolvo com as devidas correções. Pelo que percebi, você pôs muito sentimento nas suas palavras. O seu conto soa como um Hamlet moderno-homossexual-depressivo. Gostei do toque sadomasoquista romântico, seria bom pensar em algo mais leve para os quatro primeiros parágrafos. O nosso time editorial é composto de 7 pessoas, duas delas evangélicas... não preciso mais dizer nada, não é?

Desculpe a demora em responder o seu e-mail. Estou atolado de trabalho até as tampas, a Joana não tem me deixando descansar nos últimos sete dias. Estou acordado desde ontem, meu sangue já foi substituído inteiramente por café.

Naquele dia que nos encontramos nos Taverna Beach, estava muito temperamental. Não tenho tido muito tempo para mim, nem para ninguém, isso inclui a minha namorada. Infelizmente, o medo da perda acelera a própria perda... não acredito que duraremos mais de uma semana. Meu trabalho está me fazendo esquecer todas as minhas amizades e companhias. Fazem três semanas que não falo com meus pais... portanto, vou fazer o possível para conseguir estar presente para o nosso encontro. Pretendo te falar do seu texto pessoalmente, levarei impresso com algumas correções anexadas. Não se preocupe, sei o quanto é sentimental e você sabe também o quanto sou direto, farei o meu melhor para tentar não te deixar para baixo, tudo que eu menos quero ver é o seu bom humor sendo afetado pelas minhas indelicadezas.

Sobre o Marcelo Augusto, seu ex namorado, eu achei que você sabia sobre as puladas de cerca dele. Pensei que este fosse o motivo do seu rompimento, mas pelo visto estava enganado. Posso soar um pouco íntimo demais com este meu próximo comentário, entretanto tenho que te dizer que aquele ditado sempre acerta: o corno é sempre o último a saber do chifre! Mas não o julgue, se aconteceu isso é porque não existia mais amor. Lembre-se que o amor nasce nos solos da liberdade, controlar os outros só o diminui, como diz seu odiado escritor Augusto Cury!

Precisamos aprender com os nossos erros, amigo, e o maior deles é não viver enquanto podemos. Naquele dia que nos vimos, depois dos nossos drinks naquele bar da praia, caminhei por quase trinta minutos sozinho pela areia com meus pés tocando o mar. Cheguei à conclusão que preciso aceitar novas perspectivas para a minha vida. Estou lendo um best seller maravilhoso chamado A Sútil Arte de Ligar o Foda-se e aprendi muitas coisas interessantes que tentarei aplicar para a minha vida nos próximos dias, meses e anos.

Preciso ser menos controlador e, logicamente, menos controlado, por isso estou largando algumas das minhas horas semanais na Editora Dias. Não se preocupe, ainda continuarei acompanhando o seu trabalho de perto, foi um dos pedidos que fiz ao Anderson, editor chefe e ele aceitou. Foi engraçado ouvir ele dizer que sou "o único que tem paciência para lidar com a hipersensibilidade do Paulo".

Sobre o nosso encontro, teremos de marcá-lo para hoje, sexta-feira à noite, é o meu único horário livre esta semana, pois na próxima deixarei alguns trabalhos na mão da Joana e terei mais tempo para me dedicar aos seus escritos. Ah, esqueci de avisar, trocamos também alguns dos papéis e a partir de agora eu corrigirei os seus capítulos do seu romance. Vamos tentar concluí-lo daqui para o mês que vem, ok?

Está com saudades de mim?
Vamos matar ela às 7 em ponto.

Não se atrase!
João.

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