Assunto: desabafo

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Joana, lembra quando você começou a me repassar todos os textos do Paulo para mim? Foram a exatos quatro meses atrás, eu vi na caixa de entrada e tive de salvar essa data. Desde que li os primeiros contos de Conflitos Internos da Cabeça de um Homossexual não parava de pensar de pensar nas histórias... Tinha deixado de lado boa parte da minha infância, na verdade, acho que apaguei a minha vida completamente da minha cabeça e muito do que vivi está descrito ali. Eu me encontrei nas suas palavras! Ainda não sei o que sou, mas isso pouco importa agora, o que eu visualizo no momento é quem eu gostaria de ser.

No budismo, aprendemos a nos conectar no tempo presente através da meditação e exercícios de respiração, mas nada tem funcionado para mim. Eu precisava verbalizar isso para alguém, todavia não consegui te contatar, então vou digitar mesmo: estou apaixonado pelo Paulo.

Acredito que vocês ainda não conversaram hoje à noite para que ele diga o que aconteceu no apartamento dele. Simplesmente não consegui me controlar, eu sei que é muito clichê dizer isso mas foi mais forte do que eu! Marquei um encontro com a Mirela para terminar tudo! Estou vivendo uma vida dupla, minha cabeça só consegue pensar naquelas mãos delicadas dele, no seu cheiro e aqueles lábios carnudos... Ele tem aquele ar infantil, parece uma criança adulta! O seu jeito de ser e a sua alegria me cativaram de primeira, desde que nos conhecemos.

Ainda não tinha deixado muitas brechas para que ele percebesse o que sentia... até ontem, quando nos encontramos no sushi bar. Cheguei 20 minutos antes para ensaiar o que eu ia falar e como ia dizer... nada é fácil quando estou perto dele! É como se voltasse a ser um adolescente de 15 anos! Ele tem aquela aura de menino indefeso, como se a vida fosse difícil demais de suportar... o que eu mais queria era protegê-lo, ser o seu guarda-costas sentimental, afaga-lo em meus braços para sempre...

O problema é que quando o sentimento é grande demais, torna-se inútil, porque você não sabe como demonstrar... com medo da outra pessoa não ter capacidade de receber tanto.

Tudo está sendo muito confuso para mim. Antes de conhecê-lo nunca havia me apaixonado por um homem... O que eu faço?!

Quando eu o toco, sinto a sua pele tão macia sob meus dedos que sinto que é como se eu fosse levar um pouco dela se por mais força! Quando estou ao seu lado, preciso chegar mais perto para sentir o cheiro da sua boca. Você já tinha reparado o quanto ele treme quando está nervoso? Eu já, por isso não consegui resistir à tentação de abraçá-lo fortemente ontem... e hoje!

Queria tanto que fosse recíproco... Não queria perder a sua amizade e tenho certeza absoluta que, se revelar o que sinto, ele se afastará de mim.

Foi tão bom entrar no seu mundo hoje! Eu vi as pinturas que ele faz, todas cautelosamente dispostas na parede da sua cozinha... As anotações na geladeira, os pacotes de salgadinho espalhados pelo chão da sala, tudo tão bagunçado como a sua cabeça. Queria tanto fazer parte daquele universo, se ele pelo menos me convidasse a entrar... não quero ser um intruso em sua vida.

Se você fosse eu, como seria e o que faria?
Depois que ler este e-mail, me ligue! Por favor!

Do confuso,
João.

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