Capítulo 17

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Rebeca

— Mais quinze minutos e iremos pousar senhora — O piloto do Helicóptero me avisa, mas eu já conseguia avistar as praias.

Era para eu estar em casa a essa hora, mas com os últimos acontecimentos, sabia que minhas crianças precisavam de mim. Depois do choque inicial eu consegui digerir o que aconteceu, não que eu apoiasse isso, por Deus, eles foram criados como primos e deveriam se ver como tal, mas isso não cabe a mim decidir e julgar. Minha história com o Gabriel também não foi nada fácil, muitos puderam me julgar como a garota problema prestes a corromper o homem de família que ele era, mas nós superamos todos os obstáculos, que não foram poucos. Construirmos nossa família em cima de muito amor, respeito e sacrifício. Então, eu não era a pessoa ideal para julgar ninguém, ainda mais quando existia um bebê a caminho. Um bebê que precisaria de um lar estável.

Desembarquei no Heliporto do Hotel que ficava mais próximo da casa do meu filho e pedi um táxi.

Encontrei o portão apenas encostado, então entrei sorrateiramente para fazer uma surpresa para eles, mas eu não esperava que quem fosse ser surpreendida fosse eu.

Gabriel contava ao nosso filho detalhes de como havia me traído anos atrás quando nos separamos. Lembrar daquela época é terrível para mim. Por isso jamais quis contar as eles, e lá estava meu marido contando todos os detalhes ao nosso filho, me traindo pela segunda vez.

— Tem certeza que não lembra de nada? — Gabe pergunta a ele que tem a decência de parecer envergonhado

— Eu tentei durante todo esse tempo, filho, mas eu não me lembro de nada, apenas daquele beijo com sensação de estar flutuando e de ter acordado com a camisinha no pau — Fecho os olhos para conter as lágrimas.

— Isso é muito estranho, Pai, o jeito que você descreve as coisas... olha eu sei que é apenas uma possibilidade, mas você se lembra de ter tomado algum comprimido que ela te ofereceu? Porque ela já me ofereceu várias vezes — Gabriel fica pensativo e meu coração amolece com a possibilidade dele não ter feito nada.

— Não, tenho certeza que não ingeri nenhum comprimido, como disse eu apenas ingeri álcool, uma quantidade bem grande, nada que eu não tivesse tomado nos outros dias, por isso eu não consigo me conformar com esse apagão de memoria — Gabe se levanta.

— O que aconteceu depois daquela noite? Você disse que ela te ameaçou — Gabriel respira fundo.

— Ela me procurou de novo, disse que queria outra noite comigo, se desculpou pela ameaça, disse que fez por medo de me perder — Ele faz um gesto de que ela é louca — então eu deixei ela sozinha e sai, eu precisava pensar nas medidas que eu teria que tomar para afastar aquela mulher da sua mãe, mas quando voltei descobri que ela tinha quebrado sua sala, pensei que você soubesse de tudo, mas a fofoca que rolava, era que vocês dois estavam saindo e que quando você quis terminar, ela surtou. Eu fiquei ainda pior, porque pensei que talvez você pudesse gostar dela. Como eu ia explicar para o meu filho que trai a mãe dele com sua namorada? — Eu já não eu estava mais aguentando ouvir aquilo tudo calada.

— Ela não era minha namorada, nós saíamos as vezes, mas ela era perturbada mentalmente. Rompi o mais rápido possível. Me lembro que ela foi demitida...

— Sim, eu a chamei em minha sala e a demiti, nem preciso dizer que ela ficou enlouquecida, voltou com as ameaças, mas eu fingi que não me importava com elas. Fiz ela acreditar que fofocas de infidelidade no mundo dos famosos era o mais comum e que até trazia mais publicidade. E bom, que seria minha palavra contra a dela e que se ela me caluniasse eu me certificaria que ela passasse bons anos na cadeia. Ofereci um cheque de vinte mil e a fiz assinar um contrato de confidencialidade. Eu não podia deixar que nada daquilo atingisse sua mãe... sei que depois que ela ficou boa, eu deveria ter contado, mas fui um covarde.

— Sim, você foi — Digo bem alto e Gabriel se levanta assustado.

— Rebeca? O que você está fazendo aqui? — Ele está pálido 

— Vim visitar meu filho, mas acabei sendo surpreendida pelo meu marido infiel — Lágrimas rolam pelo meu rosto.

— Sou culpado Rebeca — Ele fala derrotado — Te trai você quando me deixou — Ele hesita vendo meu estado — Eu realmente não me lembro de nada, te peço perdão amor, eu nunca quis magoar você — Ele chora de um lado e eu choro do outro — Minha mente é uma confusão, estou magoada, destruída, mas minha razão grita "você tinha abandonado ele, tinha ido embora e deixado ele para trás, você não tem direito algum de cobrar fidelidade de um momento que vocês não estavam mais juntos".

— Eu estou me sentindo traída, Gabriel, e nem é tanto pelo fato de você ter estado com outra mulher, porque estávamos separados nessa época, mas por você ter escondido isso de mim por tanto tempo. Eu teria entendido se você tivesse me contado, mas  você escolheu me esconder, quando juramos não ter segredos um com o outro.

— Eu tive medo de te perder, Rebeca. Eu estava desesperado e tudo que me importava naquele momento era te manter bem, queria que voltasse a ficar saudável e quando você ficou, eu não quis correr o risco de te perder, te peço perdão por ser um fraco, mas agora você já sabe.

— Você quebrou a confiança que eu tinha em você, Gabriel — Choro e ele me olha magoado.

— E você me tratou mal por meses, Rebeca, me deixou no escuro sobre sua doença e me abandonou. Você me destruiu, mas eu estive ali por você, eu sempre estarei aqui por você, porque eu te amo pra caralho — Gabriel se aproxima de mim — Eu te amo, Rebeca, eu sei que errei em não ter te contado, mas porra eu nem me lembro o que aconteceu.

— Não aconteceu nada tio — Manuela está atrás de nós acompanhada de uma menina jovem.

— Manuela? — Gabe diz preocupado.

— Fala pra eles Raquel, o que me contou quase agora lá no mercado — A menina nos olha assustada.

— Você é o Gabriel? — Meu marido assente.

— Eu ouvi uma conversa entre a Samara e uma das meninas que trabalham no mercado junto comigo. Elas estavam falando de você... ela disse que te drogou e fez você acreditar que tinha acontecido algo entre vocês e que tirou muito dinheiro seu e que pelo andar da carruagem, iria tirar mais ainda — Ela olha nervosa para mim, me reconhecendo — ah, meu Deus, você é aquela modelo super famosa — Afirmo com um sorriso fraco.

— Obrigada por nos contar, Raquel, darei um jeito para que seja recompensada por isso — Digo e ela sorri.

— Obrigada — Manuela começa acompanhar ela para fora.

— Graças a Deus eu não fiz nada — Meu marido suspira aliviado.

— Fico feliz que tudo esteja esclarecido , Pai, mas acho que você e minha mãe tem muitas coisas para conversar — Olho para Gabriel.

— Vamos voltar para casa, o Helicóptero está a nossa espera no heliporto do Hotel.

— Eu trouxe a Ísis — Ele olha para Manuela que esta voltando para a varanda — Cadê a Isis, Manuela?

— Ela encontrou uma amiga que veio passar o final de semana aqui em Angra, no shopping e me pediu para ficar um pouco aqui na praia com ela. Camila, uma morena baixinha de olhos verdes, sabe quem é? — Assentimos. Ela era uma das amigas mais chegadas da minha filha mais nova.

— Sem problemas — Falo.

— Você se importa de levar sua irmã amanhã, Gabe? Eu e sua mãe temos muito o que conversar — Gabriel me olha e assinto, concordando com ele.

— Sim, nós temos muito o que conversar — Encaro ele de volta.

— Claro que posso levá-lá amanhã.

Nos despedimos da Manu e Gabe nos dá uma carona até o Hotel, mas eu evito conversar com meu marido. Ainda temos muito o que discutir, porque por mais que tenhamos descoberto que ele de fato não me traiu, ele mentiu pra mim por tempo demais.

***

Perdão mesmo pelo atraso, mas o capitulo estava difícil de ser escrito, reescrevi ele várias vezes.

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