Dragão e Coelho

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-Acorda Indra, nós já chegamos.

Era difícil acordar, com alguns dias depois do seu aniversário de 9 anos, ele estava se mudando de casa. Ele tinha passado toda a infância no Japão,  mas agora os anciãos haviam decidido que tudo ia mudar. Apesar de ser repentino e Indra não entender a maior parte das coisas que o cercavam naquela idade, a mão quente do seu pai que afagava seu cabelo entre os chifres era confortante, então mesmo que ele fosse sentir saudade de tudo ao redor do que a casa antiga e o Clã Significavam, ele sabia que ia estar tudo bem.

-Indra, eu não vou falar novamente - disse a mãe do garoto.

Ele abriu os olhos, acima dele, um anúncio iluminado avisava que ele deveria manter seus cintos afivelados. Tudo ao redor de Indra estava escrito na língua universal, ele não gostava daquilo, era bem mais feio do que o Japonês, mas ele não podia reclamar de nada com a mãe por perto.

-Indra, Quero que repita o motivo de estarmos aqui.
-Todos os futuros representantes irão morar em um vilarejo em algum lugar do Brasil para que possam ficar em segurança até a idade de ficarem sozinhos.
-Exatamente, cada um dos doze clãs possui um palácio nesse país, então não se preocupe, caso você esteja em problemas, poderemos lhe trazer para casa.

O pai de Indra se mantinha em silêncio, por ser humano, ele não opinava muito em nenhuma das escolhas que sua esposa fazia.

-Você é um Leviathan, Indra, uma das grandes espécies híbridas, e já que você será o representante, terá que lembrar sempre das regras da espécie.

"1 - Nunca revelar nosso verdadeiro poder
2 - Tome cuidado para não perder o controle
3 - Respeite as tradições e os antigos pactos
4 - Nunca se afaste do seu hipogrifo
5 - Aprenda a manipular energia para que não precise  quebrar a primeira regra"

Indra deve ter repetido isso sem parar desde que tinha uns cinco anos de idade, mesmo com quatro anos tendo se passado, ele ainda não entendia nenhuma das coisas que aquelas regras queriam proteger. Mas ele adorava Karna, então estava sempre com o hipogrifo de qualquer forma.
O garoto pensou que tudo ia dar certo, pois ele tinha seus pais e nenhum dos dois deixaria nada acontecer com ele, até a noite antes de conhecer os outros representantes. Ele andou até a cozinha devagar, atrás dele, o hipogrifo que já era um pouco maior do que ele tentava o levar para trás.
Mas não tinha o que ter medo, era o pai de Indra que estava na cozinha. O homem de um pouco mais de 1,80 e cabelos castanhos cortados perfeitamente ajeitava seus enquanto bebia água em seu copo perfeitamente transparente. Definitivamente era um grande homem.

-Pai, o que está fazendo aqui?
-Meu filho! Venha aqui!

Indra chegou perto do pai  que o pegou pela cintura depois de muitos anos e o sentou na bancada, ele estava se sentindo um bebê novamente, o que o fez sorrir.

-Você é muito bonito, Indra - a voz do pai tremia.
-Obrigado! - Indra falou contente e ergueu os braços.

O pai virou de costas e começou a cortar alguma coisa, ele estava com a faca que ficava na parede da casa, mas ainda estava tudo bem.

-Você é tão bonito, porque tem esses malditos chifres? Vem aqui filho, eu vou fazer você ficar bonito como eu, vou fazer você bonito como um humano.

Indra não tentou fugir, Indra não gritou, Indra não entendeu os gritos da sua mãe quando a luz de toda a mansão se apagou. Indra sentia dor pelo espaço onde a lâmina tinha passado, assim como ele sentia o vento em seu chifre, o que não era comum. Depois disso tudo, ele sentia apenas saudade do pai. Alguns anos depois ele não sentiria mais nada.

Indra tinha um pai e dois chifres num dia, no outro ele não tinha nada, o que para ele significava que o próximo dia seria horrível. Para Leona Richter, por outro lado, o dia seguinte seria a grande chance de se provar.
Ela nunca havia sido uma criança, seus irmãos mais velhos nunca deixaram. Ela não era parecida com nada, seus pais eram loiros dos olhos claros, Todos altos, fortes. Ela era uma garota comum, estatura baixa, cabelos e olhos escuros, nada imponente, mas quando ela nasceu, uma salamandra nasceu junto com ela, o que significava que ela seria a próxima representante.
A família Richter representava o Clã Dragão desde o início, a única coisa que ela tinha que provava quem ela era estava em seu peito, com a cicatriz de queimadura que seu pai também tinha.
Se ela não se provasse digna agora, não teria o respeito de ninguém nunca. Ali, entre os representantes era a hora de provar quem estava no comando da situação.
Como não tinha expectativa sobre nenhum dos outros 11, ela não esperava ver nada além do normal ali. Porém, a primeira pessoa que a encarou foi um garoto franzino de um chifre só, definitivamente abaixo do que ela nem estava esperando. Num balanço, o garoto movia seus pés para frente e para trás, já que não conseguia alcançar o chão.
Ele usava roupas pretas e douradas e tinha apenas um chifre. Pela expressão e quantidade de energia que emanava, ele só podia ser uma pessoa, o que lhe dava uma vantagem enorme.

-Igarashi - ela falou.
-Meu nome É Indra - ele respondeu.
- Eu sou Leona, Leona Richter, o que aconteceu com seu chifre?

Indra não respondeu, o silêncio dele a irritava, ele devia seguir as tradições e se ajoelhar, mostrando que serve a família dela.
Devagar, outras pessoas se juntavam ao redor deles. Uma garota branca e ruiva, um garoto de óculos, um garoto extremamente pálido.
Se o clima continuasse daquela forma, eles nunca poderiam se falar, mas um dos anciãos chegou perto das crianças.

-Sei que estão aqui para aprender a serem um grande representante de seus clãs, por isso é necessário que algum de vocês seja o líder, alguém se dispõe?

Leona levantou a mão automaticamente. Girando a cabeça, ela procurava por outra pessoa com a mão levantada, mas a única era o garoto franzino em frente à ela.
Indra havia movido sua mão automaticamente, depois disso ele ouviu alguém dizer sobre a noite onde tudo ia se resolver já que duas pessoas queriam. Ele desligou, no piloto automático, a próxima coisa que se lembrava era sobre a noite do dia seguinte, sua mãe estava segurando seu ombro, e depois de ter a impressão de que ela havia se curvado a um homem loiro, estava em uma espécie de ringue de frente para a garota que havia falado com ele no dia anterior.
Enquanto ele tentava lembrar o nome dela, foi jogado contra uma das grades do ringue. Ele não tentou revidar ou qualquer coisa do tipo. Enquanto levantava, apenas tentava confirmar que o prendedor de cabelo que ele havia pego com seu pai antes dele ter sido mandado embora.
Enquanto o cometa vermelho passava sobre os dois, Indra perdeu a chance que tinha de sair onde foi jogado.
As semanas depois disso foram difíceis. Indra ficava o tempo inteiro na grama sozinho enquanto todos fingiam que ele não estava ali.
Um dia Indra chorava no chão, a grama verde fazia sua pele coçar, os outros garotos brincavam ou treinavam, aprendiam sobre quem eles eram. O garoto continuava sozinho, afastado dos outros. Até que um deles veio para perto e disse:

-Porque Você está chorando?

Os seis anos que vieram entre esse acontecimento e a morte da mãe de Indra foram bons, ele aprendeu tudo que precisava saber sobre o que significava ser um representante.
Na última noite dos representantes, Indra sentou em um dos balanços do parque, com a idade dele, seus pés tocavam o chão.
Ele sentiu uma presença se aproximar dele, mas não se moveu, não precisava, quem quer que estivesse ali não estava para atacar ele.
A pessoa tinha as costas encostadas nas pernas de Indra.

- Há quanto tempo não nos falamos, Richter?
-Alguns dias, eu acho.
-Nunca vou entender porque fala comigo, Todos os outros fingem que não existo.
-Sonhei com você ontem, Igarashi.
-Profecia?
-Muito provavelmente, você sabe como nossa família é.
-Fale.
-Na noite do cometa vermelho, um de nós dois irá morrer pelas mãos do outro.
-Então acho que iremos terminar uma tradição bem longa, Richter.
-Esperarei ansiosamente pelo nosso fim então, Igarashi.

Indra se levantou.

-Odeio você, Indra.

Ele a olhou e bagunçou o cabelo dela.

-Também te odeio, Leona.

Indra foi embora, Leona não olhou para ele.

"Não vai ser dessa vez que te levarei para o casamento". Indra pensou nisso, Mas não entendeu o motivo de ter pensado.
Ao sair de casa na noite do torneio, ele estava obstinado a não encontrar Leona.
Mas ali estava ele, de frente para ela. Usando tudo de si.
Acima deles, um cometa vermelho cortava o céu.
Eles apenas se olhavam, impedindo algo que eles não sabiam se ia acontecer.
Muitos anos atrás, a família Richter se ligou a Igarashi por uma promessa de um amor que nunca se cumpriu. Nesse momento a promessa ia morrer.
Ele fez uma cara séria.
Escamas de réptil subiam pelos braços de Leona.
Um dragão pousou ao lado dela, um hipogrifo pousou ao lado de Indra.
A quantidade de poder era imensa. Sorrindo, eles atacaram.

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