Deixe a neve cair

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Meus pais acabaram me ligando e informaram que vão dormir na casa de um amigo, pois a neve os pegou de surpresa também. Perguntaram por Hinata e eu disse que ela está dormindo, já que seria impossível ir embora. Eles ficaram de avisar que Hina passará a noite aqui. Melhor assim, não quero que Hiashi-san tente me matar, eu bem o conheço, nunca se sabe.

Desligo o telefone, um pouco mais tranquilo e vou até Hinata. Ela está dormindo em um dos quartos de hóspedes, só vou checar se precisa de algo e depois irei me deitar também. Está bem frio hoje, a melhor coisa a se fazer com o tempo assim é dormir, tô certo.

— Hina. - chamo para saber se ela já adormeceu novamente.

— Naruto, vêm aqui. - ouço-a pedir com a voz cheia de manha.

— O que foi? - pergunto me sentando na beirada da cama.

— Hã... - ela enrola, parece estar com vergonha de dizer.

— Pode falar, hime. - a encorajo.

— Bem, eu estou com um pouco de medo, tive um pesadelo. Pode ficar comigo um pouquinho?

Eu fito seus olhos indecisos, pois algumas vezes eles puxam mais para o prateado e outras, parecem possuir um tom de lilás muito claro. Por isso nunca sei ao certo e os apelidei assim.

— Claro, quer me contar sobre o sonho?

— Acho que não... Naruto. Só fique aqui, comigo, por favor.

Sinto um aperto no peito ao vê-la tão angustiada, porém, não contesto. Se ela quiser falar sobre isso, tudo bem, se não, vou respeitar.

Enquanto isso, a vejo se aconchegar novamente embaixo do edredom grosso. Está realmente muito frio, mas o que posso fazer, não vou deixá-la sozinha.

Cinco minutos depois, estou apenas pensando na vida, em tudo o que vivi nesses dezesseis anos e então ouço a voz da Hinata.

— Está frio. - sinto a mão quentinha dela encostar na minha, completamente gelada e o choque faz meu corpo estremecer. - Você está congelando, Naruto. Entra aqui embaixo. - ela pede, entrelaçando nossos dedos.

— Posso? - indago receoso.

Vejo-a fazer que sim com a cabeça apesar da pouca luz e faço o que Hina pediu. Me enfio embaixo do cobertor quente e sinto um alívio tremendo, realmente eu estava congelando lá fora.

— Me deixe esquentar suas mãos. - Hinata diz, envolvendo meus dedos.

— Tudo bem. - assinto sentindo minha garganta fechar por um momento.

Devido a proximidade dos nossos corpos.

Ela envolve minhas duas mãos nas suas e apesar de as mãos de Hinata serem bem menores do que as minhas, o calor que emana delas conseguem me esquentar bem rápido.

— Estão quentinhas agora. - ela murmura ainda com os olhos fechados.

Então solta minhas mãos, eu quase peço para ela continuar. Mas não o faço.

Por um momento me pergunto se Hina não está sonâmbula de novo.

— Você está acordada mesmo? - reforço só para me certificar.

Uma vez conversei por vários minutos com ela, mas no outro dia Hinata não se lembrava de nada.

— Uhum. - ouço em resposta.

— Então dorme, bebezão. - brinco, sentindo um beliscão no meu braço.

— Aí...

— Não sou bebezão.

Ela está acordada, afinal.

Nos próximos minutos eu só fico esperando o sono chegar, Hinata já deve ter adormecido, pois não falou mais nada depois de brigar comigo.

Me viro de frente para ela, só para observá-la mais um pouco, enquanto vários pensamentos invadem minha mente. Como, por exemplo, o fato de tê-la ao meu lado em todos os momentos da minha vida, desde sempre. Percebo que seus cabelos escuros teimam em cair sobre seu rosto e, por impulso, afasto-os novamente, para poder vê-la melhor.

Hinata dormindo parece mais um anjo. Acho que poderia ficar horas aqui, só observando-a dormir.

Entretanto, o sono me vence e quando dou por mim, também adormeci.

(...)

Quando acordo, com o dia já amanhecendo, percebo que Hinata está completamente enroscada em mim. Eu sorrio ao presenciar a cena, em especial Hinata toda descabelada, parece que ela não teve mais pesadelos, isso é um bom sinal.

Tento me desvencilhar de seus braços, com cuidado para não acordá-la, mas é em vão. Hinata se espreguiça, parecendo uma gatinha manhosa e abre os olhos perolados.

— Naruto, já amanheceu?

— Já sim, dorminhoca. - respondo sorrindo. - Acho melhor eu ir, logo mais meus pais aparecem e se me pegarem aqui. Eu tô frito!

— Me desculpe por isso. - Hinata me encara com os olhos ainda inchados, no entanto, mesmo assim ela consegue ser linda.

— Não tem problema, você dormiu bem? - indago já me levantando.

— Dormi sim, obrigada. - ouço em resposta.

— Isso o que importa, bom dia, Hina.

— Bom dia, Naruto. - ela devolve sorrindo.

Saio do quarto, para dar privacidade à ela e vou ver como a neve está. Então percebo que piorou muito, não é possível nem abrir a porta!

E meus pais? E a escola?

Decido ligar a televisão, para ver o que as notícias dizem e recebo a informação de que a nevasca não vai parar, muito pelo contrário. Ou seja, estamos presos.

Decido comunicar à Hina o que ouvi, mas quando faço menção de subir novamente, a vejo descendo. Ela veste um moletom meu, que fica enorme nela, por sinal, já seus cabelos estão ajeitados em um coque meio bagunçado.

Hinata é uma visão realmente linda.

— Alguma notícia, Naruto? - ela boceja vindo ao meu encontro, depois se ajeita ao meu lado.

— Tenho sim, só que não tão boas. - confesso fitando seus olhos. - Estamos presos aqui e a nevasca não vai passar, seria loucura andar lá fora assim.

— Sério? E a escola? E seus pais?

— Bom, acho que as aulas serão suspensas mais uma vez. Sobre meus pais, eles devem estar bem, só não sei se chegam aqui hoje. - digo coçando a nuca. - Não com tanta neve no caminho.

— E vamos ficar sozinhos? - Hina me olha curiosa.

— É o que parece, está com medo de mim? - brinco e levo um tapa no ombro em resposta.

— Vou ver se tem algo para comer. - Hinata se afasta e eu encaro a silhueta dela mais uma vez.

— Você come demais. - falo só para pirraçar.

— Olha quem fala, Naruto! - ouço-a retrucar inconformada.

Enquanto isso, eu presto atenção nas notícias, sentindo um cheiro muito bom vindo da cozinha, minutos depois, Hinata aparece novamente.

— Vem cá. - ela acena com a mão e eu obedeço.

Percebo que Hinata fez mingau de arroz, enrolou alguns bolinhos pequenos, fritou pequenas fatias de bacon e fez uma sopa de miso wakame.

— Nossa, tudo isso? - exclamo surpreso, mas já ouvindo minha barriga roncar de fome.

Nem espero resposta, só me sento junto dela e começamos a comer.

— Obrigado, Hina. - agradeço sentindo minhas energias voltarem.

— Não foi nada, Naruto. - ela se levanta e nós voltamos para a sala.

Minutos depois, meu pai liga outra vez, pergunta se estamos bem e informa o que eu já sabia. Hinata e eu ficaremos sozinhos aqui, até a neve dar uma trégua pelo menos.

Amor à segunda vistaOnde histórias criam vida. Descubra agora