Ex

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POV Catarina

Esse é um dos piores dias da minha vida. Fui buscar a Gisele na escola depois de dar aula no turno da manhã, e o Júlio já tinha chegado em casa, estava sentado no sofá. É só isso que ele consegue fazer, ficar jogado pela casa, implicar comigo e me trair nas horas vagas.

Eu não falava com ele direito desde que descobri a traição. Esse sim foi o pior dia da minha vida. Cheguei em casa, a Gisele estava na minha mãe, e eu estava cansada. Tinha trabalhado o dia todo, como sempre, mas saí mais cedo do trabalho porque a enxaqueca estava me matando, e me deparei com a cena mais nojenta que já havia visto. O Júlio estava transando com outra mulher. Ela devia ter uns 20 anos no máximo. Loira, magra, no auge da vida. Ele trocou a esposa, mãe da filha dele, que sempre fez tudo, por uma qualquer, uns 15 anos mais jovem que eu. Não consegui nem reagir, só saí do quarto, e ele veio atrás de mim, mandou ela embora. Eu só conseguia sentir nojo. Mandei ele sair da minha casa, mas semanas depois a Gi ainda perguntava dele e ficava cada vez mais triste, então chamei ele de volta. Não teríamos mais nada, ele só estava lá pela nossa filha.

  Ela ama o pai, puxou tudo dele, o jeito, a aparência. Era a única coisa boa desse relacionamento, e o meu bem mais precioso. As vezes até saíamos para almoçar, nós três, mas ele ia embora sozinho, e eu levava a Gisele de carro.

Assim que decidi descansar um pouco, ele começou a implicar.

- Não vai fazer almoço?
- Calma Júlio, eu to cansada.
- Eu também, dei aula assim como você.
- Por que você não vai fazer a comida?
- Ah Catarina, pelo amor.
- Pra outras coisas você serve né?!
- Não começa.
- Não fui eu quem comecei, se você quiser, você faz a merda da sua comida, eu to cansada de você falando merda na minha cabeça.
- EU SOU SEU MARIDO, ENTÃO CALA A BOCA E ME ESCUTA! - Júlio começou a gritar.
- Você é a merda do meu ex-marido, eu não tenho mais nada com você, me esquece Júlio!
- EX-MARIDO O CARALHO! - Disse ele, jogando o controle remoto no chão e levantando do sofá - A GENTE AINDA TÁ CASADO, VOCÊ É MINHA, E SE EU SOUBER QUE VOCÊ TÁ COM ALGUÉM POR AÍ...
- Pai?

Gisele tinha saído do quarto por causa da gritaria. Rapidamente levantei.

- Oi filha, ta tudo bem, mamãe ta aqui.
- To com fome.
- Ta bom amor, já vou fazer almoço pra gente, agora volta lá pro seu quarto que eu já te chamo.

Beijei a testa dela, e esperei até ela ir pro quarto e fechar a porta.

- Você só tá aqui por causa da nossa filha, porque infelizmente, eu querendo ou não, você ainda é pai dela, e ela ainda te ama. Mas vai ser ela crescer mais um pouco e entender que o pai dela é um merda, que você vai embora, e eu nunca mais quero te ver.

Ele olhou pra mim com a cara de quem queria voar pra cima, mas pelo jeito se conteve, porque pegou o controle do chão e se sentou. Eu, por minha vez, fui fazer a comida.

Era frustante ver ele comendo a comida que eu tinha feito, mas minha filha queria o pai, e eu precisava fazer esse esforço.

-//-

O resto do dia não falei com o Júlio, fiquei com a Gi, brincando, conversando, vendo TV. Mas quando eu estava saindo pro turno da noite, ele voltou a implicar.

- Você não dá aula na quinta.
- Eu tô fazendo módulo, Júlio, fiquei 1 semana sem ir porque tava doente.
- E precisa ser de noite?
- Eu prefiro. E o que você tem a ver com isso?
- Você tá me traindo.
- Não, eu não to, até porque a gente não tem nada, e mesmo que eu não estivesse indo trabalhar, você não tem o direito de falar nada da minha vida, agora vê se cuida da Gisele, que eu vou ir.
- Você que não chegue fora do horário...
- Júlio, sinceramente...

Bati a porta com força, entrei no carro, e fui dar aula.

Cheguei na escola e entrei na sala dos professores. Era divertido conversar com os meus colegas antes de ir para as salas. O sino tocou, e estava na hora de trabalhar.

-//-

Logo que saí da sala, vi a Clara vindo em minha direção. Eu gosto dela, é uma daquelas alunas que a gente se importa. Percebi que ela anda meio cabisbaixa ultimamente, inclusive tenho que perguntar sobre isso pra ela.

- Oi!
- Oi Clara, tudo bem?
- Tudo sim, e você?
- Ah, sei lá, to cansada.
- Sério? Por que?
- Dia cansativo, problemas lá em casa...

E com problemas, quero dizer Júlio.

- Sério? Oh meu bem, se precisar eu to aqui.
- Ta bom Clara, obrigada!

Ela é tão bonita, parece uma índia, morena, cabelos com ondas, seu olho diminui quando ela sorri, me faz feliz quando ta perto. Enquanto penso tudo isso, ela me abraça, e eu me sinto reconfortada. Eu poderia ficar aqui o resto do dia.

Assim que ela desfaz o abraço, sorri pra mim, e eu faço o mesmo, depois viro e me dirijo para a sala dos professores. Isso com certeza fez meu dia mais feliz.

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