Não vou ficar na vontade

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  Acordei com o despertador do celular de Catarina tocando. Gisele estava de bruços jogada no meio da cama, Catarina quase caindo pela beirada e eu estava espremida no canto da parede.

- Merda de despertador - Murmurou Catarina.
- Tem que ir trabalhar, né?
- Não quero ir...
- Amor - Sussurrei levantando um pouco a cabeça - As vezes eu acho que você é uma adolescente e eu uma adulta que não deixa você fazer coisas irresponsáveis.

  Ouvi uma risada abafada, provavelmente por ela estar se lamentando com a cara enfiada ao travesseiro de ter que levantar da cama. Catarina sentou-se no colchão, seu cabelo estava totalmente bagunçado e a luz que entrava pelas frestas da janela do quarto refletiam em pequenas partes de seu rosto. Seus olhos cerrados sensíveis à luz  querendo fechar-se no intuito de voltar a dormir estavam me encantando mais do que qualquer roupa chique, mais do que qualquer maquiagem profissional ou penteado feito em cabeleireiro. Seu estado natural me encantava inteiramente. Ela levantou-se e abriu meu guarda-roupa como se fosse dela, o que não me incomodou.

- Que roupa eu posso usar daqui?
- Qualquer uma, acende a luz pra ver melhor.
- Não vou nem conseguir abrir o olho.
- Vai acostumar já já.

  Ela caminhou até o interruptor e acendeu a luz colocando a mão sob os olhos. Retornou até o guarda-roupa aberto e pegou uma blusa xadrez vermelha e preta, abriu uma das gavetas para pegar uma camiseta preta com um desenho do Mario e uma calça jeans com alguns rasgados no joelho.

- Você vai ficar linda desse jeito.
- Vou parecer uma menina de 14 anos.
- Vai ficar gostosa, vai todo mundo olhar pra você e querer te pegar, vai vendo.
- E você?
- Eu vou estar te esperando pra te pegar ao invés de ficar só na vontade - Disse olhando provocadoramente para ela, que correspondeu da mesma maneira.
- Deixa minha filha escutar isso... O Júlio me mata.

  Olhei para a garota a fim de me certificar que ela realmente estava dormindo, o que felizmente se comprovou ao ver que ela não teve a mínima reação ao meu toque tirando o cabelo de seu rosto.

  Catarina se trocou e, como sempre, ela estava linda. Ao terminar, ela se virou abruptamente e olhou fixamente em meus olhos.

- Pelo amor de Deus, me fala que você calça 36.
- Calço 37.

  Ela suspirou de alívio.

- Ai, só um número a mais, vou pegar um tênis emprestado, tá?
- A casa é sua, fica na sapateira branca, no primeiro quartinho do corredor.

Alguns minutos depois, levantei-me para certificar que estava tudo certo. Catarina estava escovando os dentes com a minha escova e com o cabelo aparentemente já penteado.

- Você disse que a casa era minha - Disse ela cuspindo a pasta de dente na pia.
- Mas é, relaxa - Coloquei seu cabelo para trás e beijei sua bochecha.
- Tomei um café que tava dentro do microondas também, tem problema?
- Não amor - Dei risada - Relaxa!

  Levantei a tampa da privada e me sentei para fazer meu xixi matinal.

  - Fica com a Gi pra mim? Busco ela assim que sair da aula.
- Volta pra cá depois da aula.
- O Júlio dá aula hoje de tarde, tenho que almoçar com ele e a Gisele. Eu busco ela aqui e quando ele sair eu volto.
- E a Gi?
- Ela tem aula.

  Assenti com a cabeça enquanto me limpava e levantava da privada já com minha necessidade realizada. Lavei a mão e peguei a escova que Catarina havia acabado de lavar para escovar os meus dentes.
  Assim que terminei, o celular de Catarina apitou em cima da prateleira em frente ao espelho. Ela pegou o celular rapidamente, aparentemente tensa, mas assim que visualizou a mensagem sua feição voltou ao normal.

- Que foi? - Perguntei indo para trás dela e mexendo em seus cabelos.
- Minha mãe perguntando se eu quero que ela fique com a Gi. Pensei que fosse o Júlio perguntando onde eu tô, já ia ter que arrumar uma desculpa. Quer que a Gi fique lá?
- Não, né. Eu fico com ela aqui. - Peguei uma piranha em uma das gavetas em baixo da pia enquanto segurava duas mexinhas de cada lado de seu cabelo. Prendi-as atrás de sua cabeça de modo que elas se encontrassem e se tornassem uma só - Pronto, agora "cê" tá perfeita.

  Catarina se virou e sorriu para mim, me puxando pela cintura até que meu corpo encostasse no dela e encostando sua boca à minha.

- Tenho que ir antes que eu me atrase.
- Vai lá. Até mais tarde.

  Enquanto ela saía pela porta eu segurei em sua mão, o que a fez olhar novamente para mim. Me aproximei novamente e beijei-a mais uma vez, sendo retribuída com um sorriso no fim do beijo.

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